terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Déjà vu

Chegamos àquela época do ano em que a mídia se divide para escolher uma entre duas alternativas: Retrospectiva ou Previsão.

O interessante é que este dilema não é exclusivo da mídia geral. Atinge-nos a todos, em todas as áreas, da política à economia, do noticiário internacional à moda, da indústria ao esporte – é; com o final de campeonato, as férias dos jogadores, teremos uma permanente mesa-redonda sobre este 2009 de tantas lembranças.

Não que seja contra, pode ser até divertido rememorar certos fatos, certas declarações, certas promessas que, entre outras tantas, vieram a ser desmentidas ao longo de 2009. Haverá, claro, os campeões de audiência. Ocorrem-me dois, assim de improviso: a crise mundial e a escolha do Rio como cidade-sede das Olimpíadas. Se eu pudesse escolher, teria dado o maior destaque a um fato até recente: a atitude da passadeira de Brasília que encontrou um envelope com dinheiro à sua porta e foi entregá-lo à polícia. Por que esta escolha? Porque ela não teve dúvidas, não teve hesitação. Não se importou com o dito popular “achado não é roubado”. Simplesmente seguiu a lógica: não é meu, logo não tenho porque ficar com ele. Isto, em meio a uma torrente de denúncias contra uma série de personagens que têm por obrigação zelar pelo dinheiro de todos nós...

Acho melhor ficar com as previsões. Para falar a verdade, até vou arriscar algumas, apesar de ser um principiante na leitura de arcanos, trânsitos e búzios:

- Um líder de importância internacional vai morrer em 2010 (só um?);
- O casamento de uma conhecida artista do show business chegará ao fim;
- A expressão mais ouvida em 2010 será “nunca antes na história deste país)” em todas as suas variações;
- O trânsito de São Paulo baterá recordes de congestionamento, devido a um trânsito de Saturno muito complicado;
- Uma conhecida artista do show business irá se casar em segredo, com ampla cobertura da imprensa;
- Conhecida figura política terá seu nome envolvido num escândalo. Ele protestará inocência e seus opositores dirão que o caso será apurado com todo rigor;
- A torcida brasileira não concordará com a lista de convocados da seleção canarinho.

E, por fim, uma séria: cada vez que um de nós toma uma atitude para mudar o mundo, por menos que seja, ele muda. Esta revolução tem que acontecer pela individualidade, pela consciência e pela ação de cada um de nós. Tenho confiança que veremos muito disso em 2010.

Flavio Valsani é Diretor Executivo da LVBA Comunicação e mal pode esperar pela enxurrada de retrospectivas....

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

(Sem) Os prazeres da carne

No dia 29 de novembro, tomei a decisão de aderir à dieta vegetariana. Era algo que eu vinha pensando há bastante tempo, principalmente por ser uma amante de animais desde que me conheço por gente. Só não sabia por onde começar. Na verdade, já tinha colocado a ideia em ação no ano passado, quando passei uns nove meses sem comer carne vermelha, porque achava que largar tudo de uma só vez seria muito mais difícil. Afinal, comer um filezinho de frango de vez em quando ameniza a falta da picanha, certo? Errado.

Para mim, pelo menos, não deu certo, tanto que faz mais de um ano que voltei a comer todos os tipos de carne, simplesmente por fraqueza. É isso mesmo, não me mantive fiel aos meus objetivos porque não aguentei. A carne deve ser um dos piores vícios que existe! Se você fuma, tenho certeza que você come carne há muito mais tempo, mas ainda não percebeu que é tão viciante quanto, porque você está muito mais acostumado! Parece que não, mas é muito difícil. E eu, como prova (e não devo ser a única), cedi aos prazeres do churrasco & amigos.

E é nesse ponto que você me pergunta: se não aguentou, vai tentar de novo por quê? Porque me senti muito bem durante todo o período do ano passado que passei sem comer carne. Meu irmão influenciou muito essa decisão, mesmo sem saber. Para esclarecer, vamos dar uma volta no túnel do tempo: por mais de seis anos, ele foi vegetariano e todo mundo da família sofreu por consequência. Minha casa, onde antes reinava picanha e filé mignon, passou a ser dominada por soja e tofu. E eu, no auge dos meus 11 anos, não entendia a necessidade dessa mudança na minha alimentação. Claro, minha mãe não cortou toda a carne do cardápio, mas a mudança foi drástica o bastante para mim e meu pai, grandes carnívoros. Depois, acabei me acostumando – meu pai não.

Mas vamos voltar a 2009. Diferentemente do meu irmão, deixei de comer carne vermelha por compaixão. Não, não vi nenhum documentário chocante de ONGs que defendem os direitos dos animais, como o famoso "A Carne É Fraca", do Instituto Nina Rosa, mas muito pelo contrário. Muitos acontecimentos na minha vida pareceram se encaixar com as minhas ideias. Em janeiro, uma amiga aderiu ao vegetarianismo e, por causa da minha experiência do ano anterior, sempre trocamos informações sobre o assunto, o que despertava ainda mais minha vontade de também fazer parte desse grupo. Uma das dicas dela foi justamente essa: largar de uma vez, porque senão é mais fácil ter uma recaída (se você já tentou parar de fumar, deve ter a mesma sensação, não é?).

Mais tarde, fiz um trabalho para a faculdade sobre a PEA, ONG que trabalha, entre outras coisas, com a conscientização da importância dos animais para o equilíbrio ambiental. Eles não pregam, necessariamente, o vegetarianismo, mas quase todos os outros materiais que utilizei para complementar o trabalho falam sobre isso, o que me deixou com ainda mais vontade de adotar a dieta. E, de qualquer forma, eu já era apaixonada por animais, e isso é completamente irreversível.

Quando me dei conta, já estava pesquisando na Web várias informações sobre o tema, diferentes tipos de dietas vegetarianas (a que adotei, por exemplo, é a ovolactovegetariana), marcando consulta com nutricionista para saber quais substituições terei que fazer, conferindo experiências de pessoas e casos bastante polêmicos relacionados a direitos animais, como um dos posts na coluna do André Forastieri – admita, não é preciso ser vegetariano para ter uma pontada de raiva desse promissor comedor de cachorrinhos.

Dentre essas e outras que percebi que a carne não é um item indispensável na minha alimentação e, ignorando Paul McCartney e seu Meatless Monday, parei radicalmente com o consumo desse alimento. Mesmo estando só há duas semanas e meia seguindo rigorosamente essa dieta, acredito que vou conseguir me livrar desse vício de vez por um bem muito maior do que os momentos prazerosos à mesa. Então, para mim e todos os outros viciados em carne que se abstiveram de suas vontades, não importa qual seja o motivo, mais 24 horas!

Natalia Máximo é estagiária da LVBA e vai para o terceiro ano de Relações Públicas nas Faculdades Integradas Rio Branco. Quando era criança, queria ser veterinária, mas, como não consegue ver sangue sem passar mal, viu que seu amor por animais não teria comprovação acadêmica. Acredita que, se sobreviver à abundância de carne das festas de fim de ano, sua dieta vegetariana estará a salvo. Está procurando um jeito de convencer seus pais de que essa mudança na alimentação não vai afetar sua saúde. Se você souber como, fale com ela aqui.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

For Those About To Rock - AC/DC no Morumbi

Não pesquisei para fazer esse texto. Não me preparei. Apenas escreverei o que sinto, o que senti, o que vivi. Só sei que nada sei de AC/DC. Na verdade, quase nada. Até pouco tempo, ainda confundia canções do Kiss com as deles. Sim, apesar de adorar música e rock, não estou nessa praia. Antes do show, só conhecia duas faixas da banda: "Back in Black" (que a propaganda da Ford está destruindo) e "Highway to Hell". Coisas do destino, ganhei ingressos para a apresentação única deles no Brasil, no Estádio do Morumbi, sexta passada. E aí começou a história desse show incrível.

Em dezembro último, também tive a oportunidade de ir a um megashow de graça. Foi o da Madonna (o post, inclusive, está aqui). Como a cantora, AC/DC é um nome clássico no meio musical em todo o mundo. Estão por aí há um tempaço e, por todos os lugares que tocam, é sempre garantia de lotação máxima. Mas acho que qualquer tentativa de comparação acaba aí.

AC/DC, como falei no começo do texto, não está no meu vocabulário musical. (aliás, até hoje nem sei o que esse nome significa). É uma banda muito popular entre fãs de rock - assim como Kiss, Led Zepellin, Black Sabbath e outros similares. Basicamente, o fã perfil "Escola do Rock".

Mas esse tipo de rock, por alguns chamado de metal, não faz parte das músicas que escuto diariamente no carro ou no computador. Não curto vocalistas de voz aguda e que em alguns momentos parecem mais gritar que cantar (é a minha opinião, fazer o quê?).

Quem me conhece sabe que minha vertente do rock vai mais nas origens (Elvis, Jerry Lee Lewis, Johnny Cash) e/ou para um rock com levadas blues/funk/soul (Blues Travelers, Marvin Gaye, J.J. Cale), sulista (Allmann Brothers, Lynyrd Skynyrd, Tony Joe White) ou britânicas (Rolling Stone, The Beatles), entre algumas outras. Mesmo em bandas com uma pegada soft metal, como Bon Jovi, eu curto mais quando é um esquema acústico ou mais leve.

