quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Eu, Forrest Gump

Bem, eu moro em São Caetano do Sul desde que nasci. Sim, tenho planos de sair de lá. Não, isso não vai acontecer tão rápido assim. E não, não tem muita coisa pra fazer por lá. Fãs de São Caetano, admitam, atualmente o point mais popular que vende açaí simplesmente não funciona nas noites de sextas-feiras.

A questão é que meus três primeiros empregos foram por lá, nesse pacato lugar – quer dizer, eu poderia ir à pé, se tivesse paciência para tanto. (Eu tinha.) Mas logo no segundo ano da faculdade comuniquei ao pessoal:

- Mãe, vó, arrumei um trabalho em Moema.

- Meeeu Deeus do céu, é longe! Você vai ter que tomar não sei quantos ônibus e... – bom, imaginem que essa fala se estendeu por minutos que eu jamais serei capaz de mensurar. Mas Moema, lá fui eu! (E eram necessários dois ônibus e uma hora e meia, pra quem ficou curioso.)

Meses depois, fui para o Itaim Bibi. “Mariaaana! Você não sossega?!”. Bom, a resposta foi não, não sossego. Agora o percurso exigia ônibus, metrô e depois ônibus de novo, o que somava duas horas de viagem. Ir para a praia leva menos tempo que isso – e não vou nem mencionar a situação da minha volta para a faculdade no fim do dia porque esse é um período da minha vida que eu prefiro esquecer. *Essa é a deixa para quem quer se comover e compartilhar um depoimento*

E, quase um ano depois, adivinhem? Fui para o Butantã. Sim, cheguei na LVBA! As pessoas acharam que eu tinha perdido o pouco juízo que me restava. “Você quer passar quantas horas por dia no metrô, menina?! Você não consegue nem abrir um livro sem passar mal no ônibus!”. Sim, sim, sim, verdade! Mas, para a minha enorme surpresa, eu levo apenas cinquenta minutos da minha casa até a Alvarenga 806. Dá vontade de abraçar quem trouxe o metrô até aqui mas uh, políticos, melhor não abraçar.

O legal é que essas aventuras por agências de comunicação nessa São-Paulo-de-meu-Deus não renderam apenas experiências profissionais – mas também um conhecimento razoável (e ainda pequeno) das linhas de trem, metrô e ônibus dessa cidade... E algumas histórias pra contar!

Outro dia, estava eu com um exemplar mau humor matinal num trem quando um velhinho de boina entra no vagão e começa a encarar a moça que estava na minha frente:

- Moça, me dá um sorriso? - e sorri pra ela. Não vi a expressão no rosto dela, claro, mas posso imaginar aquela cara tipicamente paulistana de “oh, não! Um estranho falando comigo! Deve ser louco ou quer me assaltar”. Mas ele insiste:

- Vamos, não vai doer! - e, com a ponta dos dedos, puxa os cantos dos próprios lábios para cima, como que encorajando a assustada pessoa metropolitana. Eu não resisti e, sem ter nada a ver com a história, já estava sorrindo antes mesmo dessa segunda investida do velhinho. Mas já começava a ficar tensa com a reação da moça. O que ela iria fazer? Foi então que...

- Iiiisso! Viu, garota, um sorriso pode salvar seu dia!

- Obrigada! - a moça à minha frente, embora eu não pudesse ver, obviamente sorria e se mexia como que aliviada, livre da fobia de estranhos que é natural a quem vive por muito tempo na selva de pedra.

O velhinho desceu na próxima estação, se despedindo da tal moça com uma reverência com sua boininha cinza.

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Mariana Lins não gosta de dissertar sobre a moral das histórias que conta. Faz parte do time de formandos enlouquecidos com TCC no quadro da LVBA e também do time de adoradores (sic) do transporte público – mas acredita em soluções simples para problemas compl... que problemas?

4 comentários:

  1. Mari, adorei o texto... Me identifiquei muito com ele, foram tantas as emoções nesses anos trabalhando e estudando longe de casa, rs... Foram tantos os velhinhos "conversadores" as tiazinhas "xiliquentas",tantos "MP15" no ultimo volume, rs

    Parabéns pelo texto ;)

    Beijo!

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  2. O sorriso valeu um aceno de boina! Também gosto muito dessas pequenas alegrias cotidianas, que a gente só acha mergulhando nesse mar de cinza que é São Paulo. Parabéns pelo texto!

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  3. Apesar de ser contra vc deixar a maravilhosa S. Caetano do Sul, sei o que é passar boa parte da vida nesse trânsito da cidade e aguentar os "MEODEOS VC MORA LONGE"!

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  4. Adorei o post Mari!!!Nunca desista mesmo dos lugares longes rs!

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