quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

De concreto

Locais agitados, onde a sensação que se tem é que o mundo gira ali mesmo, sempre foi dos pontos que mais me atraíram aos grandes centros do mundo. Não que eu conheça muitos, mas algumas cidades cosmopolitas já estão marcadas no meu mapinha do mundo. Só que vai vindo a serenidade dos anos e alguns questionamentos do dia-a-dia que se leva também.

A mania de perfeição nunca me foi uma característica muito amigável. Quase sempre dei com os burros n’água buscando respeito dos demais. Agora que também questiono mais o caos urbano, afinal morar em São Paulo ensina muito disso, enxergo quase todo dia mensagens veladas do tipo: eu toco a minha vida e você que toque a sua.

Quase não existem atendimentos na prestação de serviços em que se veja a postura de pensar que dúvidas o consumidor ou o cliente realmente tem ou precisar não ter. A rapidez em que tudo deve acontecer na cidade grande não permite perder mais de cinco minutos com ninguém, nem sequer questionar se alguém tem algo mais a perguntar.

Vai demorar? Volto depois. Me passa por e-mail. Todas frases que devemos pronunciar diariamente. E onde está o: que tal pararmos e conversar sobre o tema? que informações você precisa? e posso ajudar em mais algo?

O que se ver são atos impensados. Gente pagando R$ 50 para deixar o carro na rua depois de pagar mais de R$ 200 só para ver um show de bandas de rock no meio até da lama. Apropriação do espaço público por manobristas de bares e restaurantes de luxo. Quem disse aos habitantes que pagar o que for pedido é solução? E quando mais e mais pessoas não tiverem como pagar por certas coisas? Os pobres ficaram enclausurados e os ricos soltos procurando quem os sirva?

Olhar no fundo do olho, pensar um pouco mais quando se está falando com o outro e não chutar aquele que já é um moribundo ficaram no passado para a maioria dos ditos cidadãos do mundo. Atraso? Não aceitação dos tempos modernos? Nada disso. Falo é de falta de respeito. Falta de respeito com o próprio tempo. Falta de autoconhecimento. Falta de amor pelo sentimento que nunca sairá do peito daquele que simplesmente aceitou o concreto no coração. Afinal, é mais fácil não sentir, não é?

Sejamos modernos, sejamos cosmopolitas, sejamos antenados, mas sejamos ainda humanos. Não somos cidades de pedras, somos seres vivos, frágeis e mortais.

Ada Mendes é jornalista, especializada em economia, e adora um dicionário de português. Veio lá de Fortaleza, mas gosta de ser vista como cidadã do mundo. O panqueique.blogspot.com é o seu cantinho de falar bobagem.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Diga ‘Xiiiiiiiis’!

Juro que vai parecer batido o meu assunto de hoje. E realmente é: O poder que as fotos têm e sempre tiveram em nossas vidas. Recentemente fiz uma viagem a Búzios, RJ, e enquanto tirava uma média de uma foto por segundo, comecei a conversar sobre isso com duas amigas (Marina e Carol, parceiras de blog também) o quão bom é poder ver as fotos imediatamente depois ao momento em que algo foi registrado. E começamos a divagar sobre o assunto porque tempo era o que não nos faltava para isso.

Sentadas no píer em frente ao mar esperando o sol se pôr, lembramos das várias situações em que as fotos não são detalhes, mas protagonistas da emoção, raiva ou qualquer outro sentimento causado. Há alguns anos, quando a gente viajava com a família, as fotos eram racionadas. Tinha que fazer um minicomitê na frente de cada paisagem e decidir que ali sim, valeria a pena ‘gastar’ uma foto do filme de 12, 24, 36 ou 48 fotos. Isso para não falar daqueles que passaram sua infância ou adolescência inteira sem nenhum registro porque as máquinas eram caras e a revelação dos filmes muito mais.

