quarta-feira, 24 de junho de 2009

(Alguém) Salve o Tricolor

Quando você olha os fatos sem o coração, é fácil perceber como empresas e pessoas cometem erros ao serem pressionadas. São momentos em que a comunicação é o que mais falta. Nessa semana, por exemplo, só se falou na demissão de Muricy. Sou um são-paulino bem longe de fanático. Tive meus momentos, claro, mas a maioria deles vêm de um passado nem tão recente. Na era pós-Telê Santana, sofria muito com as consecutivas derrotas do clube. Mas a maturidade foi chegando e, com ela, a percepção de o seu time de coração vencer ou perder não muda em (quase) nada a sua vida. São apenas doses efêmeras de alegria ou tristeza.

Hoje, pouco me envolvo em questões coletivas de futebol - não sei a escalação completa dos times e muitas vezes abro mão de assistir as partidas na TV em troca de encontro com os amigos ou até mesmo uma pestana vespertina.

Mas confesso que aceitei com gosto o pedido de escrever neste 806 sobre a saída do Muricy Ramalho do São Paulo. Sim, porque essa decisão do clube me deixou quase indignado. Com a saída do Muricy, o São Paulo se iguala aos clubes rivais que ele tanto critica pela falta de planejamento e organização. E perde muitos pontos com sua torcida.

Muricy Ramalho era a cara do São Paulo. Um técnico são-paulino de coração, rabugento e meio ranzinza, mas extremamente eficiente e carismático. Tudo isso não seria suficiente para segurá-lo, claro. Sem problemas, já que o cara conseguiu o feito de ser tri-campeão nacional consecutivo. Algo que só vemos com aqueles times que marcam uma geração.

Em sua obsessiva busca pela Libertadores, o São Paulo abre mão do provável melhor técnico do país hoje. Sem perceber que os problemas no time são estruturais, estão no elenco. Agora, Muricy está à disposição da concorrência, e eu não vou me surpreender se ele não acabar parando em um rival direto do tricolor.

O que mais revolta em tudo isso é ver a forma como o São Paulo atuou. Um dos meus maiores orgulhos em ser são-paulino sempre foi ver que o meu clube sabe se organizar, se planejar e cuidar dos seus. Não precisamos fazer parcerias duvidosas (ou não). Temos uma história de muito trabalho. Temos o maior estádio da cidade. Um centro de treinamento que é referência. Uma área social muito bem cuidada. Programa para revelar novos talentos. Jogadores revelados pelo São Paulo correm o mundo.

Porém, na hora em que a crise aperta (e ela sempre aperta), o time se portou justamente como qualquer outro clube. Em dúvida, demita o técnico. É mais fácil assim. Vamos ignorar tudo que Muricy dedicou ao time e preferir um desconhecido da maioria que, parece, tem ligações políticas com a CBF e a irritante questão do Morumbi e a Copa-14.

Não deixarei de torcer pelo São Paulo, claro. Mas minha torcida, que já vinha caindo progressivamente desde os anos 1990, segue em franca decadência. E a saída do Muricy apenas acelerou o processo.

Luís Joly é assessor de imprensa da Nokia, aqui na LVBA. Ele também é escritor (conhece o livro do Chaves?), músico (procura banda de classic rock) e adora toda a história da criação do Tio Patinhas. Olha o blog dele: http://jacksenna.blogspot.com/

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Somos iluminados?

Quem disse que boa formação cultural e intelectual, domínio da linguagem, compromisso com a informação e curiosidade são atributos exclusivos de jornalistas diplomados em jornalismo? Não são essas, além de algumas habilidades específicas, as exigências para o exercício da profissão? Ou será que nós, jornalistas, somos iluminados e, por isso, predestinados a possuirmos tais características?

Não discordo que a boa formação universitária é importante para qualificar um profissional de comunicação. Mas tenho certeza que os atributos citados na primeira pergunta deste texto não são conquistados durante quatro anos em salas de aula. A bagagem cultural e o respaldo intelectual são adquiridos ao longo da vida, seja ela acadêmica ou não. E, acredite, são esses os quesitos imprescindíveis, ao meu entendimento, para a atuação na área – pelo menos para começar a atuar.

Mais do que um canudo debaixo do braço no final do curso, o jornalismo precisa de pessoas capazes de enxergar os fatos sob diversos pontos de vista – precisa de questionadores, provocadores, instigadores, seres pensantes. Nem todo diplomado tem essas competências. Chega de cumpridores de tarefas! A exigência de diploma ou registro para a prática jornalística fere a liberdade de imprensa, prejudica a qualidade de informação e pode até traduzir inverdades à sociedade.