Mas isso jamais me impediria de ir a um show do AC/DC. Fui sem preconceitos, esperando alguma coisa boa. Claro que o famoso esquenta, à base de Jim Beam, ajudou muito. O próprio AC/DC, tocando no volume máximo no som do quarto, também. Chegamos para o show 22h (sem filas, sem confusão, tudo tranquilo) e, pouco depois, os cara já começaram. E, para resumir: curti demais. Os caras do AC/DC já estão velhões. Mas tocam muito. Mandam muito bem. O guitarrista dos caras fez um solo de uns 15 minutos. A banda mostra porque está na estrada há tantos anos. Domina a plateia e faz dela o que quer. Setenta mil pessoas foram comandadas pelo grupo australiano. Foram à loucura, gritaram, perderam as vozes. E comigo não foi diferente. Cantei as poucas que conhecia. Aprendi na hora as várias que não sabia. E pulei até cair, literalmente.

Em meu currículo de shows que já fui, o AC/DC não ocupa o primeiro lugar da lista. Mas certamente fica entre os cinco mais, talvez entre os três. A presença no show deles também não vai mudar muita coisa. Não vou comprar CDs ou começar a ouvir mais do que antes. Até porque a diferença entre o que se ouve em um CD e no estádio é colossal, abismática, discrepante.

Colocando à parte toda a importância que eles têm para o rock, eu digo tranquilamente: AC/DC, eu os saúdo.

Luís Joly é músico de ouvido. Adora não conhecer tudo de música e descobrir assim, aos poucos. Começou sem querer, com Elvis, e aumenta a cada dia, a cada hora. Veja o que mais ele tem a falar sobre música e outros assuntos em http://jacksenna.blogspot.com

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Prazeres e dificuldades de ser um pai solteiro

Ao contrário do que alguns imaginavam, não escreverei sobre música. Resolvi falar sobre algo muito mais significativo e valioso na minha vida – aliás, é o que há de mais importante nela: minha filha, Giulia.

A paternidade para mim aconteceu bastante cedo, aos 21 anos e, lógico, não estava preparado para tamanha responsabilidade. Hoje aos 28, aprendo a lidar com toda a complexidade de ser pai a cada dia com a Giulia, e a amo ainda mais por isso. Mas, mesmo que o tempo e a experiência tragam o aprendizado, continuo a me sentir perdido. Afinal, a criança quando nasce não vem acompanhada de um manual de instruções, bula, receita ou algo que nos dê a fórmula certa ou respostas diretas.

Colocá-la para dormir, trocar fraldas, dar banho, comparecer à reunião de pais na escola, inventar brincadeiras dentro e fora de casa... Ainda que a lista seja longa, as preocupações que envolvem esse relacionamento de pai e filha vão muito mais além dessas tarefas. Meus maiores questionamentos são referentes ao estudo, ao tipo de educação que estou proporcionando a ela versus àquilo que acredito ser ideal. Muitas vezes me questiono em relação aos valores que estou passando e de que forma ela os tem absorvido. Será que o motivo de eu ser tão envolvido com essas questões é por que sou um pai solteiro e tenho a Giulia morando comigo? Pode ser...

Acredito que esse título requer um equilíbrio emocional maior. Digo isso porque, enquanto o pai – quando casado – divide frequentemente com a mãe a responsabilidade sobre decisões que envolvem os filhos, o pai solteiro tem um comportamento diferente nas decisões do dia a dia: este último conta com uma autonomia natural que a própria realidade impõe.

Não tenho a menor dúvida de que ser um pai solteiro é uma das tarefas mais difíceis que existem, ainda que eu conte muito com a ajuda da minha mãe. E é justamente daí que surgem outras importantes questões, como: Qual é a medida da sensibilidade? Como é possível passar mais tempo com ela e trabalhar o mesmo tanto?

Não há dúvidas sobre a dificuldade – inerente aos pais do mundo atual – que existe em equilibrar o trabalho, crianças, levar à escola e estar ciente do que lá acontece, ajudar nos estudos, cuidar da dor de garganta, levar ao médico... Sem contar que eu também quero – e preciso – ter um tempo para mim: curtir minha namorada, estudar, ensaiar com as minhas bandas e tudo o mais. Claro que a parte financeira sempre pesa. Principalmente no meu caso, que tenho a guarda da Giulia.

Seja à parte ou em meio a cada uma dessas lutas, as crianças e as suas necessidades de atenção, tempo de qualidade, orientação e os cuidados do dia a dia, mostram-se esmagadoras. Às vezes, sinto que cada área da minha vida acontece – ou seria melhor dizer equilibra-se – como um show de malabarismo. Até porque, todo dia ao chegar em casa do trabalho, dedico pelo menos algumas horas para estar com ela. Brincamos de videogame, trocamos a roupa da Barbie, leio histórias e ajudo na lição.

Mesmo com todas as dificuldades, dúvidas e confusões, ser pai mudou a minha vida, e de uma maneira muito boa. Assumi responsabilidades, amadureci muito e creio que meu individualismo, que fora muito intenso, diminuiu. Só sei, de fato, que hoje não consigo imaginar a minha vida sem essa pessoinha, a mais linda do meu mundo!

Pedro Martins Lanfranchi nasceu, cresceu e desenvolve-se músico a cada dia. O acaso lhe deu o título de pai solteiro, mas foi o amor que o transformou em pai comprometido. Não é paraquedista, mas o cargo de assistente de atendimento na LVBA ‘caiu como uma luva’ e só comprova ainda mais sua teoria de que a vida é um constante show de malabares.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Críticas à crítica

Há 20 anos, comer salmão e tomate seco era privilégios de poucos endinheirados. Tidos como produtos gourmets, hoje “se popularizaram” ao ponto de encontrá-los em bufê de restaurante de comida por quilo. Salmão e tomate seco são apenas exemplos de uma longa lista de ingredientes e iguarias que globalizaram o cardápio dos brasileiros.

Neste período, não foram somente os hábitos alimentares dos brasileiros que mudaram. O jornalismo gastronômico – ou o que se convencionou assim chamá-lo – também se transformou. Pouco a pouco, surgiram novos – e caros – restaurantes dedicados à alta gastronomia e, lentamente, foi se constituindo uma casta de comensais exigentes, a ponto de alguns deles se tornarem com o passar dos anos verdadeiros connoisseurs, isto é, competentes o suficiente para emitir julgamentos sobre a arte culinária, assim como outros tantos o fazem com outras manifestações artísticas.

Até então, a única grande referência em “jornalismo gastronômico” era o Guia 4 Rodas, com seu roteiro de restaurantes e bares, estrelados ou não – desconsideremos a Claudia Cozinha, também da mesma Editora Abril, com foco em receitas e dedicado exclusivamente ao público feminino. Mas pode-se chamar de jornalismo gastronômico uma lista de estabelecimentos comerciais do Oiapoque ao Chuí? Eis a questão. Ou a primeira delas.

Se há um mercado – mesmo que à época incipiente – de alta gastronomia e pessoas que queiram saber mais sobre pratos e quem os cria e a indefectível combinação deles com vinhos, há potencial público-leitor. Com isso, começaram a chegar às bancas e mesas publicações como a Gula, Prazeres da Mesa, Menu, Alta Gastronomia, Comer e Sabor – as duas últimas já tragadas pela voracidade do mercado editorial. Jornais, como a Folha e o Estadão, dedicam aos temas do paladar páginas ou cadernos e guias semanais.

Um pouco mais tarde, juntam-se aos impressos os sites segmentados, trazendo as novidades recém-saídas dos fornos e fogões. Blogs dão seu piteco e colocam uma pitada de sal no assunto ou mesmo requentam ad nauseam aproveitando as sobras das criações alheias. Finalmente, comendo com pressa e por fora, há o Twitter, o fast food das redes sociais, que traz dicas de onde e o que alimentar-se nesta cidade que devora a todos.

O boom do segmento editorial dedicado à gastronomia deu aos jornalistas amantes da boa mesa a oportunidade de desenvolverem, aprimorarem e exercitarem seus conhecimentos num segmento que requer muito mais que ser um bom garfo e ótimo escriba. Ser jornalista gastronômico é ser um glutão que se nutre de notícias recheadas de novos pratos, preparados com ingredientes de primeira e, se possível, exóticos, criados por chefs revelação ou consagrados de restaurantes seletos e disputadíssimos. Isso lhes confere glamour, mas também a necessidade de estabelecer e manter relações um tanto quanto questionáveis do ponto de vista ético com chefs e profissionais a seu serviço, incluindo os assessores de imprensa. Vale tudo por uma pauta ou para ficar de bem com a fonte? Boa pergunta.

Mas as relações podem ser ainda mais, digamos, “complexas”. No Brasil, assim como em outros países, há jornalistas que se posicionam como críticos gastronômicos, mas apoiam ou mesmo promovem eventos com a presença de chefs que são, precisamente eles, pautas dos mesmos críticos. Em outras palavras: num incontestável conflito de interesses, mantêm negócios com os chefs. Segundo o crítico gastronômico alemão Jörg Zipprick, em entrevista a este escriba, seus coleguinhas não criticam os chefs-estrelas que caminham pelos tapetes vermelhos dos festivais, organizados por ou com a ajuda dos jornalistas. Críticos ou aduladores? É de se perguntar, então.

