quinta-feira, 1 de julho de 2010

De quem é a programação da TV?

Ao longo dos últimos anos, somos testemunhas de uma silenciosa revolução que vai aos poucos transformando nossas vidas, de forma lenta e discreta. Essa mudança trará novos comportamentos por parte da nova geração. Estou falando da TV e de seu modelo de negócios. Cada dia mais, a televisão, mídia soberana na segunda metade do último século, vai convergindo com a internet. Essa união dá mostras de que a TV já não é mais dona de sua programação.

Como exemplo para essa pequena tese, uso o tema de meu primeiro livro escrito, em 2005, sobre o fenômeno Chaves – sim, aquele mesmo, do SBT. Chaves nasceu para a televisão. Roberto Gómez Bolaños, o criador e criatura por trás das séries e ator do próprio menino do barril, criou os personagens que estão ali na vila, os enredos, histórias e situações, todas voltadas para a mídia mais popular do século XX. Quando os principais programas de Chespirito (famosa alcunha de Bolaños em terras mexicanas) foram criados, no início da década de 1970, a televisão vivia o início de seu apogeu. É só contextualizar um pouco: alguns anos antes, em 1969, o homem havia pousado na Lua, em um evento televisionado ao vivo; a Copa de 70, que foi justamente no México, foi o primeiro grande evento esportivo transmitido ao vivo para dezenas de países. Dois anos antes, os jogos olímpicos que ocorreram na Cidade do México também mostraram a importância da televisão como o modelo de negócios do futuro. E três anos depois, em 1973, Elvis Presley realizou o primeiro show ao vivo, via satélite, para mais de 40 países.

Ou seja: a TV estava, discretamente, mudando a forma como as pessoas consumiam entretenimento.

O tempo passou. Hoje, a televisão ainda é vital e um dos eletrodomésticos mais importantes em uma residência. Com a onda do HD, uma nova leva de TVs chegou às lojas e as pessoas começaram a trocar seus aparelhos televisivos por modelos mais finos e melhores. Mas toda a tecnologia de transmissão dos programas não muda o fato de que a TV já não é dominante dentro de casa. Entre os jovens, especialmente.

Pesquisas apontam que os jovens já não têm na TV sua principal fonte de entretenimento. Esse papel hoje é ocupado pelo computador. E, em muito pouco tempo, por tablets e smartphones.

E onde o Chaves entra nisso?

Chaves, como muitos outras atrações da TV, já não depende da TV para sobreviver. Aquele pânico que todo fã de Chaves e Chapolin tem, de que seus programas saiam do ar de um dia pro outro, ainda existirá. Mas vai se esvaindo. Chaves embarcou na era da internet. Isso o levou a um panteão maior, quase eterno. Hoje, os fãs possuem os episódios completos, em alta resolução, salvo em seus computadores. São petabytes forrados de imagens produzidas em uma época onde a internet ainda era um vago projeto entre cientistas.

Nunca se sabe o que irá acontecer quando Silvio Santos já não estiver mais entre nós. O medo maior é que uma revitalização do SBT tire os programas de Bolaños do ar. Mas Chaves, Quico, Seu Madruga & Cia. já não se importam. Do alto dos quase 30 anos no ar apenas no Brasil, eles já deixaram a TV há muito tempo. E estão muito bem alinhados para a comunicação do futuro.

Luís Joly é um dos autores do livro “Chaves: Foi Sem Querer Querendo?”, um dos mais vendidos no distante ano de 2005. Hoje, trabalha na assessoria de comunicação da Nokia e, nas horas vagas, escreve mais livros. A obra do Chaves está disponível em eBook: www.gatosabido.com.br.

Um comentário:

  1. Muito bom o blog da LVBA! Já li muito sobre a agência e sou fã!
    Parabéns!

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