Depois, a expectativa era pra buscar as fotos reveladas na ótica. Geralmente, demorava cerca de dois ou três dias para que todas ficassem prontas. Aí minha mãe ou meu pai chegava com as mãos pra trás dizendo: Adivinhem o que eu trouxe? - Minhas irmãs e eu: As foooootooooos!!!!!! E juntos, sentados no sofá, íamos passando uma por uma, revendo, apontando detalhes, lembrando do momento, criticando e rindo da cara do outro ou lamentando o olho fechado naquela foto em frente às Cataratas do Iguaçu. E apesar de ficarmos um tempão admirando as fotografias, raramente eram mais que 50. Raramente.

Hoje em dia, se eu saio com as amigas para tomar um chopp no mesmo bar que sempre vamos, facilmente tiramos mais que 50 fotos. Facilmente. Uma viagem, então, ultrapassam as dezenas com certeza. E dependendo da animação e da variedade de lugares visitados ou de momentos agradáveis, 500 fotos definitivas (digo: descontando as apagadas ou as que são jogadas para a pasta ‘private’) são arquivadas em inúmeros diretórios identificados com data/local.

Mas não só de alegria vivem as fotos. Quem nunca rasgou a foto daquele ‘amor cachorro’? Ou daquela amiga que foi sacana com você ou que foi gente boa demais com aquele seu paquera? Ou ainda aquela foto em que todas suas amigas saíram maravilhosas e você saiu com cara de moribunda? Aí o sentimento quase vira do avesso quando você pega aquela foto de você pequenininha com a turma do maternal ou carregando no colo seu irmãozinho que hoje tem dois metros de altura. Ou ainda, dá um risinho e sente um friozinho na barriga quando vê sua foto num abraço apertado com seu avô que já se foi.

Enfim, o fato é que fotos causam emoções nas pessoas. Das mais diferentes naturezas. E que o mundo seria sem graça se não pudéssemos reviver os bons momentos depois. Sem desmerecer a memória, claro.

Mayra Martins é relações-públicas e queria ter o dom de tirar fotografias em que todos sempre saem bem e em que lugares feios parecem exóticos. Mas se conforma em ser a que sempre leva a máquina fotográfica para as viagens e não demora a compartilhá-las com o grupo depois.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Líquido precioso

Só passamos a entender o valor real de algo quando aquilo nos falta. A máxima, que nada tem de nova, vale para quase tudo: dinheiro, amigos, amores e todas as coisas pequenas que fazem parte da nossa vida. Entre elas, a água.

Nas últimas férias de final de ano, eu e uma turma de amigos descobrimos (de uma forma não muito agradável) o incomensurável valor da água no nosso dia a dia. Foram oito dias no litoral, todos eles com o abastecimento de água restrito ou inexistente, durante os quais tivemos de aprender a economizar, compartilhar e planejar o uso de algo que sempre tivemos em abundância.

A experiência trouxe ao menos duas boas lições para mim. A primeira foi perceber como, com um pouco de boa vontade, é possível atravessar situações complicadas sem estresse. Estávamos em um grupo de 20 e poucas pessoas, espalhadas por três casas – todas elas sofrendo, em intensidades diferentes, com o problema da falta d’água. Mas o que poderia ter transformado nosso Reveillon em um inferno, acabou instigando a criatividade, o espírito de cooperação e a proatividade de todos. E (quase) sempre rindo da situação, conseguimos encontrar formas de tomar banho (quase) todos os dias – ainda que puxar a descarga não fosse algo bem-visto...

Outra lição valiosa foi a de que “economizando, não faltará”. Obviamente, sei de todos os apelos globais sobre a necessidade de economizar água e de se cuidar melhor do meio ambiente. Mas, confesso, sempre fui fã dos banhos longos e despreocupados e quase nunca me lembro de fechar a torneira enquanto escovo os dentes. Isso mudou.

Entrei neste novo ano um pouco mais consciente e cuidadosa com o planeta. Não só por ter percebido que viver sem água seria impossível, mas principalmente por ter me dado conta de que posso abrir mão de alguns pequenos luxos sem prejuízo algum para minha vida.

Feliz 2010!

Thais Aline Cerioni queria ser cantora, mas, como não veio de fábrica com esse talento, acabou virando jornalista mesmo. Há dois meses está experimentando a vida "do outro lado do balcão". E gostando!