Um bom exemplo da renúncia ao exercício da crítica por parte de muitos jornalistas é o que acontece com os artigos sobre as criações do “mejor cocinero del mundo”, Ferran Adrià, assim apontado pela quarta vez neste ano pela revista britânica Restaurant. O chef catalão do restaurante elBulli é idolatrado por jornalistas pelas suas inovações culinárias, conhecidas sob diferentes alcunhas de gastronomia molecular, cozinha técnoemocional ou cozinha de vanguarda. Contestá-lo é tarefa para poucos.

Um deles é o crítico gastronômico do jornal barcelonês El Periódico, Miguel Sen. Ele não se conforma que Adrià tenha se convertido, e o tenham convertido, na unanimidade que é e que sua cozinha seja hoje a referência mundial da culinária espanhola – ou simplesmente “a” referência mundial do que é a alta gastronomia atualmente. Para Sen, autor do livro Luzes e sombras no reinado de Ferran Adrià, questioná-lo, assim como a sua cozinha, beira à apostasia.

“Qualquer crítica, inclusive a mais respeitosa, é entendida como blasfêmia que atenta contra a pátria e seu cozinheiro-estrela”, afirma, em estrevista a este jornalista. Zipprick – o jornalista alemão que escreveu No quiero volver al restaurante!, com críticas à Adrià ao uso de substâncias químicas, como colorantes, aromatizantes, conservantes e potencializadores de sabor, algumas delas, dizem especialistas, com o risco de danos à saúde –, vai além. Para ele, há uma espécie de omertà entre críticos e chefs.

Sen é um dos que evita referir-se aos críticos, como críticos. “Muitos deles estão ligados a empresas de publicidade ou a eventos gastronômicos. Outros dependem das feiras que organizam, em muitos casos com o apoio dos jornais para os quais escrevem. Nestas condições, é impossível que não se cumpra a lei de omertà”, vaticina. Sen não fala a esmo. O proprietário de uma assessoria de imprensa, que tem como cliente a Relais & Châteaux (rede formada por 480 hoteis de alto luxo e restaurantes gourmet em 56 países), por exemplo, é também crítico gastronômico.

Segundo Zipprick, muitos dos críticos pouco põem os pés na redação dos jornais ou revistas onde trabalham, preferindo vagar de evento em evento gastronômico para seguir “seus chefs”. “Antes, os críticos costumavam ser críticos. Agora, eles só estão lá para aplaudi-los”, diz, contrariado. Última pergunta, e fecha-se o pano: A crítica gastronômica é, então, confiável? Na dúvida, coma no seu boteco preferido.

Milton Rizzato é jornalista formado pela Unesp-Bauru, com rápida passagem pelo curso de Letras-Italiano da FFLCH-USP, e mestrando em História e Cultura da Alimentação pela Universidade de Barcelona (Catalunha), feito em parceria com as Universidades de Bolonha (Itália) e de Tours (França). Em uma das pausas em sua trajetória, trilhou pelo curso de Cozinheiro do Senac-Campos do Jordão e, posteriormente, foi professor e responsável pelo Garde Manger, área da cozinha onde se preparam as entradas e pratos fora de hora. Torce pelo Palmeiras, mas não tá nem aí para o campeonato. Gosta de alta gastronomia, mas não de suas frescuras. Assim como Tom Jobim, acha que se há perfeição, está na simplicidade. “Nada melhor que arroz, feijão, ovo e salada, da minha mãe, claro”, sentencia.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

“É melhor ser alegre que ser triste...” (?)

Semana passada, meu estado de humor altamente positivo sofreu um pequeno abalo após ler uma notícia – divulgada pelo G1 – sobre um estudo realizado em Sydney, na Austrália, dizendo que as pessoas mal-humoradas possuem uma inteligência mais afiada. Digo que fiquei abalada não por achar um absurdo tal conclusão; pelo contrário! Mais uma vez fui consumida por aquela sensação de descoberta triunfal: “Claro! Como eu nunca pensei nisso antes?”.

Há tempos sou questionada – por mim e alguns poucos terceiros que comigo convivem bem de perto – sobre esse, às vezes inconstante, estado de euforia aguda que resolveu tomar conta da minha personalidade e que, não raro, deixa-me um pouco dispersa em relação ao mundo de coisas que acontecem ao meu redor.

Eis que, finalmente, posso então argumentar cientificamente que a minha falta de atenção e de memória é culpa exclusivamente do fato de eu ser alegre e mais feliz. Publicado na última edição da revista científica Australasian Science, o artigo avalia que “enquanto um estado de ânimo positivo facilita a criatividade, a flexibilidade e a cooperação, o mau humor melhora a atenção e facilita um pensamento mais prudente”.

Fazendo uma análise comportamental recente sobre minha pessoa, os argumentos do professor Joseph Forgas fazem todo sentido e são perfeitos para evitar maiores discussões entre uma e outra DR com o namorado (que cisma em reclamar minha atenção a TUDO!), brigas e desavenças com o irmão (que se aproveita da minha falta de pensamento crítico), ou ainda justificar que meu lapso inteligente é totalmente compensado pela minha alegria constante e meus repentes eufóricos (se é que isso tem lá alguma vantagem...).

Fora a leveza sentida a cada sorriso largo escancarado e muitas vezes gratuito que o bom humor me permite (e me é peculiar), acho que a maior vantagem disso tudo é poder me divertir ainda mais com a perspicácia, o senso crítico e o humor inteligentíssimo das pessoas mal-humoradas. Tenho algumas preferidas – que se encaixam bem nesse perfil – e essenciais para que haja o tão desejado equilíbrio das minhas relações interpessoais.

Ainda que polêmico, o estudo esclarece atributos consistentes para que eu reafirmasse a qual grupo realmente eu pertenço. Se a pesquisa sugere que a tristeza promove estratégias de processamento de informações mais adequadas para lidar com situações exigentes, escolho ser alegre para usar e abusar da criatividade, flexibilidade, cooperação e a confiança em atalhos mentais - típicos dos bem-humorados.

Talvez o único aspecto que me desafia a amenizar a euforia do bom humor exagerado é a conclusão de que pessoas tristes são mais capazes de defender um argumento por escrito, o que, segundo o professor australiano, indica que “um humor levemente negativo pode promover um estilo de comunicação mais concreto e bem-sucedido”.

Para uma jornalista, essa análise é um baita balde de água fria, mas como não poderia ser diferente, vejamos pelo lado positivo: já inventaram as pílulas da inteligência e quem sabe assim eu consiga expor melhor outros assuntos e argumentações num próximo texto para o 806.

Melissa Rossi é jornalista por formação e executiva de atendimento na LVBA por opção e obra do destino. Apaixonada pelo fato de a comunicação aproximar pessoas, escolheu ser feliz e bem-humorada, ainda que “cientificamente” seja menos inteligente.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Músicas à vontade e de graça sem pirataria. Sim, existe.

O mercado de música passou por grandes transformações nos últimos anos. Vimos a ruptura da era dos CDs e a invasão dos formatos digitais, a perda de receita por parte das grandes gravadoras e o surgimento dos selos independentes. Grandes mudanças que alteraram a forma de como as pessoas consomem cultura e de como a indústria ganha receita.

Hoje, dizer que passamos por uma loja para comprar um CD é bastante raro. Aliás, raro mesmo é encontrar uma loja física de CDs... Não seria até uma inverdade dizer que esse comportamento só se mantém por parte dos colecionadores, ou dos que já têm mais de 30 anos. Pergunte para um garoto de 15 anos se ele compra CDs e aposto que a resposta dele vai te surpreender. Digo isso pois tenho um irmão de 14 anos e ele não comprou sequer um CD de música na vida. O que ele precisa é do seu HD externo de 250 GB com mais de mil canções de diversos músicos, nacionais e internacionais, e um programinha instalado no notebook.

Mas esse não é um privilégio só dele. Sabemos que a grande maioria dos brasileiros hoje recorre a programas P2P para pegar aquela nova música do artista x ou y gratuitamente. As opções são muitas. Desde o velho e conhecido Kazaa até a febre dos Torrents, que permitem o download de coletâneas completas de toda a carreira de inúmeros músicos, de Beatles a Ivete Sangalo. Trinta anos de obra musical baixados de graça em (menos de) trinta minutos.

A legislação branda e a fiscalização praticamente nula tornaram esse comportamento praticamente parte da cultura dos brasileiros, afinal é muito fácil ter acesso irrestrito a esse universo sem ter custo algum. O problema é que a conta não está sendo paga por ninguém, e, com isso, os artistas também não têm recebido nada de ninguém. Como fica essa história? É essa a questão que a indústria tem quebrado a cabeça para responder.

Nesse cenário, entra também a velha convergência. Sim, parece piegas, mas ela está aí. E cada vez mais você vai precisar de menos produtos para fazer (muito) mais funções. Seu celular vai ser uma espécie de impressora multifuncional.