Seria um preciosismo descabido acreditar que as habilidades específicas do jornalismo só podem ser adquiridas por meio do ensino superior. Não vou entrar no mérito que o dia a dia da profissão, ou seja, o operacional, os processos, o que é lead e olho, por exemplo, aprende-se na prática ou em três meses de treinamento. Porque sim, aprende-se, inclusive com não formados em jornalismo. Pode acreditar.

Ok. Falemos de ética. Para muitos, além de formação e habilidades específicas, é na faculdade de jornalismo que “aprendemos” sobre a tão apreciada e indispensável ética. A bandeira é muito bonita, mas as pessoas se esquecem que a ética não é um valor exclusivo do jornalista, mas de pessoas – sejam jornaleiros, médicos, fotógrafos, barmen. É um compromisso estabelecido em qualquer relação, seja ela profissional ou não.

Além de tudo isso, a decisão do Supremo Tribunal Federal de tornar não obrigatório o diploma para o exercício de jornalistas é um impulso para começar a fazer sumir, ou extinguir, as vendedoras de diplomas. Essa já é outra discussão. De qualquer maneira, jornalistas e aspirantes, não se desesperem. Os diplomas são válidos. As faculdades não fecharão. A profissão ainda existirá e ainda precisará de vocês. Ah, e os talentos ainda serão reconhecidos.

leia mais: A decisão do STF e suas consequências para a sociedade

Fernanda Iema é executiva de atendimento da LVBA. Ao ingressar no curso de jornalismo, em 1998, percebeu que o que esperava de uma faculdade não era nada daquilo. Por isso, prestou vestibular em 1999 e iniciou a graduação de história. Concluiu o curso de jornalismo em 2001, pois era obrigatório para exercer profissão. Para não atrofiar o cérebro, é graduanda de história até hoje.

A decisão do STF e suas consequências para a sociedade

A discussão sobre a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo no Brasil divide opiniões e acirra ânimos. Na verdade, o cerne da questão não é ou não deveria ser a exigência do diploma, mas a qualidade do ensino. No entanto, nós, jornalistas profissionais, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), acabamos de perder o mínimo da regulamentação, ou seja, a garantia de que é necessário ter formação/graduação para a produção de conteúdo jornalístico, conquista brasileira que chega a quatro décadas. Por enquanto, vou me ater ao mínimo.

Com a decisão, perdem os profissionais, perdem os meios de comunicação de massa e, principalmente, perde a sociedade. A informação de qualidade, de interesse público, se tornará bem cada vez mais escasso. Democratização e ética no jornalismo então, nem se fala. Se, com a presença de jornalistas formados nas redações já era difícil garantir a produção e divulgação de informações com ética e voltadas ao interesse coletivo, após a decisão do STF, a tendência é que esse contexto piore sensivelmente.

Como diz o ditado popular “as porteiras estão completamente abertas”. Sem a menor resistência e “os entraves” da lei, os donos dos meios de comunicação de massa – pequenos, médios ou grandes – poderão contratar qualquer pessoa que se arvore a produzir conteúdo jornalístico, com ou sem formação específica. Afinal, isso parece não importar! A mídia tem um grande poder nas mãos e agora com total liberdade para usá-lo, sem a presença de profissionais que avaliem com propriedade e ética sua importância para a sociedade.

Bom, a decisão é muito recente e minhas avaliações podem não se concretizar. Mas o cenário, realmente, não é bom. O debate agora deve partir para algo mais complexo: a qualidade do ensino dos cursos de jornalismo que restarem. Qualidade esta que, com a decisão do STF, também tende a cair.

Leia mais: Somos iluminados?

Benedito Teixeira terminou o curso de Jornalismo há quase 11 anos. Ex-sindicalista, há pelo menos uns três anos brigou com a profissão. É muito pouca grana e satisfação pra muito trabalho. Pensa em terminar seus dias dando aula numa academia de ginástica.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dá para ficar rico na Bolsa?

Não, pelo menos eu não consegui.... Consegui sim fazer uma graninha que me permitiu comprar umas coisinhas para meu apartamento, para juntar mais um tanto e dar entrada no meu carrinho, para comprar mais ações de uma companhia e deixar lá porque o preço delas despencou... Neste momento mais perco do que ganho, mas fazer o quê? São as conseqüências de investir (pouco) dinheiro na Bolsa de Valores e perder. Mas um dia a coisa melhora – aliás, tem que melhorar!

Comecei investindo na Bolsa de Valores em 2005. Tinha acabado de receber uma rescisão de um contrato de trabalho. Como dinheiro na mão é vendaval (plagiando a música Pecado Capital de Paulinho da Viola), pensei: que destino dar para ele? Se ficar na conta vai evaporar; se eu colocar na poupança, qualquer desculpa servirá para pegar um pouquinho aqui, um pouquinho ali... A melhor solução era, na minha concepção, colocar em uma aplicação que eu não pudesse mexer por um bom tempo.

