quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pelo direito de ser vários em um só

 “Jornalistas trabalham para que as perguntas que todo cidadão tem o direito de fazer sejam respondidas, enquanto assessores trabalham para que as mensagens que seus empregadores ou clientes gostariam de difundir sejam divulgadas”.
Eugênio Bucci

Desde que sopraram (mais de uma vez) aos meus ouvidos que eu devia investir na Comunicação como profissão, eu instantaneamente me imaginei jornalista. Cresci ouvindo da família, amigos e professores que as minhas redações, cartas e dissertações em provas eram bastante espirituosas e envolventes. Sempre disseram que eu sabia escrever. Ok. Só isso não bastaria para me fazer jornalista, mas é fato que a minha personalidade curiosa e inquieta, somadas justamente ao meu temor pelas escolhas – estas que exigem sempre que se abra mão de outras tantas coisas, caminhos e, por que não novamente, escolhas – acabou me fazendo enxergar que era o melhor dos mundos.

Escolher o Jornalismo, dentro da Comunicação Social, foi sim menos sofrido quando percebi que nesta profissão eu teria contato com todo tipo de informação, que eu poderia vivenciar diferentes experiências, falar, pensar e escrever sobre qualquer assunto, inclusive sobre qualquer outra profissão que eu deixei de escolher. Era o melhor dos mundos: poder viver um pouco de cada coisa, a cada dia, sem achar que pudesse estar perdendo ou deixando de ser ou fazer algo interessante também. Nesse raciocínio particular que eu sempre me percebi totalmente, compreendo e reconheço minha essência: ser e viver muitas em uma só.

De fato essa “definição” veio novamente à tona após a leitura do ótimo artigo do Eugênio Bucci que saiu hoje no Estadão, no qual provoca – com ótimos argumentos – as indefinições e confusões sobre as reais funções de um jornalista e de um assessor de imprensa. E, claro, não pude evitar a pergunta título do artigo: Assessor de imprensa é jornalista?. Ouso responder que sou uma jornalista que no momento está assessora de imprensa. Concordo que há uma série de definições equivocadas que histórica e culturalmente o Brasil carrega há anos, mas ainda assim defendo a possibilidade de que um jornalista pode ser também assessor, assim como um assessor pode ser também jornalista.

Conforme aprendi com o próprio Bucci por meio de aulas e mais aulas de Ética na faculdade, regadas com textos e mais textos de sua autoria, uma vez que se conhece exatamente suas funções, seus direitos e deveres, seja como assessor ou jornalista, é possível sim desempenhar ambas funções com integridade e sem desvios ou incoerências éticas.  Em tempo, acrescento: por sempre acreditar na minha essência e por não saber ser uma só – onde cabem tantas, eu fico com a opinião de que vale conhecer e respeitar os limites que nos posicionam numa ou noutra função. Sou comunicadora, sou jornalista e também assessora de imprensa. Definidas as regras, “let’s play it by the book”.

Melissa Rossi é jornalista, que migrou da redação para o “outro lado do balcão”. Como assessora continua provocando seu olhar mais jornalístico e está sempre disposta a ouvir diferentes versões de uma mesma história. Pelo menos é assim, com multifaces, que ela pretende escrever a sua própria.

2 comentários:

  1. "Conforme aprendi com o próprio Bucci (...), uma vez que se conhece exatamente suas funções, seus direitos e deveres, seja como assessor ou jornalista, é possível sim desempenhar ambas funções com integridade e sem desvios ou incoerências éticas".
    Vc e o Bucci disseram tudo, Mel.
    Adorei o post. Beijo

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  2. Assessor é jornalista? Sim, e quem mais quiser ser! É como um bumerangue ou a essência da 3ª lei de Newton... Ou quem sabe, aqui se faz, aqui se paga.

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