quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Os dois lados de Buenos Aires

Nos últimos tempos o principal roteiro de férias dos brasileiros tem sido, sem dúvida, Buenos Aires. Com o Real bastante valorizado em relação ao Peso, os brasileiros literalmente invadiram a capital argentina para aproveitar os prazeres que ela oferece: bons vinhos, carne deliciosa, passeios agradáveis e um pouquinho do charme tipicamente europeu. E foi esse o destino escolhido por mim para passar as minhas recentes, e já saudosas, férias.

Foram seis dias em Buenos Aires, ao lado de ótimas companhias. Período em que pude estar em contato com o que cidade oferece de bom, e também de ruim.

Com arquitetura belíssima, BsAs impressiona quando se caminha a pé, de táxi ou de ônibus turístico. Angariamos boas dicas e recomendações de passeios de amigos, entre elas o Filo, um pizza bar com ambiente bastante descontraído, e o Gran Bar Danzon, um restaurante, bar e lounge bem aconchegante.

Mas sempre vale a pena fazer os tradicionais: Casa Rosada, Praça de Maio, Puerto Madero, Recoleta (onde está o túmulo de Evita Perón), os três bairros de Palermo, Caminito, Feirinha de San Telmo (acontece todos os domingos), Calle Florida, Avenida Santa Fé e por aí vai...

Trouxe da cidade boas recordações. Mas não posso deixar de dizer que notei um quê de decadência na cidade. Como toda cidade grande, Buenos Aires sofre com a degradação. Difícil não se entristecer ao ver monumentos históricos depredados pela população (pintados, pichados ou com adesivos colados), a sujeira e o mau cheiro no metrô e nas ruas também incomodam. Se, por um lado, a cidade proporciona inesquecíveis paisagens, por outro, choca em alguns momentos.

Já no meu primeiro dia em Buenos Aires, um descuido e, pronto, fiquei sem celular – furtado dentro do metrô. Foram pelo menos quatro as vezes em que algum hermano pediu que tomássemos cuidado com a bolsa, a carteira ou a câmera. Claro que em São Paulo não seria diferente, mas confesso que fiquei assustada.

Passado o susto, consegui aproveitar intensamente a viagem que, das andanças pela cidade às comidas saborosas e aos divinos e baratos vinhos, foi deliciosa. E não posso deixar de compartilhar talvez a melhor dica para se fazer o que cidade oferece de melhor: comer bem. O restaurante Las Cholas, no bairro de Las Cañitas, reserva a mais saborosa e macia carne que comi em BsAs, sem contar o bom preço e a generosa porção. Se for a Buenos Aires, não deixe de passar por lá. Esta foi a melhor sugestão, ever, dada pela queridíssima Rubia, uma ex-lvbana que se mudou de mala e cuia para terras portenhas.

E se, assim como eu, você adora vinhos, aproveite para degustá-los durante sua estada pela cidade. Os preços são ótimos, assim como a qualidade. A minha sugestão é o Saint Felicien, Cabernet Sauvignon, Reserva. De todos o que tomei, considero este o mais gostoso.

Para finalizar, se tiver um tempo livre dê um pulinho na cidade de Colonia Del Sacramento, no Uruguai. A viagem de barco dura apenas uma hora e você vai encontrar um lugar incrível, repleto de ruínas e reconhecido como patrimônio histórico pela Unesco. Mas, #ficadica, pegue o primeiro barco e volte depois do almoço, pois a cidade oferece pouquíssimas coisas para fazer. Eu e meu companheiro de viagem, Paco, ficamos entediados e frustrados por termos passado um dia inteiro de ociosidade por lá.

Ressalvas feitas, dicas dadas e histórias contadas, não deixe de aproveitar a época das “vacas gordas” para nós, brasileiros, e arriscar um belo passeio por Buenos Aires.

Lilian Ambar acaba de voltar de Buenos Aires, onde passou parte das férias que acabaram recentemente. Como boa observadora, captou os principais detalhes da cidade. E, apaixonada por vinhos, aproveitou para provar as mais variadas uvas, produtores e safras. Pretende voltar a BsAs, mas na próxima vez terá mais cuidado ao andar pelas ruas e, principalmente, no metrô.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Eu, Forrest Gump

Bem, eu moro em São Caetano do Sul desde que nasci. Sim, tenho planos de sair de lá. Não, isso não vai acontecer tão rápido assim. E não, não tem muita coisa pra fazer por lá. Fãs de São Caetano, admitam, atualmente o point mais popular que vende açaí simplesmente não funciona nas noites de sextas-feiras.

