Não e não. Definitivamente não entrarei na discussão sobre a proibição do fumo em ambientes coletivos fechados – públicos e privados – que entra em vigor no próximo dia 7 de agosto no Estado de São Paulo. Também não vou me atrever a listar os tão conhecidos malefícios do cigarro, nem tão pouco os benefícios de sua ausência. Farei coisa pior: Quero contar um pouco dos meus quase três meses de abstinência, depois dos meus quase 10 anos de tragadas, pitadas, baforadas e afins.
Para explicar como me sinto hoje, passados quase 90 dias desde o meu último cigarro, eu só posso dizer uma coisa: Meu Deus... Que vontade de fumar!
Pode parecer exagero, mas depois de devorar minha última barra de cereais (a bola da vez na minha rede de substituições) foi exatamente nisso que pensei. Nessa vontade que ainda persiste, mas que venho driblando como posso.
Fácil? De jeito nenhum.
Certa vez, passados os 15 piores dias da minha vida (Ok! Pode ser que não sejam os 15 piores, mas se eu tivesse uma lista com dez, dos 15 piores dias da minha vida, este período com certeza estaria lá), falava sobre o tema com meu amigo Javier Fierro, fiel companheiro do cigarrinho, entre uma entrevista e um texto. Ele disse: O cigarro é o complemento. É a palavra que liberta as idéias que não chegam enquanto estou na frente do computador.
Pode parecer desculpa do fumante-em-recuperação-inclinado-à-recaída, mas não.
Não raras vezes, as idéias para terminar um texto, um argumento novo, uma linha criativa até então desprezada voltavam comigo para a mesa, acompanhadas pelo odor característico da nicotina, do alcatrão e das milhares de deliciosas substâncias químicas contidas naquele cilindro de papel.
Eu disse odor? Sim, vá lá. O cheiro realmente não é bom. Percebi isso já nos primeiros dias. Mas até disso eu sinto falta. Sei lá. Acredito que já estava incorporado às minhas roupas e bugigangas em geral. Era como se eu marcasse meu território sem, no entanto, precisar urinar nelas.
Mas seja como for, parei. Era necessário. Minha super-bombinha-bronquio-dilatadora não é mais tão requisitada (sim, a bronquite asmática é uma de minhas características mais charmosas), as pessoas não reclamam e nem torcem o nariz quando entro no metrô – pelo menos não por causa do meu cheiro - e a economia para o bolso foi muito boa para meu combalido estado financeiro.
Por sorte parei antes do aumento nos preços e antes da lei antifumo. Hoje, além de não saber o preço de um maço de cigarros, também estou um pouco mais adaptado ao cenário bebidinhas-sem-cigarros e baladinhas-sem-cigarros, o que me deixa um pouco menos chateado/mal humorado.
Continuo fazendo bicos involuntários, acompanhando as tragadas alheias. Mas acho que aprendi a disfarçar melhor. Aliás, só para que vocês saibam isto é bem comum. Me senti retratado (foi um alívio a ter certeza de que eu não estou sozinho nessa), quando o ator Ney Latorraca, no documentário Fumando Espero, contou sobre a quase tristeza que lhe abate ao assistir ao jogar fora de um “lindo” cigarro, praticamente inteiro.
E por falar em jogar fora – só para não falarem por ai que escrevi apenas para choramingar a falta do cigarro – tenho uma pequena consideração sobre a adequação dos locais onde já não se permite mais fumar: Será que alguém já pensou em colocar mega-cinzeirões na entrada de bares, restaurantes e afins, ou será que as bitucas, guimbas e pontas que se acumulam nas calçadas próximas a estes estabelecimentos fazem parte de um sagaz tratamento de choque para os fumantes resistentes? Melhor imaginar que sim.
Ps: Será que o cara que batizou os fiscais que irão realizar as blitze da lei antifumo como os “Caça-fumaça” é o mesmo cara que inventou aqueles nomes maneiros para as operações da Polícia Federal? Melhor nem pensar nisso.
Wagner Pinho, Executivo de Atendimento da LVBA Comunicação. Fumante em recuperação que acredita de verdade que com um ou dois cigarrinhos este post sairia muito mais rápido.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
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Gente, adorei o texto!
ResponderExcluirE sinto muito orgulho de vc, Wag. Já tive amigos, pais e namorados que fumavam e pararam. Alguns voltaram, outros não. Mas vi em vc uma determinação incrível. Invejável por muitos.
Te desejo toda sorte, força e persistência do mundo nessa luta contra vc mesmo! Contra sua vontade.
Parabéns pelos 90 dias! Que venham mais 90 anos... que, sem cigarro, são mais prováveis do que com.
Beijos
Gostei demais do texto. Leve, honesto e divertido.
ResponderExcluirE, claro, PARABÉNS pela coragem e determinação. Imagino que não deve ser fácil, mas sua saúde vai agradecer demais, a longo prazo. E em breve você verá que é, sim, possível ter ideias brilhantes para seu trabalho e sua vida sem estragar seu pulmão e chegar fedendo (eu nunca senti nada, ok?)
Sou testemunha dessa "luta". Presenciei várias crises... Algumas de asma outras de abstinência... e até hoje, não sei qual é pior. Talvez pior mesmo era sua aflição assistindo "Fumando Espero". Bom, o que importa é que você conseguiu e continua firme e forte. PARABÉNS!
ResponderExcluirWag, vc merece um parabéns duplo! Pela escolha de vida e pelo texto sensacional. Estou muito orgulhoso de vc, meu amigo!
ResponderExcluirWagner,
ResponderExcluirBelo depoimento. Parabéns pelo texto e pela atitude.
Só não concordo com um ponto: que o texto ficaria melhor se vc tivesse contado com a ajuda de uns cigarrinhos. Pura impressão.
Gisele
Parabéns, Wag! Parabéns pelo texto, parabéns pela escolha e parabéns por ser um grande exemplo na vida de muitas pessoas!
ResponderExcluirProfissional, vamos nessa, juntos e sem a nicotina!
ResponderExcluirbjs
DAVIS