É louvável a atitude de marcas como Nokia e Sony Ericsson, que criaram formas de se consumir música sem deixar de despertar o interesse do consumidor conectado e ao mesmo tempo agradando aos artistas. Com os serviços Comes With Music, da Nokia, e Playnow Plus, da Sony Ericsson, os consumidores de celulares dessas empresas ganham acesso a um acervo enorme de faixas, com downloads ilimitados por tempo determinado, mas que é bastante razoável (um ano). É claro que uma parcela do valor do produto já tem embutido o custo dessa operação, mas como os celulares recebem subsídio das operadoras, o preço por um produto com esse serviço fica bastante equivalente aos similares da concorrência que não o tem.

A desvantagem fica por conta do DRM, que é um sistema de proteção colocado nas músicas que impedem que elas sejam passadas para outros aparelhos ou gravadas em CD. Enfim, pode até ser que o modelo ainda não seja perfeito, capaz de ameaçar a hegemonia dos piratas, mas é uma alternativa que pode dar certo. A mudança cultural do consumidor é a grande aposta dessas empresas e essas ofertas são o passo inicial.

É importante colocarmos a mão na consciência e pensar que somos os responsáveis por manter a indústria musical brasileira. Se existem soluções viáveis, baratas e inteligentes, por que não experimentar?

Eduardo Contro é Relações Públicas formado pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e graduando em Direito pela FMU. Tem passagens por agências como Ketchum Estratégia, Burson-Marsteller, S2 Comunicação, The Jeffrey Group Brasil e Lide Soluções em Comunicação. Traz em seu currículo experiência nas áreas de Tecnologia, Finanças e Consumo, tendo atendido clientes como HP, Kodak, FedEx, Oracle, Linksys e Banco WestLB. Na LVBA, é um dos executivos exclusivos da conta da Nokia.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Tecnologia: (adaptação) necessária

Na semana passada, depois de muito pesquisar, comprei um celular novo. O problema é que havia passado quase dois anos com o meu aparelho antigo e, mesmo na época da compra, ele era um celular simples. Assim, eu, uma pessoa que nunca fui muito ligada em tecnologia, tive que aprender a mexer nas novas funcionalidades e ainda usar o touchscreen.

Acho que a dificuldade de se adaptar às novas tecnologias está muito ligada à essência da relação entre o homem e as máquinas que, diferentemente das relações interpessoais, em que é necessário ceder e se adaptar, espera-se que as máquinas cumpram a sua obrigação, ou seja, obedeçam aos comandos do homem. Porém, para que isso aconteça, é preciso saber dar os comandos corretamente.

Naquela noite, comecei a mexer no celular assim que abri a caixa, sem nenhuma supervisão ou ajuda. Nem o manual eu tirei da caixa. O primeiro sentimento foi de medo. Será que eu vou estragar o aparelho novinho? Alguns toques depois fui tomada pela raiva. Essa porcaria não funciona!!! Eu estou mandando e ela não obedece!! É lógico que eu não estava “mandando” direito, caso contrário, o celular “obedeceria”. No ápice da raiva, quase tive um chilique. Por que inventei de comprar esse modelo? Estava bem com o outro. Não preciso de nada disso!

Depois dos ânimos um pouco mais controlados, fui tentando de outras maneiras e o celular foi correspondendo. Aí, passei para um estado de espírito parecido com o de uma criança curiosa que está descobrindo o mundo. E logo tinha descoberto várias funcionalidades e entendido que eu podia sobreviver com um aparelho que tem poucas teclas.

Essa história me fez lembrar outra experiência que tive com a tecnologia. Quando comecei a utilizar o Microsoft Office 2007 tive os mesmos sentimentos que quando troquei de celular: medo, raiva e curiosidade. Tenho que confessar que depois da curiosidade tive um pouco de desânimo. Afinal, era muita coisa diferente, eu não achava nem a opção “arquivo” na barra de ferramentas! Mas, por vontade de alcançar determinado resultado ou necessidade, eu fui me adaptando. É verdade que eu ainda não sou uma expert, mas, depois de alguns meses, já sabia o primordial e tinha segurança para trabalhar com as funções mais complexas.

Eu nunca tinha valorizado tanto essa mudança de versão do Office, mas, há poucos meses, tive que finalizar um relatório que envolvia tabela dinâmica do Excel e gráficos do PowerPoint num Office 2003. Meu Deus, o que é isso?? Como as pessoas conseguiam trabalhar desse jeito?Não é possível!

Até hoje não sei se seria possível fazer todas as coisas que eu queria por meio daquela versão. Achei mais fácil identificar as limitações dela (ou minhas por não saber dar os comandos) e conseguir um computador com a versão 2007, mesmo que por um tempo limitado. Assim, só fiz na versão antiga a parte mais simples e operacional do trabalho. Foi aí que eu entendi a quantidade de funcionalidades novas que a versão atual tinha, o quão melhor elas eram do que as passadas e que os softwares só são atualizados para nos oferecer mais praticidade!

A verdade é que, apesar de a tecnologia ser vista por muitos como um mal necessário, ela traz um bem “danado” para nossa vida. Não consigo imaginar como eu lidaria com a saudade de pessoas queridas que estejam distantes sem a Internet, com a minha vida financeira sem o caixa eletrônico ou com a minha alimentação sem o microondas.

Assim, todas as novas tecnologias trazem facilidades e novas possibilidades para o nosso cotidiano e acabam, mais cedo ou mais tarde, nós querendo ou não, se tornando muito importantes, e até, necessárias para a nossa vida a ponto de nós não lembrarmos como era possível viver sem elas.

Kátia Pula é relações-públicas e apesar de adorar novas tecnologias, tem pena de investir nas grandes novidades do mercado, pois sabe que em pouquíssimo tempo, já estarão obsoletas. Mas admite que uma troca de celular transforma o sentimento de frustração em entusiasmo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O amor e ódio por Barrichello

Talvez não exista na história do esporte brasileiro – e talvez não venha a existir – alguém que desperte sentimentos tão contrastantes em nossa torcida. O brasileiro ama o Rubinho. Porém, mais do que amá-lo, gosta mesmo é de falar mal dele. Falar mal do Barrichello é um esporte nacional. Afinal, são 17 anos com uma constante frustração, que começou a ganhar corpo após a morte de Ayrton Senna. Todo ano acontece a mesma coisa. Mas, todo ano, lá está a torcida, de novo esperançosa, de novo na expectativa. Firme e forte.

Neste domingo, em Interlagos, nosso Rubinho seguiu à risca o cardápio dos últimos anos. Nos animou no sábado para derrubar domingo. E, claro, após a prova, deu sua declaração bizarra do dia. Diz que saiu da pista com o “dever cumprido”. Eu fico me imaginando qual era esse dever: largar da pole e conseguir terminar a prova atrás do rival que saiu de 14º, além de perder a chance de ser campeão em solo nacional? Se era esse, ele não só cumpriu o dever como ganhou palma de ouro ao perder o segundo lugar no campeonato para Sebastian Vettel.

No meio do ano, escrevi uma coluna que falava da estrela de um piloto. Estrela? Sim, aquele “algo mais” que somente poucas pessoas têm. Aquilo que os diferencia da reles maioria – e isso vale para todos os setores da vida. Existe gente muito competente. Outros são oportunistas, ou têm sorte. Mas somente alguns são predestinados a brilhar.

Barrichello prova seu talento a cada corrida. A cada ano. Neste, em especial, mostrou uma maturidade ainda maior, mesclada com uma experiência que só a idade traz. “É um veterano com a vontade de um jovem de vinte e poucos anos”, me disse Nick Fry, o chefe de Rubens. De fato, o piloto da Brawn é elogiado às tampas por onde se passa no grid. Os mais jovens o invejam por ainda estar tão competitivo; os mais velhos não conseguem acompanhar o ritmo. O próprio Michael Schumacher declarou, após a corrida, que não deveria ter parado. Será que viu Barrichello disputando título e se arrependeu?

Tudo isso, no entanto, não adiantou para fazer com que Rubens Barrichello seja campeão. Ou, de forma mais humilde, para que apenas vença uma única vez a corrida de Interlagos. Vou ao GP do Brasil regularmente desde 1997. Na ocasião, Rubens estreava na Stewart e ainda era jovem. As críticas pós-corrida, no entanto, eram as mesmas de hoje. Em 1999, lembro-me quando ele ultrapassou Eddie Irvine, na Ferrari, na nossa frente. Comemoramos como se fosse gol.

A verdade é que amamos Rubinho. Amamos o que ele fez no sábado. E como conseguiu a pole nos segundos finais. Amamos sua caricata simpatia, suas bizarras declarações, sua sambadinha e até uma aparente teimosia em não aceitar a aposentadoria.

Mas também odiamos o Rubinho. Odiamos como ele freqüentemente chega atrás do companheiro de equipe. E como consegue encontrar erros que só ocorrem com ele. Odiamos suas bizarras declarações. Temos vergonha da sambadinha e imaginamos quando ele aceitará a aposentadoria e dará lugar a alguém mais jovem – incluindo o Bruno Senna.

Mas deixe estar. Em 2010, Barrichello estará conosco, novamente em Interlagos. Novamente vamos amá-lo no sábado. Odiá-lo no domingo. E criticá-lo na segunda.