A questão é que meus três primeiros empregos foram por lá, nesse pacato lugar – quer dizer, eu poderia ir à pé, se tivesse paciência para tanto. (Eu tinha.) Mas logo no segundo ano da faculdade comuniquei ao pessoal:

- Mãe, vó, arrumei um trabalho em Moema.

- Meeeu Deeus do céu, é longe! Você vai ter que tomar não sei quantos ônibus e... – bom, imaginem que essa fala se estendeu por minutos que eu jamais serei capaz de mensurar. Mas Moema, lá fui eu! (E eram necessários dois ônibus e uma hora e meia, pra quem ficou curioso.)

Meses depois, fui para o Itaim Bibi. “Mariaaana! Você não sossega?!”. Bom, a resposta foi não, não sossego. Agora o percurso exigia ônibus, metrô e depois ônibus de novo, o que somava duas horas de viagem. Ir para a praia leva menos tempo que isso – e não vou nem mencionar a situação da minha volta para a faculdade no fim do dia porque esse é um período da minha vida que eu prefiro esquecer. *Essa é a deixa para quem quer se comover e compartilhar um depoimento*

E, quase um ano depois, adivinhem? Fui para o Butantã. Sim, cheguei na LVBA! As pessoas acharam que eu tinha perdido o pouco juízo que me restava. “Você quer passar quantas horas por dia no metrô, menina?! Você não consegue nem abrir um livro sem passar mal no ônibus!”. Sim, sim, sim, verdade! Mas, para a minha enorme surpresa, eu levo apenas cinquenta minutos da minha casa até a Alvarenga 806. Dá vontade de abraçar quem trouxe o metrô até aqui mas uh, políticos, melhor não abraçar.

O legal é que essas aventuras por agências de comunicação nessa São-Paulo-de-meu-Deus não renderam apenas experiências profissionais – mas também um conhecimento razoável (e ainda pequeno) das linhas de trem, metrô e ônibus dessa cidade... E algumas histórias pra contar!

Outro dia, estava eu com um exemplar mau humor matinal num trem quando um velhinho de boina entra no vagão e começa a encarar a moça que estava na minha frente:

- Moça, me dá um sorriso? - e sorri pra ela. Não vi a expressão no rosto dela, claro, mas posso imaginar aquela cara tipicamente paulistana de “oh, não! Um estranho falando comigo! Deve ser louco ou quer me assaltar”. Mas ele insiste:

- Vamos, não vai doer! - e, com a ponta dos dedos, puxa os cantos dos próprios lábios para cima, como que encorajando a assustada pessoa metropolitana. Eu não resisti e, sem ter nada a ver com a história, já estava sorrindo antes mesmo dessa segunda investida do velhinho. Mas já começava a ficar tensa com a reação da moça. O que ela iria fazer? Foi então que...

- Iiiisso! Viu, garota, um sorriso pode salvar seu dia!

- Obrigada! - a moça à minha frente, embora eu não pudesse ver, obviamente sorria e se mexia como que aliviada, livre da fobia de estranhos que é natural a quem vive por muito tempo na selva de pedra.

O velhinho desceu na próxima estação, se despedindo da tal moça com uma reverência com sua boininha cinza.

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Mariana Lins não gosta de dissertar sobre a moral das histórias que conta. Faz parte do time de formandos enlouquecidos com TCC no quadro da LVBA e também do time de adoradores (sic) do transporte público – mas acredita em soluções simples para problemas compl... que problemas?

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Já ouviu falar de Esquel?

Até meados deste ano, honestamente, eu nem sequer saberia dizer sua localização. Mas, como muitos outros brasileiros, chilenos, argentinos e uruguaios, meu destino turístico deste ano mudou de rumo em função do vulcão Puyehue. O primeiro pensamento foi: que azar! Será que depois de 50 anos quieto, tinha que entrar em erupção agora?

O estresse de buscar alternativas, mudanças infinitas de voos, uma vez que nosso roteiro inicial – fazer a nova travessia dos Lagos Andinos, via Pucón até San Martin de Los Andes - ficou impossível com todos os aeroportos fechados, nada foi se comparado àqueles que de fato estavam e estão vivenciando as consequências do vulcão.

