quinta-feira, 14 de outubro de 2010

VIVA CHILE, MIERDA!


Confesso que foi difícil começar... Comprometido a fazer este texto – e nada mais justo que seja escrito por mim –, ao mesmo tempo em que pareço uma criança sozinha numa loja de brinquedos, carrego a necessidade de relatar com excelência o que penso e sinto sobre o resgate dos meus compatriotas caçadores de cobre.

Quero falar sobre todas as minhas impressões, sobre cenas carregadas por simbolismos de linguagem universal, de rápida assimilação, e sobre outros que ainda se encontram enterrados nas entrelinhas dessa história.

Mensagens de amor à vida, de competência, liderança, patriotismo, resistência física, de luta pela sensatez e contra a fuga da fé (em Deus, em si mesmo e na humanidade). Tudo isso me enche o peito e me dá sensação de que facilmente eu poderia dividir este post em capítulos.

Pouco espaço para tanto, começo com um “VIVA CHILE, MIERDA!”, agora sem receio algum de parecer grosseiro ou flaite. Esbravejada pelo presidente Sebastián Piñera, ao fim do resgate “del capitán” Luis Urzúa – último a ser retirado da mina e o responsável, principalmente, pelo equilíbrio mental dos outros 32 mineiros sepultados vivos a 3.500 palmos abaixo da terra –, a frase nunca me pareceu tão bem colocada.

Agora sei que das vezes que pensei em vociferar algo do tipo, coibiu-me a falta de emoção, a inexistência de um razão visceral.

Quais dos meus objetivos, se alcançados, arrancariam da minha garganta um “VIVA LA VIDA, MIERDA!” pra quem quisesse ouvir? Há de se ter um momento assim, de tamanha grandeza e heroísmo, na vida de todos.

Nem vou discursar muito sobre a capacidade estrutural que o Chile tem para enfrentar suas desavenças com a Terra. Primeiro os terremotos (1960 e 2010), agora os mineiros, fora os vulcões e elevações do mar. Se Deus esqueceu de abençoar aquele país, não deixou de abastecer o espírito daquele povo com bravura e amor à pátria.

E foi o patriotismo chileno, escancarado ao mundo, o responsável por quase desencadear em mim a Síndrome de Tourette.

Eu queria estar lá, junto com aquela gente, gritando o famoso “SEACHE-I ELE-E!” Agora, mais do que nunca, quero mergulhar nesse sentimento como filho adotivo do Brasil. Dado à luz chilena, trago em mim o gene do patriotismo, que me implora para cantar, em uníssono com este povo, que eu também “Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. Sei que esse dia chegará e não será em 2014, precisa ser antes ou depois. E teremos que fazer disso um espetáculo, para que todos nos ouçam, com câmeras em todos os lugares, transmitindo nossas cores ao mundo, num reality show verídico e grandioso...

Um pouco antes do último socorrista embarcar na cápsula de resgate, percebi que o melhor da vida é quando ela se mescla à arte, sem imitá-la. Sozinho naquele cenário, pegou algumas roupas, olhou para a câmera e, inclinando seu tronco em reverência ao mundo, quase consegui ouvi-lo dizer “Por si no nos vemos luego, bueno días, buenas tardes y buenas noches!”... Depois disso, ele partiu, sem apagar as luzes.

Javier Fierro é chileno.

19 comentários:

  1. flavio.valsani@lvba.com.br14 de outubro de 2010 às 23:10

    Já tinha me emocionado com este assunto 33 vezes. Esta foi a trigésima quarta.

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  2. Emocionante!
    Dizem que Deus é brasileiro, mas tenho fortes motivos para crer que ele é chileno...
    ;)

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  3. regina.valsani@lvba.com.br14 de outubro de 2010 às 23:46

    Bravo Javi!
    Como Flavio, esta foi minha trigésima quarta.

    Abrazo abraços

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  4. Javier, muito bom o texto, carregado de emoções.
    Como disse, o patriotismo do povo, união, o fizeram vencer uma das histórias mais emocionantes, cheia de emoção que viví!

    Parabéns

    Pedro Prochno
    http://relacoes.wordpress.com

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  5. Incrível, Javi. Só posso dizer: viva Chile, mierda!

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  6. Cara...sem palavras para o seu texto....Apenas: sou sua fã!!!! E viva la vida e Chile!!!! Graças a Deus fui abençoada com uma meia chilena na família, Dudinha...agora, mais do que nunca, Viva Chile, Mierda!!!!!!

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  7. "Eu queria estar lá, junto com aquela gente, gritando o famoso 'SEACHE-I ELE-E!'..."

    Impossível não fazê-lo a partir de agora, hermanito... Ficou lindo.
    Besos

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  8. lindo, javito!
    amo você, hermano!

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  9. é, foi o meu sentimento igual. Amor ao Chile é algo que temos pelo simples fato de que gostamos do nosso país e o tratamos como NOSSO. Assim como faço com o Brasil e espero ver mais pessoas fazendo o mesmo.

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  10. Espetcular, Javi! O seu texto ficou emcionante assim como a história em si. Parabéns!

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  11. Javier,
    Sem palavras! Aliás, para que mais palavras? Bastam as imagens e as SUAS palavras. E tudo foi visto e dito!
    Parabéns!
    Beijos

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  12. Show de bola, Javi! Estilo único. Parece q as palavras são suas! Abs

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  13. Caro Javier:

    Parabéns pelo texto.Entendo muito bem suas palavras e essa sensaçao de vida e esperança, essa força que nos brinda essa terra tao bonita e tao hostil que é "nosso" Chile.
    Senti as entranhas desta terra tremer ao meu redor em fevereiro e só quem viveu isto e vive aqui sabe a importância e o significado destas 33 vidas.
    Espero que essa demonstraçao de uniao leve o Chile para "arriba y adelante".
    E com orgulho desta terra que me acolheu digo com toda força: "¡Viva Chile, mierda!"
    Juliana (ex-LVBAna)

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  14. Comentários lindos, que fizeram desse texto ainda mais especial!
    Obrigado a todos (mesmo!) y especialmente a mis dos capitanes!

    Saludos

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  15. Tudo a ver e sentir com o que você descreveu Javier. No entanto, gostaria que esse mesmo sentimento mundial e a cobertura jornalística existisse para lugares como o Haiti, onde a miséria é ampla e a vida insignificante. Essa mesma cobertura hard que aconteceu no Chile poderia ser realizada no país que já mencionei. Imagino sua comoção com seus patriotas e fico muito feliz por ter sido um final feliz. Parabéns pelo texto!

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  16. Quien lo conoce no podría tener dudas de estas encantadoras palabras. en cada frase, un nuevo sentimiento, un soplo de vida. muy lindo, javi!
    Dani - Yoko (ex-LVBAna, con orgullo)

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