Luis Joly é jornalista, escritor e assessor de imprensa da Nokia. Também é são-paulino, asmático e canhoto. Todo dia, ele está ao vivo no BrotherCast, ao lado de Fernando Thuler, no endereço www.qik.com/luisjoly. E o blog dele? jacksenna.blogspot.com

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Acaso ou predestinação?

Algumas pessoas torcem um pouco o nariz quando digo que sou professor universitário aos 24 anos – e olha que não é em qualquer lugar, mas sim em uma das melhores faculdades de Relações Públicas do Brasil, a Cásper Líbero. Mas, ainda assim, fiquei muito contente por ser convidado a escrever um post para o Dia dos Professores.

Não consegui encontrar nenhum artigo científico que dissesse que ser professor é hereditário, mas eu acho que já nasci com isso no meu DNA. Tenho pai, mãe, tio, tia, avô, avó, tias avó e bisavô professores. Cada em uma área diferente – primários, universitários e até diretor de escola. E mesmo com toda essa herança genética, só depois de dar minha primeira aula é que ficou claro para mim o que meus pais e avós tentaram me contar sempre, mas que eu nunca tinha efetivamente entendido sobre o “ser professor”. É, como eles já haviam me dito, inexplicável.

É claro que tem um lado oneroso, que fica bem claro em final de bimestre, quando tenho que corrigir centenas de provas e trabalhos, e também ao longo do ano, ao ter que despender muitas horas do fim de semana para preparação da aula. Mas – definitivamente – não é sobre o ônus de ser professor que eu quero tratar. Menos ainda nesse dia.

Eu assumi a disciplina de Gestão da Comunicação Interna na Faculdade Cásper Líbero no começo deste segundo semestre, depois de integrar por um ano e meio um projeto chamado "Professor do Futuro", desenvolvido na Faculdade para os egressos do curso de Relações Públicas. Não faz parte do Programa que o participante vire professor da instituição, mas, além dos meus estímulos genéticos, tive uma força do acaso.

Enquanto integrante do projeto, eu acompanhava a professora Viviane Mansi (e aqui faço questão de abrir esses parênteses para reforçar minha admiração pessoal e profissional por ela!) e, como seu assistente, auxiliava na correção de provas e trabalhos, na preparação de aulas e outras coisas. Acontece que ela ficou grávida e tirou licença-maternidade. Fui, então, convidado a assumir as turmas de terceiro ano na matéria até o final de 2009. Uma experiência – garanto – inenarrável.

Enfrentar três turmas de cerca de 50 alunos durante cem minutos cada não é fácil e em nada se assemelha aos seminários que eu tinha que apresentar na minha época de faculdade. A questão do “ser professor” passa pelo gerenciamento de 150 expectativas diferentes em relação ao que você tem para falar, pela dúvida constante se você está se fazendo entender e pela satisfação indescritível do brilho no olhar de um aluno ao te ouvir.

A questão do “ser professor” é conhecer e sentir todo o desgaste e estresse da profissão e ainda assim sentir-se bem depois de uma aula, com uma sensação de missão cumprida. E voltar na semana seguinte com a mesma disposição e fazer isso por um, dez, vinte anos. Ok, sei que só estou no meu primeiro ano, mas com minha experiência na Cásper a um bimestre do fim, não posso negar que gostei.

Bruno Carramenha é executivo de atendimento da LVBA Comunicação e não demorou muito para, depois de formado, voltar à Faculdade. No dia do Professor, comemora mais que a data; uma conquista pessoal.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Consulta Online?

Há um tempinho, fiquei doente. De um dia para o outro, minha garganta inflamou e eu quase não conseguia engolir ou falar de tão inchada que a amigdalite ficou. Fui ao Pronto-Socorro de um Hospital bacana de São Paulo e o médico olhou e medicou. Normal. Normal se eu não fosse filha de médicos. E pior, filha de pai otorrinolaringologista. Além de, quando criança, ser a única que conseguia falar a palavra sem enrolar a língua, o fato de ele ser um especialista em ouvido, nariz e garganta sempre me rendeu benefícios (além de muito orgulho), mas também me deixou mais exigente nas raras vezes em que preciso visitar um médico.

Antes de ir a qualquer especialista, sigo uma maratona de medidas que começou a ser construída com meu avô, que também era médico. Depois meus pais; depois meu Trabalho de Conclusão de Curso na faculdade para um Hospital; depois meu estágio em outro Hospital e meu encontro com o setor da saúde no trabalho, depois de formada. E que continua até hoje. E que eu adoro. O contato com médicos e variados assuntos de medicina e saúde me interessam cada dia mais. Então, antes de marcar uma consulta com um médico, procuro o nome dele no Google, depois no CRM, depois no CNPQ, depois em publicações na imprensa. Isso claro, quando não consigo indicação de alguém conhecido. Prefiro, sempre.

Antes de sair de casa e de morar tão longe dos meus pais, eles eram meus médicos fixos. Eles me examinavam e quando o problema lhes escapava às especialidades e ao conhecimento geral que têm do corpo humano, indicavam para algum amigo completamente confiável. Muito confortável isso, né? Pois agora eu moro há mais de mil quilômetros de distância. E me vejo com febre de 39ºC e com a amigdalite ardendo de dor. Fora a carência que bate de estar sozinha, vem a insegurança de confiar em um médico de Pronto-Socorro. “Será que ele olhou com atenção?”, “Será que o remédio que ele receitou é a melhor opção?”, “Será que ele sabe quanto está doendo?”, “Será que ele sabe o que está falando?”, “Por que ele não me deu um abraço e disse que vai ficar tudo bem?”. Pensei: meu pai saberia tudo isso com certeza. E ainda me daria muitos beijinhos, me pegaria no colo e diria que vou sarar loguinho.

Eis que o melhor médico do mundo, mesmo lá de longe, teve uma ideia. “Filha, liga sua webcam, desliga as luzes do quarto, pega aquela caneta-lanterna que eu te dei e uma colher. Vou examiná-la”. Perguntei se isso era possível e ele disse que com a minha ajuda, tudo daria certo. Fiz como ele pediu e, seguindo as instruções, fui examinada à la web 2.0. “Mais pra baixo, filha, empurra mais a língua e foca a luz mais no fundo... Isso... Vixe! Tá feio mesmo, heim filhona!”. Pois é. “Mas vai sarar. Amanhã você vai acordar bem melhor. Você vai ver!” E acordei. Juro.

O que é o advento das ferramentas da internet na vida de uma pessoa? Diversas vezes trabalhei pautas sobre tele medicina, o uso de robô em cirurgias, compartilhamento de imagens em tempo real, mas nunca parei pra pensar em uma possível consulta online com meu pai. Acho que o mais impressionante e interessante da internet e todas suas vertentes é transformar o que parece complexo e distante em algo simples e próximo da sua realidade.

Ficou faltando o abraço e o colo. Será que um dia chegamos lá com a tecnologia?

Mayra Martins é relações-públicas e executiva de atendimento da LVBA Comunicação. Filha e neta de médicos, na agência, ela já atendeu o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e hoje atende a Unimed-BH. O relacionamento constante com médicos faz com que ela se sinta um pouco médica também.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A mulher biônica trabalha e é mãe

Há o risco de que este artigo desperte interesse em apenas uma parcela de leitores: mulheres, executivas e com filhos, já que o assunto é a complexa conciliação entre trabalho e maternidade. Como ainda tem muita água para rolar, afinal meu filho, Eduardo, tem um ano de vida apenas, sei que preciso reservar muita habilidade para continuar a equilibrar os pratos. Com este oceano pela frente, resta então falar da minha experiência e percepções vividas até aqui.

O retorno ao trabalho é, sem dúvida, o mais complicado. O temido fim da licença-maternidade, assunto que frequentemente marca presença nas revistas femininas com dicas de especialistas e depoimentos de mães, tem mesmo razão de ser. A explicação está na lógica feminina, me acompanhem: os bebês nascem, mas não acompanham manual de instrução, fato que por si só é suficiente para desesperar qualquer mulher (sim, somos obcecadas por termos sempre o controle da situação). Com o tempo a mãe começa a sentir um pouco mais de segurança, descobre que a rotina é sua melhor aliada e que os bebês precisam dela. Até que, justamente quando ela acredita que está se adaptando àquele pequeno ser, precisa voltar a uma realidade difícil e competitiva que é o mercado de trabalho.

Foi uma fase em que equilibrei um turbilhão de sentimentos, sendo o principal deles a culpa por delegar a outra pessoa a tarefa de cuidar do meu filho. Mas houve também um receio de que a minha imagem profissional fosse prejudicada, que achassem que eu não seria mais tão dedicada quanto antes ou que não daria conta das responsabilidades por dispersão de foco. Segui duas estratégias, a primeira foi retomar conversas com a equipe para uma reintegração gradual dos processos de trabalho, e a segunda era a de evitar boletins diários sobre o meu filho. Confesso que é difícil não compartilhar deliberadamente sobre a evolução dele, não contar propositadamente sobre o que a “coisa mais linda da mamãe” tem feito de novo, mas segurei a onda e só enchia os ouvidos de quem pedisse notícias dele, juro!

