quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Das lições importantes que passamos a vida esquecendo

Por Mariana Lins


Eu entrei no mural do Facebook de uma colega de escola pra falar “feliz aniversário” e, claro, dei aquela espiadinha nas fotos: um monte de beijinhos e abraços com o namorado, festas à fantasia, viagens, bichinhos de estimação e tal. Não é difícil de imaginar. Mas havia ali também uma foto de uma página de livro que tinha uma ilustração (que remete à infância de muita gente nos seus vinte e poucos anos) e uma frase (daquelas de impacto, que se tornam parte de todo um universo de adoradores e depois as pessoas na internet ficam achando que foi a Clarice Lispector ou o Arnaldo Jabor quem escreveram). Tô falando de O Pequeno Príncipe.




Esse não é exatamente um livro que te fazem ler na escola, mas, em algum momento, as pessoas entram em contato com ele. É impressionante como ele se infiltra na vida da galera – e deixa um monte de marcas. E é o típico livro que, cada vez que é lido, revela uma face nova. Não uma face nova do livro, quero dizer, mas uma face nova do leitor. Quando se é criança, acho que o mais comum é se encantar com as aventuras interestelares do principezinho. Depois, a gente vai vendo as mensagens bonitinhas que estavam o tempo todo nas páginas e a gente não percebeu – e vai percebendo também as pessoas incríveis que estavam ali, na nossa vida, o tempo todo, e não percebeu… Cara, tô apenas dizendo que seria legal se as crianças aprendessem algumas lições desse livro desde cedo. Economizaria algumas centenas de reais em terapia depois.

Eu tive a sorte de interpretar o Pequeno Príncipe no grupo de teatro na escola. Nessa época, ouvi o que acho ter sido uma das coisas mais bacanas que já me disseram sobre mim: na hora de distribuir os papéis, eu fiquei com o principal não pelo meu excepcional talento nas artes dramáticas ou porque hey! todas as crianças merecem uma chance – mas sim porque o diretor achou que eu era a única lunática e romântica o suficiente pra interpretar o personagem. Rá! :) Isso foi legal sim ou sim?

E eu me lembro muito bem da Bruna ser a Raposa, do Stéfano ser o Aviador, da Carol ser a Rosa. E ok, não me lembro tão bem assim de quem fez o Bêbado, o Homem de Negócios, o Rei, o Vaidoso… Mas percebeu? Vários tipos humanos (e seus vícios e virtudes, mas principalmente os vícios) estão retratados nesse livro – o Antoine de Saint-Exupéry era um homem muito esperto. Quando vemos um alcoólatra, é difícil pensar nele como alguém que já foi uma criança com tanto direito de sonhar quanto qualquer um de nós. E quando estamos no trabalho, preocupados com as contas pra pagar, também…

… mas é bom lembrar de vez em quando.




Texto publicado originalmente em Os Sem Biblioteca.

Mariana Lins continua lunática e não seguiu carreira no teatro. É uma estudante prestes a por as mãos no diploma que jornalismo, um item legalmente supérfluo que ela ama muito.

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