quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Shit My Dad Says

A nova comédia que estréia no Warner Channel, no próximo dia 07, pode ser vista como o primeiro fruto da era eletrônica. “S#*! My Dad Says” deve sua existência ao twitter, uma das principais mídias sociais junto com o Facebook (que também tem um filme sobre sua história, ou pelo menos, uma versão de alguns envolvidos). A origem de tudo foi à recessão econômica, que levou o jovem Justin Halpern a perder o emprego e sem condições de se manter, voltar a morar com seu pai, um médico e ex-marinheiro, que fala o que pensa de forma nua e crua, doa a quem doer. Diante do que o pai dizia, Justin começou a compartilhar suas experiências no twitter e logo outros começaram a dar risadas. O twitter virou um sucesso e arrebatou mais de um milhão e meio de seguidores e um livro com citações que virou um best-seller.

A série embora tenha sua modernidade, até pela sua origem, mistura elementos clássicos da velha escola das comédias de situações: multi-câmeras, claquete de risada (no piloto chegou a ser irritante nos primeiros dez minutos) e uma dupla antagônica. Os produtores David Kohan e Max Mutchnick, os mesmos de “Will & Grace”, preferiram apostar no caminho fácil e não arriscaram inovar. Felizmente o material encontrado no twitter é ótimo e mesmo perdendo na adaptação das frases curtas para uma produção de pouco mais de vinte minutos, consegue manter o humor. William Shatner, o eterno Capitão Kirk da série “Star Trek – Jornada nas Estrelas” é um dos poucos atores septuagenários que trabalha regularmente, consegue encarnar bem o personagem. Shatner consegue extrair o riso e mesmo quando o personagem é antipático, ele empresta seu carisma. Afinal, Ed mesmo sendo durão e de uma geração que abomina as demonstrações de afeto masculino, não quer terminar sozinho nem perder o elo com seus filhos.

A série pelo que pode ser vista nos primeiros episódios vem crescendo no ritmo e mantendo o clima do piloto, ou seja, o conflito de gerações. Ed, que passou por divórcios e guerras, tem sua filosofia enraizada e opiniões formadas para quase todos os assuntos, contrastando com o filho Henry, que tem um jeito mais tímido e inseguro, além de viver num mundo em constante mudança. Ed é adepto das formas simples para a vida enquanto Henry desconhece o caminho. Uma dupla improvável, unida por uma situação inesperada, é o que mantém o humor da série. Se a fórmula clássica vai durar ou não, só o futuro sabe.

Tony Tramell é fã de cinema e TV. Acha que hoje em dia a produção para TV proporcionalmente é superior a do cinema e já ouviu também muita M&#%@ dita pelo seu pai.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Perda ou ganho?

A perda de um ente querido nos faz refletir sobre uma série de aspectos. Digo isso, porque há sete meses meu pai faleceu. Com a morte anunciada há pelo menos 20 anos, cada dia depois de vida de meu pai era uma prova irrefutável de que milagres acontecem. Em 2005, com o desenvolvimento de um novo quadro em sua doença, isso se intensificou e, de lá para cá, cada segundo de vida era comemorado com euforia. Até porque, de acordo com os médicos, aqueles momentos eram uma sobrevida, algo que poderia levar minutos ou anos. Não era possível prever.

Diante desta constatação, nossa família teve a oportunidade de dar a ele todo amor e atenção que, muitas vezes, na correria do dia-a-dia, negligenciamos. A cada espirro, a cada febre, a cada tosse, nós simplesmente o cercávamos de mimos, carícias, abraços e tudo o que costumamos fazer quando amamos alguém.

Diversas vezes, me peguei olhando para ele dormindo. Ficava ali, acompanhando sua respiração para saber se estava vivo. Madrugadas de angústia, horas intermináveis, esperando uma notícia boa, e, muitas vezes éramos recompensados com milagres. Provas de que existe alguma força suprema, capaz de modificar o impossível sem o toque da mão do homem.