Finalmente, um dia antes de embarcarmos, surgiu uma rota alternativa: São Paulo – Buenos Aires – Esquel. Vamos ou não? Minha irmã e eu pesquisamos durante meia hora e decidimos arriscar e tentar algo novo, ou melhor, não planejado. A começar pela hospedagem – liguei para três lugares e em cinco minutos optamos pela Hosteria El Coirón, que recomendo.

E qual não foi nossa grata surpresa com a cidade e seus habitantes! Esquel está localizada no noroeste da província de Chubut, na Patagônia Argentina, em Futaleufú. É a maior e mais importante cidade da região, e suas principais atrações turísticas são o Parque Nacional Los Alerces e a estação de esqui La Hoya. Lindos!

Sua fundação está diretamente ligada à chegada dos galeses a Chubut que – após muitas tentativas de outros colonizadores – sobreviveram às condições locais e iniciaram a povoação perto dali, 25 Km ao sul de Esquel, na cidade de Trevelin (seu nome em galês significa “povo do moinho”, em função do moinho Los Andes, que lá existia).

Em Trevelin, por sinal, não deixe de tomar um chá na Casa de Té Nain Maggi, a mais tradicional do lugarejo, onde provará a famosa Torta Negra, receita criada pelas galesas - incluindo a própria Nain Maggi - que, durante o período de imigração e diante da falta de alimentos, criaram essa maravilha com poucos ingredientes como nozes, frutas secas e licor. O resultado dos tempos difícies é uma verdadeira iguaria, que só de lembrar dá água na boca!

Mas voltando a Esquel, a cidade conta com muitos lagos glaciais existentes em suas imediações, sendo o mais próximo e famoso o lago La Zeta. É também uma ótima opção no verão, pois oferece muitas atrações de turismo de aventura como trekking, cavalgadas, mountain bike, rapel, os exóticos e coloridos túneis de gelo (que se formam no verão), caiaques e a escalada na Pedra Parada. Uma boa opção é conhecer os pacotes das agências locais, como os da Limits Adventure.

Em relação à culinária, Esquel oferece diferentes opções para todos os gostos. Vale a pena desfrutar das trutas e carnes do Las Cumbres Blancas, La Montana, La Barra e Las Bayas e do simpático e delicoso restaurante italiano Don Chiquino. E para comprar alguns “regalos”, além de chás, vinhos orgânicos e diversos produtos regionais, visite a “Mil Sabores” (na Rivadavia, 1054). Não vai querer sair desta tão simpática loja, tanto quanto terá que provar os sorvetes regionais da região, como o de frutas do bosque. Viajar também é um festival de sabores. E se for como eu, um dos primeiros lugares que desejará conhecer é um supermercado para comprar queijos, vinhos e defumados!

Mas, o que mais chamou a nossa atenção, ou mellhor, a atenção dos esquelenses, foi o pequeno grupo de brasileiros que andava prá lá e pra cá, perguntando sobre tudo e que havia optado por permanecer em Esquel. Não sabiam o que fazer por nós! Tivemos, inclusive, o prazer de almoçar em uma cabana típica dos guardas florestais dentro do Parque Nacional Los Alerces. Uma experiência única, que jamais vamos esquecer.

E também recordar das histórias e ensinamentos de pessoas queridas de Esquel e região, que estabeleceram um código de ética para não promover o turismo em suas cidades, e ajudarem na recuperação de Bariloche, que vivia novamente uma calamidade pública e que ainda levará muito tempo para se recuperar. Esquel, em 2008, passou por situação idêntica devido à erupção do também vulcão chileno Chaitén.

E no fim, nós só mudamos um pouco a rota e conhecemos um lugar diferente com pessoas muito amáveis! Se tiver uma oportunidade, não deixe de conhecer Esquel.

Valéria Allegrini já está planejando suas próximas viagens e ainda quer conhecer muitas regiões da Cordilheira, mesmo com a ameaça iminente de novas erupções vulcânicas. Mas já aprendeu a consultar com frequência o Sernageomin - El Servicio Nacional de Geología y Minería.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A felicidade de ser “Mãe”drinha

Desde sempre gosto de criança. Na verdade tenho uma teoria de que filho dos outros é melhor que filho da gente, já que é possível devolvê-lo para os pais quando começam a chorar ou quando você está com a paciência esgotada. Sei que esta teoria será quebrada quando eu tiver um filho, mas até lá...

