quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Prazeres e dificuldades de ser um pai solteiro

Ao contrário do que alguns imaginavam, não escreverei sobre música. Resolvi falar sobre algo muito mais significativo e valioso na minha vida – aliás, é o que há de mais importante nela: minha filha, Giulia.

A paternidade para mim aconteceu bastante cedo, aos 21 anos e, lógico, não estava preparado para tamanha responsabilidade. Hoje aos 28, aprendo a lidar com toda a complexidade de ser pai a cada dia com a Giulia, e a amo ainda mais por isso. Mas, mesmo que o tempo e a experiência tragam o aprendizado, continuo a me sentir perdido. Afinal, a criança quando nasce não vem acompanhada de um manual de instruções, bula, receita ou algo que nos dê a fórmula certa ou respostas diretas.

Colocá-la para dormir, trocar fraldas, dar banho, comparecer à reunião de pais na escola, inventar brincadeiras dentro e fora de casa... Ainda que a lista seja longa, as preocupações que envolvem esse relacionamento de pai e filha vão muito mais além dessas tarefas. Meus maiores questionamentos são referentes ao estudo, ao tipo de educação que estou proporcionando a ela versus àquilo que acredito ser ideal. Muitas vezes me questiono em relação aos valores que estou passando e de que forma ela os tem absorvido. Será que o motivo de eu ser tão envolvido com essas questões é por que sou um pai solteiro e tenho a Giulia morando comigo? Pode ser...

Acredito que esse título requer um equilíbrio emocional maior. Digo isso porque, enquanto o pai – quando casado – divide frequentemente com a mãe a responsabilidade sobre decisões que envolvem os filhos, o pai solteiro tem um comportamento diferente nas decisões do dia a dia: este último conta com uma autonomia natural que a própria realidade impõe.

Não tenho a menor dúvida de que ser um pai solteiro é uma das tarefas mais difíceis que existem, ainda que eu conte muito com a ajuda da minha mãe. E é justamente daí que surgem outras importantes questões, como: Qual é a medida da sensibilidade? Como é possível passar mais tempo com ela e trabalhar o mesmo tanto?

Não há dúvidas sobre a dificuldade – inerente aos pais do mundo atual – que existe em equilibrar o trabalho, crianças, levar à escola e estar ciente do que lá acontece, ajudar nos estudos, cuidar da dor de garganta, levar ao médico... Sem contar que eu também quero – e preciso – ter um tempo para mim: curtir minha namorada, estudar, ensaiar com as minhas bandas e tudo o mais. Claro que a parte financeira sempre pesa. Principalmente no meu caso, que tenho a guarda da Giulia.

Seja à parte ou em meio a cada uma dessas lutas, as crianças e as suas necessidades de atenção, tempo de qualidade, orientação e os cuidados do dia a dia, mostram-se esmagadoras. Às vezes, sinto que cada área da minha vida acontece – ou seria melhor dizer equilibra-se – como um show de malabarismo. Até porque, todo dia ao chegar em casa do trabalho, dedico pelo menos algumas horas para estar com ela. Brincamos de videogame, trocamos a roupa da Barbie, leio histórias e ajudo na lição.

Mesmo com todas as dificuldades, dúvidas e confusões, ser pai mudou a minha vida, e de uma maneira muito boa. Assumi responsabilidades, amadureci muito e creio que meu individualismo, que fora muito intenso, diminuiu. Só sei, de fato, que hoje não consigo imaginar a minha vida sem essa pessoinha, a mais linda do meu mundo!

Pedro Martins Lanfranchi nasceu, cresceu e desenvolve-se músico a cada dia. O acaso lhe deu o título de pai solteiro, mas foi o amor que o transformou em pai comprometido. Não é paraquedista, mas o cargo de assistente de atendimento na LVBA ‘caiu como uma luva’ e só comprova ainda mais sua teoria de que a vida é um constante show de malabares.

9 comentários:

  1. Caramba!! Que belo texto. Ficou muito claro a dor e a alegria de ser pai solteiro. Não tenho dúvidas de que sua filha vai ser uma mulher incrível!
    Parabéns pela Giulia e pelo post!
    Beijos

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  2. Incrível. Mandou muito bem em um texto recheado de sentimento, mas ainda assim muitíssimo bem escrito. Parabéns por tudo.

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  3. Parabéns pelo texto e, principalmente, pela demonstração de preocupação, responsabilidade e amor!

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  4. eu não ia dizer nada por aqui, mas eu não resisto mesmo... mas vou dizer Só uma coisa, Pedro: eu SÓ acho que vc devia fazer isso (escrever) mais vezes!

    E nem venha com esse papo de q queria que escrever fosse tão fácil quanto tocar guitarra e afins... Quando a gente escreve sobre aquilo que realmente sentimos e acreditamos é possível TOCAR também as pessoas, e o prazer que há nisso é bastante compensador...
    Veja você mesmo pelos comentários aqui...
    VIVA!

    Keep on rocking, my friend! I'll be watching over you... Bjos da Mel

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  5. Pedroca soneca,
    Parabéns pelo texto (que ficou demais) e pelas conquistas diárias como o pai da Giulia. Ela é uma fofa, e tenho certeza que isso se deve muito a você, ao seu carinho e à sua dedicação.
    Depois desse post, comecei a entender melhor a razão pela qual o seu sono chega mais cedo nas mesas de bar, hahaha Tô brincando...

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  6. Nossa, Pedro, que lindo o seu post!
    Adorei a forma sensível como você colocou questões bem racionais.
    Parabéns por cuidar da Giulia e ainda conseguir conciliar a educação dela com todas as outras coisas!
    Beijos,

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  7. Pensa numa menina que deve ter muito orgulho do pai! Parabéns pelo ótimo texto e por ser esse pai incrível para a Giulia!

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  8. Parabens pelo texto, pela experiência e por poder dividir com outras pessoas. Afinal duvida teremos o resto de nossas vidas, pois criar filhos é um aprendizado diário.
    Amei poder ler como um pai se senti, pois mães solteiras existem milhares, mas é mais difícil encontrar um PAI SOLTEIRO.

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  9. Querido, no meio de tantas palavras que são certeiras pra tocar qualquer pessoa, eu só tenho que dizer que admiro esse pai que és, dedicado e preocupado com o futuro da Giulia! Essa pequena merece muito você, seus carinhos e sua atenção! Com certeza levará numa pessoa agradecida eternamente a ti, figura mais do que essencial!

    Um beijo,

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