quinta-feira, 30 de junho de 2011

Nostalgias de um assessor

Sim, eu ainda era um menino. Para mim, o trabalho, como algo remunerado, era uma grande novidade. Desde a primeira ligação, quando o rapaz do outro lado da linha - hoje, um amigo muito querido - falou o nome de uma empresa em inglês. Achei que devia ser algo grande.

Era uma segunda, em fevereiro de 2003. Comum naquela época do ano, chovia muito. Mas, preocupado com o primeiro dia de trabalho, cheguei cedo. Bem cedo. Na verdade, fui o primeiro a chegar, atrás apenas da moça que fazia a limpeza. Ela pouco falou comigo, além de um rápido 'bom dia' ou um 'bem-vindo' qualquer. Fiquei, então, sozinho na empresa que começaria. Pequena. Eram apenas três cômodos, uma recepção e três banheiros. Devia ter algo como 100m2.

Mas eu não me esqueço do cheiro quando entrei.

Um misto de carpete novo, com papel. Cheiro de limpeza. Olhei ao meu redor e, enquanto as trovoadas corriam do lado de fora da janela, atentei para o gaveteiro: quatro gavetas de inox, bem arrumadas. Na primeira, a etiqueta "BRANCO A4". Na segunda, "BRANCO CARTA. A terceira tinha "RASCUNHO A4" e a última, "RASCUNHO CARTA". Achei aquilo o máximo. Pena que nunca tirei foto.

Nos armários, vários brindes de clientes. Em especial, da Discovery e Kodak. Um deles me chamou a atenção. Uma reprodução de uma caixa de remédio, em frasco, porém enorme. Era na verdade um press kit do extinto canal Discovery Health. Ao lado, havia flyers de "câmaras" (sim, era ordem do cliente) fotográficas da Kodak - que ainda eram mescladas entre tradicionais e digitais.

Os computadores eram enormes. IBM, creme. Os teclados traziam aquele suporte para o braço, que se acoplava na parte frontal do periférico. Os mouses ainda não eram ópticos. As mesas, da Tok&Stok, assim como a maioria da mobília. Partes em laranja, cor preferida de uma das funcionárias da época.

Na sala de reunião, duas mesas que ficavam unidas. Suas pernas eram de inox, ou aço, algo assim. Ficavam rapidamente com marcas de dedos. Na parede, uma estante continha uma TV de 21 polegadas. Ao lado, um quadro indicando um prêmio de critério duvidoso. Ali ficavam os armários, também laranjas. Quase sempre as chaves emperravam na hora de abrí-los - mesmo sendo novos.

Do outro lado do escritório, um recipiente de água padrão. Quando cheguei, ele ainda ficava no meio do "salão". Quando foi para o canto, era uma alegria a mais para os homens da firma. Sim, a empresa ficava ao lado do hotel Renaissance, na Alameda Santos. E, do ponto de vista da janela em frente à água, era possível ver a piscina do hotel. Precisa dizer mais?

No começo, eu não tinha computador. Então, usava o servidor. Sim, era uma máquina maior que as demais, mas que ficava ali mesmo, como se fosse outra qualquer.

Meu primeiro almoço foi em um restaurante por quilo, tradicional. Chamava-se "amarelinho" ou algo assim. Fui com a pessoa que comprou os móveis - mencionada antes. Nunca mais voltei ao restaurante, mas a colega tornou-se uma das minhas mais importantes amigas.

A maior sala era da chefe. Na verdade, era tão grande que tinha quase o mesmo tamanho do resto do escritório. Pelo menos era o que a gente dizia, nos corredores, na época. A mesa da chefe também era mais bonita, toda em vidro, com pernas em inox ou aço. A cadeira, era branca e longa, muito confortável, mas não reclinava (sim, eu a experimentei anos depois). A nossa cadeira era da Giroflex. Reclinava bastante, achava o máximo.

Na minha primeira semana lá, um colega me avisou que, se eu quisesse escrever, estava no lugar errado. Dois dias depois, ele saiu. Nunca mais vi.