Duas saídas: abri um CDB, que na época me rendeu bons frutos; e apliquei mais um pouco num tal de PIBB. Descobri este papel lendo uma matéria na Folha de S. Paulo ao fazer o clipping de um cliente. Fiquei louca ao ver a tabela de rendimentos desta aplicação e foi lá que amarrei meu burrinho.

Daí veio aquela coisa: nunca mexi com mercado financeiro, não sei fazer compra ou venda de papéis, nunca operei o tal do home broker, mas não deve ser tão difícil assim, pensei... Liguei para a minha gerente do banco e para a minha surpresa, ela nunca tinha ouvido falar neste tal de PIBB. Guido Mantega, na época presidente do BNDES, e o presidente da Bolsa de Valores, Raymundo Magliano Filho, tinham acabado de lançar para o mercado uma parcela de cotas no valor de R$ 1 bilhão, abrindo assim a segunda temporada de compras de PIBB.

Ah, esqueci de explicar o que é PIBB. Aprendi o significado e a dinâmica dele fuçando em muitos sites – dá sim para aprender a aplicar no mercado de ações lendo bastante. Visitei as páginas do BNDES, da CBLC, um site exclusivo de PIBB, o da Bovespa, de corretoras de valores, da CVM, Anbid, Andima, Apimec, enfim, pesquisei, pesquisei e pesquisei. Os PIBBs (Papéis de Índice Brasil Bovespa) são cotas do fundo PIBB Fundo de Índice Brasil – 50, atrelado de alguma forma ao IBrX 50. Melhor entrar nos sites para entender como ele funciona... Passei a ser visitante frequente de sites relacionados a investimentos, aplicação em bolsas, aprendi a navegar nos sites de corretoras de valores e a operar via home broker, a ter o hábito de verificar as cotações das ações e o desempenho do mercado diariamente. É chato? Não, é muito bom e faz a gente perder um pouco de medo dos números, taxas e regras que permeiam este mundo paralelo.

Resolvi comprar umas cotas e foi a época mais feliz da minha vida no mercado de ações. Um papel que me fez realizar mais de 50% de lucro. Como investidora de primeira viagem, vi aquilo e resolvi vender, afinal era o meu dinheirinho que tinha virado um dinheiro. A rentabilidade dele era baseada nos pontos do Índice Bovespa. Fiquei com medo daqueles números serem surreais e vendi. Mas, para quem era marinheira de primeira viagem, vendi na hora certa, pois os pontos começaram a cair. Ufa!

Mas gostei desta brincadeira. Montei, junto com o meu namorado (agora ela já é meu marido!), uma carteira de ações e fomos comprando um pouquinho aqui, outro ali. Não fizemos muito dinheiro, mas nos divertimos muito! Gastei tudo aquilo que tinha juntado comprando coisas para a minha futura casa. Passado este período, fiquei sem dinheiro nenhum... Mas veio uma graninha extra e resolvi entrar no IPO da Bovespa. Dias felizes vieram novamente. Realizei, em três dias, quase 100% de lucro. Vendi tudo e me preparei para entrar na abertura da BM&F. Quem não tinha conseguido comprar da Bovespa, correu para fila da BM&F. Uau!, pensei. Se for como foi na Bovespa, estou feita!

E foi. No primeiro dia apenas... Quando vi a valorização de quase 30% do papel, falei: vou vender e é agora. Sonho meu.... Entrei no site da corretora (ah, esqueci de mencionar: pago R$ 13 mensais para manter as ações), coloquei a ordem de venda com preço fixado de R$ 26. Quando dei “enter” na operação, o sistema travou (de tanta negociação que estava sendo feita). Liguei para o telefone de operações de mesa. Agora sim, vai dar! Não deu. A previsão de atendimento era de 37 minutos, isso mesmo, 37 minutos. Aos 35, a ligação caiu...

Aliás, não foi só a ligação que caiu. O preço das ações despencou!!! Não consegui vender, paguei uma ligação de R$ 30 de celular (aquela que fiz para a corretora e que, além dos R$ 30, levou toda minha hora de almoço daquele dia) e comecei a tomar prejuízo. Putz, também me pesa a consciência o fato de que, por minha empolgação, um colega da LVBA resolveu aplicar sua graninha nestas ações... Mas fazer o quê? Agora, além de nervos de aço para acompanhar o preço das ações, tenho que ter paciência e aceitar que estas ações viraram como uma previdência complementar. Serão pelo menos dois anos para recuperação total do valor que elas tiveram um dia.

