quinta-feira, 20 de agosto de 2009

E aquele roqueiro chato continua o mesmo...

Alguém mais teve o azar de assistir ao Prêmio Multishow na última terça-feira? Cansado de ser chamado de roqueiro saudosista, um mala que não gosta de nenhuma banda nova e um preconceituoso que não respeita músicas brasileiras, decidi acompanhar aquela que se autodenomina a principal premiação musical de nosso país.

Não precisou muito tempo para eu perceber que, além de nós brasileiros ainda não sabermos fazer um evento ao vivo (microfones que não funcionam, piadas mais sem graça do que as do Oscar, etc), a noite foi uma sucessão de apresentações pífias de músicos que, cada vez mais, comprovam a decadência da música nacional.

A primeira prova disso foi a imensa quantidade de covers e versões presentes no palco, o que para mim é uma evidência de que as músicas destes artistas não empolgam e estão longe de serem hinos cantados em massa pelo público. Ao ouvir da apresentadora da noite, Fernanda Torres, as palavras “Toca Raul!”, já imaginei o pior. No palco, o ex-titãs Arnaldo Antunes e a revelação da MPB Ana Cañas cantam “Como Vovó Já Dizia”. Parece incoerente, mas seria melhor ouvirmos Ana, uma música emergente de música popular brasileira, cantar Raul Seixas sozinha do que com o “consagrado” roqueiro que fez parte de uma das mais importantes bandas do gênero no Brasil. Enquanto a jovem cantora dava show, com uma voz surpreendentemente potente para o rock and roll, Antunes, preguiçoso no palco, não empolgava e o pior – desafinava.

E desafinar em rede nacional e, como diria Galvão Bueno, ao vivo para todo o Brasil, não foi privilégio de Arnaldo Antunes. Em uma homenagem para Rita Lee, que de tão lesada parecia o Ozzy Osbourne brasileiro, Pitty, acompanhada de Gilberto Gil, conseguiu piorar uma das piores músicas da roqueira – “Ovelha Negra”. Como se não bastasse, o número contava com mais duas músicas, também da pior fase de Rita Lee – “Mania de Você” e “Lança Perfume”.

E para quem pensou que Gilberto Gil pudesse salvar o momento, se assustou ao presenciar um backing vocal repetitivo com gritos de gralha à la “A Novidade”. Na sequência, Rita Lee sobe ao palco com a netinha de 3 ou 4 anos e, em vez de simplesmente agradecer, profere palavrões sem pudor e aproveita para cutucar a Igreja Universal.

Mas o momento de maior indignação do roqueiro que vos escreve foi ver 3 bandas emo, NX Zero, Fresno e Strike juntas no palco. E, como não podia ser diferente, o grupo de adolescentes problemáticos decide assassinar um hino do rock nacional, a ótima canção “Inútil” do Ultraje A Rigor. Por sorte, acho que Roger, vocalista do Ultraje e compositor da música, não estava presente para ouvir tamanha heresia (alguém me explica o que foi aquele rap/reggae proferido pelo vocalista do Strike? Outra pergunta: alguém sabe o nome dele? Uma mais fácil então: alguém conhece alguma música do Strike?).

Caros amigos, sinto informar, mas acho que vou continuar sendo aquele rockeiro chato, que só escuta o mesmo disco, que só baixa músicas das mesmas bandas e que, agora com mais fervor, é um preconceituoso com o jeito que a música é conduzida no Brasil.

Mas eu sei que sou quem vive em outro mundo. Na mesma noite, Fresno foi eleito o melhor grupo e NX Zero o melhor CD lançado no Brasil em 2009. E o Strike? Não ganhou nada? Fiquem tranqüilos, ano que vem tem mais.


Fernando Thuler é jornalista, escritor e apaixonado por música. É também o vocalista da Black Beers Band, que, numa última tentativa, mantém as canções clássicas do rock and roll vivas pelos palcos de São Paulo.

6 comentários:

  1. E digo mais: a Rita Lee é um saco! Depois dos Mutantes, ela foi piorando. E, pra mim, acabou de vez quando transformou "I Wanna Hold Your Hand" em um baião. John Lennon teve ataques, onde quer que esteja.

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  2. Concordo em número, grau e genero.

    E, nao se sinta só, existem mais como vc.

    Parabéns, acaba de ganhar direito a 3 almocos pelo texto.

    Saudacoes.

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  3. Caro Fernando, esse prêmio Multishow só prestou para uma coisa:
    Mostrar como que todas as sentenças de morte/decadência que são vociferadas contra a música brasileira são proferidas por pessoas que confundem a MÚSICA BRASILEIRA com a INDÚSTRIA DA MÚSICA BRASILEIRA.
    São duas entidade absolutamente distintas.

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  4. Excelente! Dei boas risadas, mas acho que deveria estar chorando.

    O que restou de bom da nossa música, com certeza, não é o que hoje está disponível em uma loja de CDs, na televisão ou na rádio...

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  5. apenas para informação: um homem que trabalha com música é Músico, uma mulher que tem essa mesma atividade profissional é Musiscista e não música como citado no texto acima.

    É isso....

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  6. Fernando, eu também sou apaixonada por música e concordo com você. A música brasileira se tornou um produto e pior: de péssima qualidade. Não temos nenhuma banda de rock que podemos nos orgulhar hoje. Você não é um rockeiro chato, a música nacional que ficou chata.

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