A chefe também não estava quando eu fui contratado. A primeira vez que a vi foi quando ela voltou de férias. Chegou com malas e cheia de coisas na mão. Olhou rapidamente para mim e para outro funcionário que também era novo. Deu um "oi", sorriu com os olhos e entrou para a sala dela.

Uma vez a chefe resolveu ouvir Elvis. Sim, ela sempre gostou de colocar discos para tocar no meio do expediente (os all time hits eram "Cruising Together", "Keep it Coming, Love" e "We just Don't Care"). Sempre gostei. Mas, naquele único dia, foi Elvis. O disco escolhido era ELV1S 30#1 HITS, um comercial da ocasião.

Fiquei surpreso quando ouvi os primeiros acordes da faixa inicial, "Heartbreak Hotel". Mas imaginei que ela dificilmente ouviria o disco inteiro. Se sobrevivesse à pior faixa do CD, "Trouble", talvez existisse uma chance, pensei.

Não deu outra.

No meio de "Trouble", se não me engano a faixa 8, a música subitamente parou. E foi a última vez que ouvi uma música de Presley saindo daquela sala.

Luís Joly é, desde 2003, assessor de imprensa. Não sabe exatamente como foi parar nessa área, mas lembra de várias coisas e pretende escrever um livro, um dia, sobre essas memórias. Alguns trechos aparecem de vez em quando no blog dele, vê lá: http://jacksenna.blogspot.com

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Trabalho de Confusão de Curso

Enquanto você lê este texto, é bem provável que eu esteja tendo um ataque nervoso ou uma crise de ansiedade, quem sabe arrancando os cabelos. Ou talvez, algo muito pior pode estar acontecendo: enquanto você lê este post, pode ser que eu esteja apresentando meu Trabalho de Conclusão de Curso para meus professores na tão temida pré-banca.

Acredito que a maioria dos estudantes universitários veja o TCC como um grande monstro cabeludo, que irá persegui-lo durante um ano inteiro que, sem dúvida alguma, será o mais longo da sua vida. Afinal, aplicar todos os conceitos que você aprendeu nos três anos de faculdade em apenas doze meses parece o fim do mundo.

Apesar do terror prévio, tudo está nos trilhos. Como eu já esperava, os fins de semana para lazer estão mais escassos, as noites de sono mais curtas e as horas livres viraram lenda. Mas, por enquanto, nenhum surto psicótico, que era o que mais me preocupava. Aqui, tenho que agradecer ao meu grupo. Como qualquer grupo de trabalho, temos as nossas brigas, mas sabemos separar amizade de TCC, e essa harmonia tem gerado ótimos frutos.

Calma aí... Estou aqui falando e falando de TCC, mas pode ser que você nem conheça a estrutura adotada pela maioria das faculdades. Temos que criar uma agência de Relações Públicas, prospectar uma organização-cliente e estudá-la profundamente para desenvolver um plano de comunicação que atenda às suas necessidades. A agência que criamos tem como foco o atendimento ao setor cultural e, depois de inúmeras tentativas com MUITAS empresas do ramo (e algumas de outros segmentos também), o Circo Stankowich topou ser nosso objeto de estudo.

A boa recepção da família Stankowich para com o nosso grupo foi nos deixando cada vez mais interessadas pela cultura circense e tudo que a cerca. Acredito que esse é um dos fatores mais importantes para o bom desenvolvimento do trabalho e, mais do que nunca, vou precisar muito disso para continuar com bons resultados. Diferentemente de outras empresas que tínhamos procurado, tudo sobre a atividade circense é um pouco mais complicado: existem poucas obras sobre o tema no Brasil, assim como dados de mercado. Mas sobra paixão, diversão e riqueza em sua história, de onde temos tanto a explorar.

Para meu grupo e para mim, fica um grande desafio: inovar na comunicação de uma empresa com mais de 170 anos de história e que, definitivamente, não se encaixa em nada daquilo que estudamos na faculdade. E, a cada dia que passa, nos sentimos cada vez mais preparadas para fazer desse monstro cabeludo um dócil cachorrinho de estimação, lá na ainda mais temida banca final.