Minha paixão por criança me rendeu dois filhos postiços, ou afilhados. E eles são tudo na minha vida! O melhor de ser madrinha é que eu pude entender mais de perto o que é a tal felicidade de ser mãe, já que, de uma forma ou de outra, eles são meus filhos.

A primeira alegria foi a chegada do Leonardo em 2006. Ainda na barriga da mãe, ele pulava feito cabrito quando ouvia a minha voz ou quando eu cutucava a pança da minha comadre. Eu falava para ele: “moleque, a prima Dani chegou”. E ele começava a se mexer! Nesta época eu nem sonhava em ser madrinha do Léleo. O presente me foi dado um pouco antes de ele nascer, pois a mãe e o pai dele entenderam que o moleque havia escolhido a própria madrinha.

E foi com o Leonardo que aprendi o que é ser madrinha. Não é fácil exercer este papel e também não é fácil aceitá-lo, já que a responsabilidade é tremenda: ser madrinha é ser mãe, é assumir responsabilidades com relação à vida e a segurança de uma criança, que nem foi você quem gerou. Com o Leonardo aprendi a sentir coisas que só as mães sentem: um amor infindável misturado com pitadas de medo, responsabilidade, insegurança, felicidade e vontade de ser eterno, para poder acompanhar tudo o que acontecerá na vida deste serzinho sem perder nadinha.

Além de todas as responsabilidades que envolvem o papel de ser madrinha, existem também muitas coisas boas, como a cumplicidade, o companheirismo, as descobertas e a possibilidade de fazermos muitas coisas juntos. Minha comadre sempre me deu a liberdade de agir com o Leonardo da forma como eu quisesse. Diante desse passe livre, instituí uma única regra na minha relação com o meu “porqueira”: ele não pode me chamar de qualquer outra forma que não madrinha. E ele obedece. É como se ele me chamasse de mãe. E isso enche meu coração de alegria.

Foi comigo que o meu filho torto comeu chocolate pela primeira vez. Lembro da carinha dele até hoje; sua face apresentava traços de repulsa – gerados pela textura do chocolate – e de realização, pois estava sentindo um gosto que nunca havia sentido antes. O primeiro kit de pintura com o dedo foi um presente da madrinha: serviu para pintar um carrinho de madeira, o chão da sala, a parede do quarto e também para saber que gosto tinha. Sorte que o guache era atóxico! O primeiro dedo na cobertura do bolo foi uma cena incrível. Ele gostou tanto de fazer, que nunca mais abandonou a prática e sempre se refere a mim quando meleca o dedo em algum bolo. As primeiras massinhas de modelar, os primeiros desenhos de colorir, os primeiros segredos de amor... Uma infinidade de “primeiras vezes” marcam nossa relação.

Toda vez que penso em ter um filho, peço a Deus que ele seja minimamente parecido com o Leonardo, e que nossa relação seja permeada pelo amor e pela cumplicidade que existe entre nós. Ah, vale ressaltar que o Leléo me ensinará tudo que preciso saber sobre como cuidar de uma criança, já que ele possuí larga experiência no ramo por conta do seu irmão mais novo.
Deixando o meu primeiro filho de lado, só um pouco, mais recentemente tive novamente a alegria de me sentir “mãe”. O presente veio da minha amiga de infância e se chama Henrique. Com ele ainda não tive a chance de realizar algumas primeiras coisas, pois faz tempo que não encontro meu reizinho. Culpa toda minha, mas em breve vou me desculpar com ele e começar a fazer tudo aquilo a que temos direito!

Apesar de não serem meus filhos de sangue, estes dois pequenos seres mudaram a minha vida, a minha forma de amar e trouxeram para os meus dias muita alegria e vontade de continuar a seguir em frente. Não gerei nenhum dos dois, mas o amor que sinto por eles é incondicional e me deixa provar um pouquinho do gosto bom de ser mãe.


Dani Mesquita é apaixonada por seus afilhados e se sente mãe de cada um deles. Enquanto não gera seus filhos, curte os rebentos alheios e aproveita para devolvê-los aos pais, já que não poderá fazer isso com os dela.