O cansaço físico também é outro agravante desta fase de volta ao trabalho pós maternidade. No meu caso, que ainda amamentava, tive que ouvir do meu médico que eu tivesse consciência que havia virado mãe, apenas, e não a mulher biônica. “O corpo não aguenta a dupla jornada intensa e você precisa ir com calma, cobrar menos de si e pedir ajuda”. Este conselho foi fundamental para que as coisas se acalmassem. Do lado pessoal, contei com o apoio imprescindível do marido e de uma estrutura doméstica mais organizada, e do lado profissional com a compreensão e ajuda da equipe, que respeitou a minha retomada gradual ao ritmo de trabalho e logo souberam que podiam contar novamente comigo.

Caso tenha ficado alguma percepção que a experiência desta conciliação de tarefas e de papeis é ruim ou que eu a desaconselharia, sinto desapontar. É desafiador e difícil, mas o que não tem sido exatamente assim para a grande parcela de mulheres no mercado de trabalho? E como qualquer outro desafio pede equilíbrio como canta Leila Pinheiro na Serra do Luar: “...tudo é uma questão de manter, a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo...”.

Edna Lira, também conhecida por Dinha, é formada em Relações Públicas e gerente de atendimento na LVBA. Com 1,57m de altura, está conformada que não tem porte para ser mulher biônica.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Acredito em Lavoisier, não em coincidências

Não acredito em coincidências, mas coincidência ou não, um dia antes de ver no Yammer o link para o post “O papel da Assessoria no mundo da web – Se cada um pode comunicar na web, por quê eu preciso de um assessor de imprensa?”, enviado pela Natalia, meu irmão, que é médico e não é lá muito interado do mundo de comunicação vira e me fala: Olha, com essa história de Twitter você vai acabar sem emprego!

Como assim? De onde ele tirou isso? Ele sequer tem Twitter. Foi quando argumentei sobre diversos fatores que o fizeram, teoricamente, mudar de ideia.

O universo da web é um mundo com novas possibilidades e diversas ferramentas de disseminação de conteúdo. O Twitter e outras tecnologias afins, como Orkut, Facebook, blogs etc ajudam a compartilhar conhecimento, comunicar ideias, fazer contatos e até mesmo vender produtos. Por meio desses é possível trocar informações de maneira rápida e abrangente, o que consequentemente pode melhorar, até mesmo, o desempenho dos negócios.

Com certeza a web é um mundo em constante expansão e que trará novos desafios dia após dia. Passamos por um momento de transição dentro da cultura da comunicação, e como diria o pai da química, Antoine Lavoisier, na sua lei da conservação da matéria: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

Sob o olhar da transformação, tenho a opinião de que o caminhar das nossas atividades não deixou de existir, ele está, na verdade, passando por um processo de adaptação, pois fatores essenciais para a manutenção e construção da imagem de uma companhia continuam fazendo parte do cenário.

Annia Vuolo é Assistente de Atendimento da LVBA Comunicação. Depois de fazer dois anos de Relações Internacionais, finalmente se formará em Relações Públicas, ama viajar e acredita piamente que o Facebook é muito melhor que o Orkut. Falando nisso, o dela é esse aqui.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A internet, em vez da TV

Padron[1] Recentemente, tive uma experiência bem interessante, que comprova algo que já havia constatado. Meu sobrinho, de um pouco mais de dois anos, trocou uma grande TV de LCD por um computador, de 15’. Nas duas telas, o conteúdo era infantil. Mas então qual foi o diferencial? Na web, o menino acessou o conteúdo que melhor lhe convinha, na hora desejada. A internet ofereceu a ele algo customizado e isso justificou a preferência. Ele e todos nós não dependemos mais das programações engessadas da televisão.

Para entender a influência da internet, sobretudo, nos jovens é preciso reconhecer dois fatos, apontados por Pierre Lévy, um dos mais lúcidos filósofos e professores de nossa atualidade. Diz ele: “o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em segundo lugar, que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano”.

Em minhas pesquisas sobre cibercultura, levantei algumas características sobre esta tal de geração “C”, a que nasceu conectada à internet. A saber,

  • Não diferem real e virtual;
  • Facilidade para atuar em rede, grupo, explorar o conceito de coletivo;
  • Dominam amplamente a nova linguagem, resultante da web;
  • Se baseiam em informação digital e customizada;
  • Necessidade de compartilhamento de idéias e opiniões;
  • Relacionamentos e vínculos criados e desfeitos mais facilmente;
  • Entendem a web como uma extensão de suas personalidades reais;
  • Vivem a cultura de uma informação “sem dono”;
  • Confiam mais em seus pares.

Para entendermos melhor o significado do comportamento desta nova geração, vamos destacar alguns traços de gerações anteriores – a minha e a de meus pares,

  • A vida, de verdade, é só o real;
  • Preconceito de diferentes níveis contra novos nichos e tendências;
  • Relacionamentos baseados nas práticas tradicionais;
  • Conhecimento nos meios de informação tradicionais;
  • Inabilidade para lidar com novas tecnologias;
  • Vínculos estáveis;
  • Mistura de velhos com novos valores culturais;
  • Respeitam fontes e formadores de opinião;
  • Resistência para mudanças.

Analisando um pouco a história, constatamos que os novos meios não anularam os anteriores. A escrita não morreu tampouco o rádio e o cinema. A internet não decreta o fim da TV, apenas a estimula a mudar: tornar-se mais interativa, colaborativa e com conteúdos customizados e muito mais diversificados.

Rodrigo Padron é jornalista e especialista em mídias sociais. Tem pós-graduações em Marketing e Comunicação Empresarial. Gerencia os projetos da Nokia do Brasil na LVBA e edita o blog Ponto de Desequilíbrio.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Como virar celebridade

No dicionário, a palavra celebridade aparece com significações como notável, digno de atenção e de nota, extraordinário, ilustre, famoso. Bom, além do dicionário, nas páginas das revistas, jornais, telas de TV e na Internet, o negócio é bem diferente. Hoje, o que se define como celebridade está longe de refletir essas significações tão pomposas. O termo caiu, definitivamente, no lugar comum. Me arrisco até a sugerir que seja redefinido.

Para ser ilustre, receber a atenção de milhões de pessoas, estar na lista de notícias mais acessadas dos sites e de programas mais vistos na TV, enfim, ser chamado de “celebridade”, não é preciso fazer muito. Só para se ter uma idéia, em portais de notícias como G1, UOL e Terra, é comum que notícias que falam sobre as supostas celebridades estejam entre as mais acessadas. Elas estão ali, no páreo com as notícias sobre catástrofes, violência e fatos bizarros.

Na rua, no trabalho, na sala de espera do médico, é tampouco raro ouvir comentários sobre fulano de tal que ganhou a “Fazenda”, do cicrano que ganhou o enésimo Big Brother, do beltrano que participou das competições entre famosos comuns em programas de auditório do tipo Faustão e Gugu . Para virar celebridade, embora “instantânea”, basta conhecer a pessoa certa, estar no lugar certo e na hora certa. Pronto, uma fórmula nada extraordinária.

Os reality shows, que se multiplicam na televisão brasileira, sob as mais diversas formas e temas, são, atualmente, os espaços ideais para quem sonha em virar celebridade e para aqueles que precisam de um empurrãozinho na carreira digamos “decadente”. Não conseguiu emplacar pelo talento? Fácil, participe de um reality show e consiga pelo menos os velhos 15 minutos de fama. Que o diga - só para citar exemplos mais recentes – Dado Dolabella, Danni Carlos e o tal Carlinhos.

Este último, cuja profissão é “humorista”, é um exemplo clássico: virou “celebridade” da noite para o dia, participando de um reality show e expondo sua vida pregressa (menor abandonado, morador de rua) para milhões de pessoas. Espaços enormes na programação da emissora foram destinados a mostrar o reencontro do Carlinhos com a mãe, com o pai, com os irmãos, tudo isto incrementado por detalhes que chegam a ser grotescos: textos emotivos (pra não dizer piegas), fundo musical e imagens tristes, além de lágrimas, muitas lágrimas. Para mim, chega a ser constrangedor. Resultado: o humorista virou, em poucos meses, “celebridade”, com direito a cachê para participar de festas badaladas, que precisam desse tipo de estratégia para emplacar na mídia de massa.

Ainda sou daqueles que acreditam que, para ser célebre, ilustre e notável, conforme a definição do dicionário, é preciso muito mais do que conhecer a pessoa e estar no lugar certo, na hora certa. É necessário ter, no mínimo, talento. Que o digam as verdadeiras celebridades!

Benedito Teixeira é jornalista, trabalha como assessor de imprensa, mas gostaria mesmo era de ganhar a vida escrevendo contos. Não pretende ser celebridade.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Professor, pode copiar e colar?

Sou pai de uma menina que cursa o 8º ano do ensino fundamental, antiga 7ª série, e me preocupo como a escola encara o uso da internet nos trabalhos escolares, dentro e fora da sala de aula.

Apesar de trabalhar com tecnologia, tenho sempre a sensação de que usar a internet para trabalhos escolares é o mesmo que “colar” o trabalho de algum colega. Afinal, existem tantos sites com trabalhos prontos que basta você copiar e colar, tomando o cuidado de mudar o nome, que sua nota está garantida. Isto aterroriza qualquer pai que se preocupa com a educação do filho.