Obs.: O título não está errado, é “confusão” mesmo. Essa pérola foi dita pelo irmão de 10 anos de uma das integrantes do meu grupo que, desde tão pequeno, já mostra tanta sabedoria.

Natalia Máximo está no último ano de Relações Públicas e sonhou a noite inteira que a apresentação que usará em sua pré-banca não abria e todos seus professores ameaçavam dar zero para o grupo. Todos os dias, um novo tema surge em sua cabeça para atualizar seu blog pessoal, mas está começando a achar que não vai mais conseguir escrever nada que não esteja nas normas ABNT.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Lar Doce Lar

Não, isso não é lamuria de um dia frio, nem um anúncio de banco de financiamento. É um desabafo!

Sinceramente não sei se a regra se aplica a mais alguém, mas chegou uma hora em que a necessidade de uma casa minha tornou-se algo quase sufocante. E nesse caso, é a MINHA mesmo, não da minha mãe. E para completar existe um fator determinante, meu casamento. E não me venham com criticas sobre o assunto, reservo-me ao direito de não aceitar e nem dar justificativas sobre isso, mas para não ficar tão rebelde, quero apenas explicar que o casamento e a ideia de construir família é algo muito, muito importante e bonito para mim e que me permito viver isso com quem escolhi! Para quem não sabe, eu tenho o melhor namorado e futuro marido do mundo, o Bruno!

O que acontece é que, diante de tantos sonhos e desejos, me deparei com um problema econômico que vai além da minha “pindaíba”: a alta dos imóveis no Brasil. Depois de chorar, espernear e reclamar loucamente, imaginando que essas coisas só acontecem na minha vez, resolvi pesquisar tudo que fosse possível sobre o mercado de imóveis. Posso dizer que estou muito IN no assunto e que não é difícil, já que não se fala em outra coisa. Uma pincelada nos fatos:

Durante mais de sete anos o valor dos imóveis não sofreu reajuste: segundo o especialista em imóveis, Luiz Calado, essa alta é um reflexo acumulado, porém, essa opinião não é consenso entre os economistas.

O Boom ou a Bolha(ninguém explica se podemos chamar de um ou outro): dizem que o valor é justo, uma vez que representa 5,5 vezes a renda média anual das famílias brasileiras (Oi?). Em contrapartida, em março foi registrada uma queda no valor dos imóveis.

A demanda de compradores está superaquecida: com as facilidades implantadas desde o Governo Lula, e os programas de incentivo para a compra da casa própria (Minha Casa Minha Vida), por exemplo, a procura aumentou e estimulou a pressão inflacionaria desses reajustes.

Outros especialistas ainda acreditam que o crescimento não deve ultrapassar cinco anos (nessa parte eu quase enlouqueço!): a tese é que as pessoas não conseguirão sustentar os caros financiamentos caro e começarão a vender os imóveis já adquiridos.

Então, diante de tudo isso e muito mais, cheguei a pensar em construir uma casinha de palha e viver uma cabana e um amor, mas acordei e revi tudo!

Uma boa dica é a compra direto com a Incorporadora: elas oferecem vantagens para imóveis já construídos ou em fase de construção (planta). Porém, é necessário que o comprador dê uma entrada de, no mínimo, 20% do valor do imóvel. Existem expeculações sobre o financiamento de 100% do imóvel, mas nunca descobri a forma ou alguém que tenha conseguido.

Procure o preço justo: os especialistas dizem que um preço justo alia infraestrutura e localização, mas não se iluda, existem regiões assustadoramente bem valorizadas. Pense nas suas condições com muito carinho antes de decidir.

Tome muito cuidado com os corretores de imóveis: Eu sei! Estão todos trabalhando, mas vender sonhos tem lá seus riscos. Peça indicações, não acredite nas maravilhas ditas, converse muito com o profissional e, principalmente, não seja tão bonzinho.

