quinta-feira, 24 de maio de 2012

São Paulo, I love you but you’re bringing me down


Sempre que ouço essa música do LCD Soundsystem sobre a Big Apple, percebo como o sentimento combina com São Paulo. Falo com conhecimento de causa: sou nascida e criada na enorme selva de pedra e, diariamente, me sinto dividida entre o amor, por tudo que a cidade tem a oferecer, e a raiva, por causa das consequências de tanta grandeza. 

Se fosse para escolher um adjetivo para São Paulo, seria paradoxal. Porque, sim, eu amo essa cidade, mas todo dia me pergunto: como é possível ter simpatia por um lugar que tem greve do metrô no meio da semana e instaura o caos na vida de todo mundo? Como amar a cidade mais cara da América Latina – ainda mais quando o bolso da maioria de seus habitantes não acompanha esse status? Como não ficar louco nas ruas que abrigam o sexto pior trânsito do mundo? Dá para aguentar essa cidade tão cinza e na qual, como dizem por aí, não existe amor?

Dá sim. Como é aquela expressão mesmo, mulher de malandro? Pois é... São Paulo é uma mãe, bem brava, mas com um coração enorme. É feia, mas você se apaixona por ela. Ainda não sou tão viajada quanto queria, mas acredito que são poucas as cidades no mundo com tantas opções de lazer, cultura, gastronomia, entre tantas outras coisas que acontecem aqui 24 horas por dia, sete dias por semana. Isso é muito importante e característico, mas ainda não é o mais legal.

O mais legal é perceber como a cidade toma uma nova forma a partir do momento em que você redescobre detalhes que têm o poder de mudar sua rotina. Por exemplo, quando acabar o fôlego na Avenida Paulista, epicentro da cidade, dá para se isolar de tudo no Parque Trianon. Também dá para ter uma vista surpreendentemente bonita da cidade na saída da Estação Sumaré. Dá para admirar a beleza de tanta gente que a cidade recebe, de tantos lugares e estilos, depois de cinco minutos sentado na escadaria do Teatro Municipal. Ou descobrir uma coisa nova todo dia – tem um bairro paulistano perto do litoral, sabia?

Ainda bem que São Paulo também sabe dar carinho. Pode ser num cartaz divertido, num gesto simples e estimulante, num grafite que apareceu para salvar uma parede branca e esquecida, num “bom dia” no ônibus. Apesar de tudo, ainda dá para respirar fundo, levantar a cabeça, enfrentar e aproveitar essa imensidão de concreto. Daria até para trocar a ordem do título desse post: “São Paulo, você me chateia, mas eu te amo”.


Natalia Máximo é paulistana da gema. Fala “meu!” toda hora, faz palavras cruzadas no ônibus durante o demorado percurso casa-LVBA-casa e deixa o lado esquerdo livre na escada rolante do metrô - e discute com quem não deixa.

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