A escola onde ela estuda também tem o mesmo receio, mas, ao invés de fechar os olhos, proibindo o uso, ou mesmo, ignorando a existência da internet, ela incentiva e orienta os alunos como usar melhor esta ferramenta.

Isto gerou mais trabalho para os professores, porque antes eles detinham e transmitiam o conhecimento, e hoje eles sabem onde o conhecimento pode ser encontrado e cabe a eles orientar os alunos em como chegar lá.

Vou citar um exemplo para ilustrar melhor o que acontece: ela estava estudando sobre o Egito antigo, e o professor de história pediu para a classe um trabalho sobre o Egito atual. Puf! Não existia este trabalho pronto na internet. Não tinha como “colar”. Mas, ela encontrou um monte de material sobre o Egito atual. Foi só juntar as informações e montar o trabalho solicitado. Mas para isto teve que pesquisar, ler, interpretar, entender... Tudo o que o professor queria.

Outro caso aconteceu recentemente, durante “extensão” de férias por causa da gripe A H1N1 (mais parece batalha-naval do que nome de gripe). Os professores passaram diversas lições de casa via o portal do colégio. A professora de português passou um link de um vídeo no Youtube que era uma animação de uma música do Titãs e um link para a letra desta música. Era um simples exercício de interpretação de texto, mas como a “não-presença” do professor poderia ser um problema para a interpretação, ela utilizou o vídeo como um recurso auxiliar para o aluno. Fantástico!

São alguns exemplos de como a internet pode ajudar na educação. Sei que nem tudo o que está postado são verdades ou são boas, mas, antes de proibir, o melhor é ensinar a usar direito.

Valnei Lorenzetti é analista de sistemas, apaixonado por tecnologia e adora sua filha.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Como sumir nos dias de hoje? Belchior ensina

A partir de uma matéria do Fantástico, no último domingo, criou-se uma situação quase que inaceitável nos dias de redes sociais, que não deixam nada sob o tapete, que não permite segredos e que oferece uma eterna troca de idéias ou de simples boatos na Web. O cantor cearense Belchior, diga-se de passagem meu conterrâneo, conseguiu sumir no “oco do mundo”, expressão também da terrinha. Incrível!!! Internautas de todo o país estão chocados. Como ninguém sabe dele? Nenhuma foto de celular? Nem um twitteiro informado? Parem o mundo. Não é que o cabeça chata “causou”.

Já existe até o blog “Cadê Belchior?” com fotos do artista em vários registros históricos e em retratos cômicos. Humoristas do Treta já até fizeram “Mais um Brasileiro em Lost”. Gênio! Anunciaram que, depois da passagem relâmpago de Rodrigo Santoro pela série de TV americana, temos “mais um brasileiro em Lost’’. E o site http://twitpic.com/f41qh/full, coloca você para procurar Belchior. Mais uma genial. Sem falar nas mais de 50 comunidades no Orkut, como: Onde está Belchior?, Belchior, Volta pra Casa! e Alguém viu o Belchior. E ainda tem mais. Fãs do cantor já criaram um manifesto que chamam de “Campanha Volta Belchior’’ para show de Fagner, também cearense, no sábado, no Rio de Janeiro.

O mais incrível de toda essa história é que mesmo tendo conseguido driblar o controle dos tempos modernos, as mídias sociais não descansarão enquanto o compositor e cantor não oferecer o ar da graça. Não se tratando de uma tragédia ou de uma fuga desesperada de dívidas, como vêm comentando, a história de Belchior é um case de estratégia de assessoria de imprensa a ser estudado.

Com o sumiço, o cantor conseguiu uma linha de divulgação perfeita: exclusiva na grande revista eletrônica do país, disseminação pelas Internet, apuração com destaque e constante nos principais veículos do Brasil e ainda repercussão no exterior.

Para concluir, desejo que meu conterrâneo esteja bem e que ainda possa comentar sobre todo esse burburinho que ele conseguiu provocar sendo “apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no bolso...”

Ada Mendes é jornalista, especializada em economia, e adora um dicionário de português. Veio lá de Fortaleza, mas gosta de ser vista como cidadã do mundo. O panqueique.blogspot.com é o seu cantinho de falar bobagem.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

E aquele roqueiro chato continua o mesmo...

Alguém mais teve o azar de assistir ao Prêmio Multishow na última terça-feira? Cansado de ser chamado de roqueiro saudosista, um mala que não gosta de nenhuma banda nova e um preconceituoso que não respeita músicas brasileiras, decidi acompanhar aquela que se autodenomina a principal premiação musical de nosso país.

Não precisou muito tempo para eu perceber que, além de nós brasileiros ainda não sabermos fazer um evento ao vivo (microfones que não funcionam, piadas mais sem graça do que as do Oscar, etc), a noite foi uma sucessão de apresentações pífias de músicos que, cada vez mais, comprovam a decadência da música nacional.

A primeira prova disso foi a imensa quantidade de covers e versões presentes no palco, o que para mim é uma evidência de que as músicas destes artistas não empolgam e estão longe de serem hinos cantados em massa pelo público. Ao ouvir da apresentadora da noite, Fernanda Torres, as palavras “Toca Raul!”, já imaginei o pior. No palco, o ex-titãs Arnaldo Antunes e a revelação da MPB Ana Cañas cantam “Como Vovó Já Dizia”. Parece incoerente, mas seria melhor ouvirmos Ana, uma música emergente de música popular brasileira, cantar Raul Seixas sozinha do que com o “consagrado” roqueiro que fez parte de uma das mais importantes bandas do gênero no Brasil. Enquanto a jovem cantora dava show, com uma voz surpreendentemente potente para o rock and roll, Antunes, preguiçoso no palco, não empolgava e o pior – desafinava.

E desafinar em rede nacional e, como diria Galvão Bueno, ao vivo para todo o Brasil, não foi privilégio de Arnaldo Antunes. Em uma homenagem para Rita Lee, que de tão lesada parecia o Ozzy Osbourne brasileiro, Pitty, acompanhada de Gilberto Gil, conseguiu piorar uma das piores músicas da roqueira – “Ovelha Negra”. Como se não bastasse, o número contava com mais duas músicas, também da pior fase de Rita Lee – “Mania de Você” e “Lança Perfume”.

E para quem pensou que Gilberto Gil pudesse salvar o momento, se assustou ao presenciar um backing vocal repetitivo com gritos de gralha à la “A Novidade”. Na sequência, Rita Lee sobe ao palco com a netinha de 3 ou 4 anos e, em vez de simplesmente agradecer, profere palavrões sem pudor e aproveita para cutucar a Igreja Universal.

Mas o momento de maior indignação do roqueiro que vos escreve foi ver 3 bandas emo, NX Zero, Fresno e Strike juntas no palco. E, como não podia ser diferente, o grupo de adolescentes problemáticos decide assassinar um hino do rock nacional, a ótima canção “Inútil” do Ultraje A Rigor. Por sorte, acho que Roger, vocalista do Ultraje e compositor da música, não estava presente para ouvir tamanha heresia (alguém me explica o que foi aquele rap/reggae proferido pelo vocalista do Strike? Outra pergunta: alguém sabe o nome dele? Uma mais fácil então: alguém conhece alguma música do Strike?).

Caros amigos, sinto informar, mas acho que vou continuar sendo aquele rockeiro chato, que só escuta o mesmo disco, que só baixa músicas das mesmas bandas e que, agora com mais fervor, é um preconceituoso com o jeito que a música é conduzida no Brasil.

Mas eu sei que sou quem vive em outro mundo. Na mesma noite, Fresno foi eleito o melhor grupo e NX Zero o melhor CD lançado no Brasil em 2009. E o Strike? Não ganhou nada? Fiquem tranqüilos, ano que vem tem mais.


Fernando Thuler é jornalista, escritor e apaixonado por música. É também o vocalista da Black Beers Band, que, numa última tentativa, mantém as canções clássicas do rock and roll vivas pelos palcos de São Paulo.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

100% Jornalismo!

A minha chegada ao mundo corporativo aconteceu em grande estilo. Não estou exagerando, não! E logo vocês vão entender.

Depois de passar por grandes veículos de comunicação – como O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, Nova (Ed. Abril), Crescer e Pequenas Empresas & Grandes Negócios (ambas da Ed. Globo), e IstoÉ Gente (Ed. Três) –, fui convidada em 2003 para ser assessora de Comunicação Interna da maior empresa brasileira naquela época. Tenho razão quando falo em estreia em grande estilo, não acham?

Devo confessar, entretanto, que não entendia nada do assunto. Nunca tinha trabalhado com comunicação empresarial! E sequer tinha estudado o assunto na faculdade. Mesmo assim aceitei o desafio porque queria fazer algo diferente profissionalmente e aquela era uma ótima oportunidade. Foi, inclusive, a certeza de estar diante de uma oportunidade única que aplacou a minha tristeza de estar abandonando o jornalismo.

Encantado com a minha vasta experiência profissional, o gerente de Comunicação me recebeu muito bem. A animação dele contrastava com o meu desespero. Juro que nos primeiros dias eu só conseguia pensar “o que vim fazer aqui?!”

Uma angústia que piorava à medida que eu tomava conhecimento da qualidade das ferramentas de comunicação interna, que era extremamente inferior quando comparada ao padrão impecável do material de divulgação externa da companhia.