Por isso que eu digo: não dá para ficar rico na Bolsa de Valores com pouco dinheiro. Pelos menos eu não consegui! Minha próxima empreitada são os papéis do Tesouro Direto. Estes sim podem me render alguma coisa. São pagamentos garantidos, com bons juros e que requerem poucos recursos do investidor.

Daniela Mesquita é executiva de Atendimento da Unidade Adriane Fregonesi Froldi. Casou há pouco mais de um mês, o marido quer ter três filhos (e ela prefere ter um filho e investir em duas Ferrari), e virou a mais nova moradora e exploradora da Lapa e adjacências.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Viva a diversidade e aprenda com ela!

Há exatos 24 anos eu desembarcava em São Paulo com muitos sonhos e projetos para a fase que eu julgava ser a mais importante da minha vida até então, a de iniciar um curso na área de comunicação. Trazia na bagagem o orgulho da minha ousadia... Afinal, imaginem a incompreensão das pessoas ao meu redor ao saberem que eu sairia do interior, da “Califórnia Brasileira” (Ribeirão Preto), para fazer um curso de Relações Públicas numa cidade inumana! “Curso do quê? Mas você vai fazer o quê exatamente? E precisa ser em São Paulo, um lugar que é terra de ninguém?”

Assim, no auge dos meus 17 anos, no meio desse redemoinho de questionamentos, cheguei à “Paulicéia Desvairada” – plagiando Mário de Andrade! Cheia de expectativas, mas também com um grande receio do “não-pertencer”, o de ser uma estrangeira dentro do meu próprio País.

A caipira, como muitos me chamavam, encarou o desafio, respirou fundo e mergulhou no mundo da comunicação. Ao conhecer a turma de mais de 200 alunos do curso de Comunicação da FAAP (a escolha pelo curso específico viria depois), um alívio: eu não era a única “estrangeira”! A classe era uma verdadeira ONU brasileira, reunia professores e alunos de diversas regiões do Brasil, alguns inclusive de outros países da América Latina. Incrível como as pessoas desgarradas de suas origens têm a tendência de se aglutinar! É a necessidade intrínseca do ser humano de criar vínculos e de sentir-se em casa, não importando se esta casa é real ou não.

Nesse ambiente de diversidade cultural, de convivência diária com paulistas, mineiros, paulistanos, cariocas, mato-grossenses-do-sul, chilenos e muitos outros, é que fui conhecendo mais sobre a profissão que havia escolhido e tinha gerado tantas controvérsias entre meus amigos e família.

Mais do que o aprendizado de técnicas e ferramentas de comunicação e Relações Públicas, o período na faculdade me proporcionou um enriquecimento cultural inigualável. E cultura na acepção mais ampla da palavra: que inclui, sem dúvida, o acesso à informação e às artes, mas que também privilegia o conhecimento adquirido pela troca de experiências com indivíduos tão díspares, em vários aspectos, seja em hábitos e costumes, seja em idéias e atitudes.

Ao ingressar na LVBA, após dois anos de formada e de trabalhar em duas grandes empresas super tradicionais, encontrei novamente um ambiente que transpirava diversidade, de opinião, de formação, de origem, de experiência de vida, enfim.

Sempre busquei essa heterogeneidade, porque acredito que ela impulsiona o crescimento pessoal e profissional ao permitir que os fatos sejam analisados sob vários ângulos e as estratégias traçadas de forma criativa para atender as expectativas do público-alvo, seja este público-alvo um cliente, o cliente do cliente, o amigo, um parente.

Ao longo desses 24 anos de São Paulo, sendo 18 anos de LVBA, o convívio (nem sempre harmônico, mas construtivo) com as diferenças me tornou uma pessoa mais flexível e mais apta a enxergar os fatos sob a ótica do outro, do meu interlocutor, seja ele quem for. Isso tem sido fundamental no gerenciamento das atividades de comunicação junto aos clientes e à equipe, formada por profissionais com história e perfis completamente distintos. Nem sempre é uma tarefa fácil lidar com a diversidade no dia-a-dia, mas, assim como num patchwork, as horas despendidas para planejar e “costurar” são compensadas pelo resultado final do trabalho.
Quanto ao receio do “não-pertencer” de quando cheguei aqui, hoje não tenho dúvidas de que São Paulo e as pessoas que aqui vivem pertencem à minha vida profissional e pessoal, sejam elas paulistanas ou não. Estou verdadeiramente em casa! Já as dúvidas familiares sobre minha profissão, algumas ainda persistem, porém já não sou vista como uma doida que optou por fazer comunicação na capital. Afinal, “ela está há 18 anos na mesma agência, e feliz”!

Adriane Fregonesi Froldi é diretora de Atendimento da LVBA. Tem duas filhas lindas: uma é a Bruna, de 9 anos, e a outra é a Bela, uma pug que sofre de gravidez psicológica! Isso é que é diversidade...