Papai era conhecido como imortal. Os amigos e familiares o chamavam carinhosamente de gato, afinal, tinha mais de sete vidas, ou então de Highlander, o imortal guerreiro escocês. Mas a verdade não era bem essa. Seus problemas de saúde eram provenientes de uma predisposição genética somada ao alcoolismo. Para ele foi muito difícil reconhecer essa condição, no entanto, quando se deu conta de que estava destruindo a vida decidiu, sozinho, parar de beber. Foram meses de muito luta para ele. O sofrimento da abstinência só não foi maior que a sua determinação. Depois de nos comunicar que iria deixar o vício, nunca mais ingeriu uma gota de qualquer coisa que pudesse ter álcool na composição. Sua postura mais uma vez foi admirável.

Papaizinho, como seus filhos o chamavam, era um ser humano esplendido, daquele tipo que tem a cara fechada para manter a postura de homem sério, mas que, no entanto, é uma manteiga derretida. Doce e amigável, sua caridade era algo que, muitas vezes, nos irritava, afinal, ele tirava dele para dar aos outros.

Foi mecânico de manutenção e quase não tinha formação. Até os seus 46 anos só tinha o ensino fundamental, o que nunca o impediu de manter fielmente o hábito da leitura. Lia jornais e revistas diariamente e sempre se mantinha informado ao assistir telejornais e programas de entrevistas. Sempre nos incentivou a estudar e era um gênio na matemática. Como seus filhos já se encaminhavam para a universidade ele sentiu-se constrangido e decidiu voltar a estudar. Surpreendeu-nos mais uma vez ao concluir o curso do ensino médio, sendo reconhecido por sua turma e até pela instituição de ensino como exemplo de superação e dedicação.

Apesar de sabermos que sua morte era inevitável, suas recuperações milagrosas fortaleceram a falsa impressão de que ele jamais morreria. Mesmo assim, tivemos a oportunidade de viver os últimos cinco anos de sua vida com muita intensidade. Com sua morte, que apesar de tudo foi inesperada, sofri uma séria mudança de valores. Percebi a quantidade de tempo perdida com coisas fúteis e sem importância.

Nos últimos meses tenho apreendido o que é superar a dor da morte. Podem ser sintomas da saudade, mas, dia após dia, vivencio emoções diferentes: já adoeci, chorei, gritei... Não adiantou.

Vivo na mesma casa e me deparo com objetos que já não têm o mesmo valor. E mesmo tendo amado demais e entregado ao meu pai tudo o que eu tinha de melhor, resta em mim a dúvida sobre ter feito tudo o que era possível para vê-lo feliz. Ainda assim, me tranquiliza a sensação de que ele está mais vivo do que nunca, permeando minhas lembranças e sussurrando em meus ouvidos em todos os instantes, com seus valores e princípios.

Por isso acredito que temos que viver todos os dias com muita intensidade, dar valor as pessoas que nos cercam antes de perdê-las, dizer ‘eu te amo’ com sinceridade e com mais frequência, dar abraços demorados e bem apertados, sorrir ao amanhecer, chorar como criança quando alguma coisa nos machuca, ligar para os amigos e dizer o quanto são importantes na nossa vida, aprender a pedir perdão enquanto há tempo, se preocupar menos com coisas materiais, rir até chorar, fazer caretas quando não gostar de alguma coisa, brincar com os filhos e sobrinhos, orar, ter fé, acreditar em milagres e, acima de tudo, sonhar e celebrar a vida daqueles que amamos.

Aproveitem o início do ano e reflitam sobre a importância e o valor de suas vidas. Revejam seus conceitos e tentem viver cada dia como o último. A vida é uma passagem e, talvez, não reserve a todos a sorte e o tempo que tive para reconhecer e dar o valor que meu pai merecia. A perda foi grande, mas ganhei muito mais. “Papaizinho te amarei por toda eternidade meu querido!”

Deborah Borges dos Reis é uma aquariana apaixonada pela vida, super espontânea, ama intensamente seus amigos e parentes. Para ela sua família é seu maior bem. Acredita que amar é um dom, pois a vida lhe ensinou que todos são capazes de amar e que um sorriso é capaz de aliviar qualquer sofrimento.