Consulte tudo sobre o assunto: indico a Coluna do Mauro Halfeld, na rádio CBN (indicado sabiamente pela Carla Fornazierri), o site Finanças Práticas e uma simples Googada, já que só se fala nisso.

Descontos: existe luz no fim do túnel! Para as taxas de primeiro imóvel há desconto no cartório e dá pra economizar uma graninha.

Apesar de todos os fatos apresentados, continuo tentando! Já aprendi a guardar, já passei pelo maior processo de desapego das compras que poderia – para mim, isso significa rever o guarda-roupa e as maquiagens com tanto carinho a ponto de reinventá-los o tempo todo – e isso não é fácil! –, dou o maior valor do mundo à minha costureira e tento minimizar as contas todos os meses. Todos os dias penso em cardápios diferentes para o jantar e vasculhos os mais badalados sites de decoração. Já me emocionei e segurei o choro quando o Bruno se interessou por um varal móvel para acabar com o possível problema de falta de espaço... Também fico a espera de um milagre.

No fim, quando conseguir, tomo duas garrafas de tequila guardadas para a ocasião e convido a todos para um Open House incrível!


Luciana Rodrigues é Relações Públicas e executiva de atendimento na agência casamenteira. Apaixonada pelo Bruno, amante de culinária, decoração e crianças. E está tentando se convencer de que isso tudo é um dom e não um fortíssimo lobby a favor do casamento!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Orgulho de ser diferente

Lido com a diferença desde que me conheço por gente. Nasci em uma família negra, de classe média, estudei em escola pública e na minha adolescência me deparei com uma grande revelação: meu melhor amigo resolvera assumir sua homossexualidade.

Foi nesse ambiente de diferenças, mas também de muito orgulho, que tracei meu caminho até aqui. Aprendi a respeitar e a valorizar as pessoas pelo que elas são, independentemente da cor da pele, raça, credo, nacionalidade, condição financeira ou opção sexual.
Nunca sofri discriminação por ser negra, mas o fato de passar a conviver mais de perto com homossexuais fez com que eu me tornasse uma espécie de “defensora” da causa. Por isso, sofro quando algum de meus amigos gays é vítima de discriminação, principalmente por respeitá-los e ter por eles um enorme carinho. São pessoas sem as quais eu não saberia viver: seres humanos incríveis, ótimas companhias, excelentes profissionais e pessoas de uma inteligência inenarrável.
Não é de se estranhar, portanto, que acompanhar a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) tenha sido para mim como assistir a uma final de Copa do Mundo. Abracei a causa com orgulho, torci e vibrei a cada voto favorável ao reconhecimento da união homoafetiva no Brasil.
Mas que fique claro que não é só a possibilidade de “casar” que a medida traz. Ela significa muito mais do que isso, pois garante aos casais homossexuais direitos fundamentais, que até então lhes eram negados. No entanto, apesar da recente conquista, ainda há um longo caminho a percorrer, pois, infelizmente, temos milhares de “Bolsonaros” espalhados por aí. Basta ver a quantidade de homossexuais que são agredidos no Brasil – uma realidade triste e absurda, que precisa ser mudada.
Para punir quem faz esse tipo de barbárie, é imprescindível que o PLC 122, que criminaliza a homofobia em território nacional, seja aprovado. Não que a lei vá impedir que haja homofóbicos, mas vai pelo menos fazê-los pensar melhor antes de disparar suas ofensas por aí.
Como negra, sei da importância de ter uma lei que nos resguarda e pune quem destila indiscriminadamente o seu preconceito. O mais difícil, no entanto, é acabar com a intolerância e com o pensamento retrógrado de uma boa parte da sociedade. Infelizmente, nem todos conseguem enxergar que somos todos iguais, e que o maior valor de um ser humano é saber amar, respeitar o próximo e aceitar as diferenças – algo mais do que presente em nosso País.
Lilian Ambar é jornalista, respeita as diferenças e trava uma luta diária contra a intolerância e qualquer tipo de discriminação. Idealiza um mundo de igualdade, amor e respeito às pessoas, porque acredita que só assim a sociedade será melhor.