Um bom exemplo: ao ligar o computador, o colaborador recebia em sua tela um PowerPoint com informações atualizadas diariamente. Em vez de ter notícias relevantes e ser usada como uma agenda, a ferramenta era editada com frases ao estilo “pensamentos do dia”. Algo que não combina, de forma alguma, com veículos corporativos.

Minha saga, entretanto, começou pelo boletim interno. Sem saber direito o que fazer, resolvi usar meus anos de aprendizado jornalístico para dar uma melhorada no jornal. A cada entrevista, fazia a fonte decodificar as informações e, principalmente, as inúmeras siglas da empresa, que antes apareciam aos montes nas páginas do jornal.

Muitos entrevistados tentavam fugir das explicações com o argumento: “fique tranqüila, os colaboradores estão acostumados, eles vão entender o que estou falando”. Candidamente, eu respondia: “sou eu quem precisa entender, senão como vou escrever um bom texto?”.

Em pouco tempo, o jornal circulava com novo projeto editorial e gráfico. Uma das grandes mudanças foi dar mais espaço e visibilidade aos colaboradores. Com isso, o boletim ganhou credibilidade. Se antes faltavam pautas para preencher as páginas, pouco tempo depois faltavam páginas para tantos assuntos.

Enfim, na prática, descobri que ao deixar a redação rumo ao mundo empresarial não tinha deixado de ser jornalista. Muito pelo contrário: continuava jornalista mais do que nunca! Hoje, aqui na LVBA, ao finalizar a edição de um veículo corporativo, fico feliz de ter cumprido o meu papel de informar. Continuo jornalista em 100% do meu tempo!

Silvia Lenzi é diretora de Redação da LVBA. Formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, adora viajar e não perde a oportunidade de conhecer novidades e de se lançar em novos desafios. Tanto que sua primeira reportagem remunerada foi sobre adubo verde – lógico que, na época, não tinha noção do que isso significava, mas hoje consegue dar uma aula sobre o assunto.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

AhaUhu, um dia a Bolsa é nossa!!!

Eu de novo, pessoal! Vim compartilhar com todo mundo uma boa notícia: no dia 08 de agosto (sábado agora), a BM&FBovespa estreia um programa semanal na TV Cultura cujo nome é Educação Financeira. “Taí” a chance de muita gente entender mais e melhor este universo do mercado financeiro!!! Já combinei com meu marido que no sábado, entre 10h15 e 10h30, o sofá e o controle remoto são meus... O programa será exibido todo sábado e tem duração de 12 minutos. Rápido, curto, direto e provocativo: fica a sensação de “ããããã, acabou...”. Mas no outro sábado tem mais!!!

Pelo que foi divulgado na mídia (eu, Mesquita, achei que faltou trabalhar mais o tema...), o programa é mais uma estratégia agressiva de popularização do mercado acionário da Instituição: dados apontam que as Bolsas vão investir cerca de R$ 20 milhões em atividades de popularização do mercado. Uau!!! Ano passado foram “apenas” R$ 10 milhões. Um dado interessante: em 2002, o número de pessoas que aplicavam na Bolsa era apenas 85 mil. Com o “Educação Financeira”, a BM&FBovespa espera alcançar uma audiência de cerca de 80 mil pessoas todas as semanas apenas na Grande São Paulo.

O que as Bolsas querem? Multiplicar por dez a base de investidores pessoa física com aplicações em ações nos próximos cinco anos. Com isso, o total de investidores sai dos 521 mil e vai para cerca de 5 milhões... É muita gente, vai ser muito dinheiro. A economia agradece, as corretoras também e eu mais ainda! Apesar de gostar de aplicar, sinto muita falta de me aprimorar ainda mais no tema. Agora eu tenho um programa que vai falar comigo sobre todo este mundo paralelo e surpreendente que envolve dinheiro, escolhas, sorte (sempre tem um pouco disso em tudo na vida)...

Falando em educação financeira: acredito que num país como o nosso ela é essencial e devia fazer parte da grade curricular de escolas e da vida da gente desde criança... Como é difícil lidar com dinheiro! O Brasil é um país que por cultura não é poupador, e isso é crítico. Acho que se a gente aprendesse desde pequeno o “valor” que o dinheiro tem, ia ser bem mais difícil cair no buraco depois de grande. Você já parou para organizar suas finanças? Já teve uma visão ampla de quanto gasta, de quanto ganha, de quanto você precisaria poupar para ter uma vida confortável lá na frente? Eu faço isso todo mês e quero morrer de raiva...

Quem sabe, aprendendo a poupar, a investir, a vida fica mais fácil quando tudo indica que ela será mais difícil?!

Bom, é isso.... Só voltei para compartilhar com todo mundo esta boa notícia!

Daniela Mesquita, ou Mesqui, é uma das 521 mil pessoa física que investe na Bolsa atualmente. Pretende continuar fazendo da base de investidores pessoa física da BM&FBovespa, mas para isso precisa começar a sobrar um pouco mais de dinheirinho!

Leia também: Dá para ficar rico na Bolsa?

(Não)Fumando (des)Espero

Não e não. Definitivamente não entrarei na discussão sobre a proibição do fumo em ambientes coletivos fechados – públicos e privados – que entra em vigor no próximo dia 7 de agosto no Estado de São Paulo. Também não vou me atrever a listar os tão conhecidos malefícios do cigarro, nem tão pouco os benefícios de sua ausência. Farei coisa pior: Quero contar um pouco dos meus quase três meses de abstinência, depois dos meus quase 10 anos de tragadas, pitadas, baforadas e afins.

Para explicar como me sinto hoje, passados quase 90 dias desde o meu último cigarro, eu só posso dizer uma coisa: Meu Deus... Que vontade de fumar!

Pode parecer exagero, mas depois de devorar minha última barra de cereais (a bola da vez na minha rede de substituições) foi exatamente nisso que pensei. Nessa vontade que ainda persiste, mas que venho driblando como posso.

Fácil? De jeito nenhum.

Certa vez, passados os 15 piores dias da minha vida (Ok! Pode ser que não sejam os 15 piores, mas se eu tivesse uma lista com dez, dos 15 piores dias da minha vida, este período com certeza estaria lá), falava sobre o tema com meu amigo Javier Fierro, fiel companheiro do cigarrinho, entre uma entrevista e um texto. Ele disse: O cigarro é o complemento. É a palavra que liberta as idéias que não chegam enquanto estou na frente do computador.

Pode parecer desculpa do fumante-em-recuperação-inclinado-à-recaída, mas não.

Não raras vezes, as idéias para terminar um texto, um argumento novo, uma linha criativa até então desprezada voltavam comigo para a mesa, acompanhadas pelo odor característico da nicotina, do alcatrão e das milhares de deliciosas substâncias químicas contidas naquele cilindro de papel.

Eu disse odor? Sim, vá lá. O cheiro realmente não é bom. Percebi isso já nos primeiros dias. Mas até disso eu sinto falta. Sei lá. Acredito que já estava incorporado às minhas roupas e bugigangas em geral. Era como se eu marcasse meu território sem, no entanto, precisar urinar nelas.

Mas seja como for, parei. Era necessário. Minha super-bombinha-bronquio-dilatadora não é mais tão requisitada (sim, a bronquite asmática é uma de minhas características mais charmosas), as pessoas não reclamam e nem torcem o nariz quando entro no metrô – pelo menos não por causa do meu cheiro - e a economia para o bolso foi muito boa para meu combalido estado financeiro.

Por sorte parei antes do aumento nos preços e antes da lei antifumo. Hoje, além de não saber o preço de um maço de cigarros, também estou um pouco mais adaptado ao cenário bebidinhas-sem-cigarros e baladinhas-sem-cigarros, o que me deixa um pouco menos chateado/mal humorado.

Continuo fazendo bicos involuntários, acompanhando as tragadas alheias. Mas acho que aprendi a disfarçar melhor. Aliás, só para que vocês saibam isto é bem comum. Me senti retratado (foi um alívio a ter certeza de que eu não estou sozinho nessa), quando o ator Ney Latorraca, no documentário Fumando Espero, contou sobre a quase tristeza que lhe abate ao assistir ao jogar fora de um “lindo” cigarro, praticamente inteiro.

E por falar em jogar fora – só para não falarem por ai que escrevi apenas para choramingar a falta do cigarro – tenho uma pequena consideração sobre a adequação dos locais onde já não se permite mais fumar: Será que alguém já pensou em colocar mega-cinzeirões na entrada de bares, restaurantes e afins, ou será que as bitucas, guimbas e pontas que se acumulam nas calçadas próximas a estes estabelecimentos fazem parte de um sagaz tratamento de choque para os fumantes resistentes? Melhor imaginar que sim.

Ps: Será que o cara que batizou os fiscais que irão realizar as blitze da lei antifumo como os “Caça-fumaça” é o mesmo cara que inventou aqueles nomes maneiros para as operações da Polícia Federal? Melhor nem pensar nisso.

Wagner Pinho, Executivo de Atendimento da LVBA Comunicação. Fumante em recuperação que acredita de verdade que com um ou dois cigarrinhos este post sairia muito mais rápido.