quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Tecnologia: (adaptação) necessária

Na semana passada, depois de muito pesquisar, comprei um celular novo. O problema é que havia passado quase dois anos com o meu aparelho antigo e, mesmo na época da compra, ele era um celular simples. Assim, eu, uma pessoa que nunca fui muito ligada em tecnologia, tive que aprender a mexer nas novas funcionalidades e ainda usar o touchscreen.

Acho que a dificuldade de se adaptar às novas tecnologias está muito ligada à essência da relação entre o homem e as máquinas que, diferentemente das relações interpessoais, em que é necessário ceder e se adaptar, espera-se que as máquinas cumpram a sua obrigação, ou seja, obedeçam aos comandos do homem. Porém, para que isso aconteça, é preciso saber dar os comandos corretamente.

Naquela noite, comecei a mexer no celular assim que abri a caixa, sem nenhuma supervisão ou ajuda. Nem o manual eu tirei da caixa. O primeiro sentimento foi de medo. Será que eu vou estragar o aparelho novinho? Alguns toques depois fui tomada pela raiva. Essa porcaria não funciona!!! Eu estou mandando e ela não obedece!! É lógico que eu não estava “mandando” direito, caso contrário, o celular “obedeceria”. No ápice da raiva, quase tive um chilique. Por que inventei de comprar esse modelo? Estava bem com o outro. Não preciso de nada disso!

Depois dos ânimos um pouco mais controlados, fui tentando de outras maneiras e o celular foi correspondendo. Aí, passei para um estado de espírito parecido com o de uma criança curiosa que está descobrindo o mundo. E logo tinha descoberto várias funcionalidades e entendido que eu podia sobreviver com um aparelho que tem poucas teclas.

Essa história me fez lembrar outra experiência que tive com a tecnologia. Quando comecei a utilizar o Microsoft Office 2007 tive os mesmos sentimentos que quando troquei de celular: medo, raiva e curiosidade. Tenho que confessar que depois da curiosidade tive um pouco de desânimo. Afinal, era muita coisa diferente, eu não achava nem a opção “arquivo” na barra de ferramentas! Mas, por vontade de alcançar determinado resultado ou necessidade, eu fui me adaptando. É verdade que eu ainda não sou uma expert, mas, depois de alguns meses, já sabia o primordial e tinha segurança para trabalhar com as funções mais complexas.

Eu nunca tinha valorizado tanto essa mudança de versão do Office, mas, há poucos meses, tive que finalizar um relatório que envolvia tabela dinâmica do Excel e gráficos do PowerPoint num Office 2003. Meu Deus, o que é isso?? Como as pessoas conseguiam trabalhar desse jeito?Não é possível!

Até hoje não sei se seria possível fazer todas as coisas que eu queria por meio daquela versão. Achei mais fácil identificar as limitações dela (ou minhas por não saber dar os comandos) e conseguir um computador com a versão 2007, mesmo que por um tempo limitado. Assim, só fiz na versão antiga a parte mais simples e operacional do trabalho. Foi aí que eu entendi a quantidade de funcionalidades novas que a versão atual tinha, o quão melhor elas eram do que as passadas e que os softwares só são atualizados para nos oferecer mais praticidade!

A verdade é que, apesar de a tecnologia ser vista por muitos como um mal necessário, ela traz um bem “danado” para nossa vida. Não consigo imaginar como eu lidaria com a saudade de pessoas queridas que estejam distantes sem a Internet, com a minha vida financeira sem o caixa eletrônico ou com a minha alimentação sem o microondas.

Assim, todas as novas tecnologias trazem facilidades e novas possibilidades para o nosso cotidiano e acabam, mais cedo ou mais tarde, nós querendo ou não, se tornando muito importantes, e até, necessárias para a nossa vida a ponto de nós não lembrarmos como era possível viver sem elas.

Kátia Pula é relações-públicas e apesar de adorar novas tecnologias, tem pena de investir nas grandes novidades do mercado, pois sabe que em pouquíssimo tempo, já estarão obsoletas. Mas admite que uma troca de celular transforma o sentimento de frustração em entusiasmo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O amor e ódio por Barrichello

Talvez não exista na história do esporte brasileiro – e talvez não venha a existir – alguém que desperte sentimentos tão contrastantes em nossa torcida. O brasileiro ama o Rubinho. Porém, mais do que amá-lo, gosta mesmo é de falar mal dele. Falar mal do Barrichello é um esporte nacional. Afinal, são 17 anos com uma constante frustração, que começou a ganhar corpo após a morte de Ayrton Senna. Todo ano acontece a mesma coisa. Mas, todo ano, lá está a torcida, de novo esperançosa, de novo na expectativa. Firme e forte.

Neste domingo, em Interlagos, nosso Rubinho seguiu à risca o cardápio dos últimos anos. Nos animou no sábado para derrubar domingo. E, claro, após a prova, deu sua declaração bizarra do dia. Diz que saiu da pista com o “dever cumprido”. Eu fico me imaginando qual era esse dever: largar da pole e conseguir terminar a prova atrás do rival que saiu de 14º, além de perder a chance de ser campeão em solo nacional? Se era esse, ele não só cumpriu o dever como ganhou palma de ouro ao perder o segundo lugar no campeonato para Sebastian Vettel.

No meio do ano, escrevi uma coluna que falava da estrela de um piloto. Estrela? Sim, aquele “algo mais” que somente poucas pessoas têm. Aquilo que os diferencia da reles maioria – e isso vale para todos os setores da vida. Existe gente muito competente. Outros são oportunistas, ou têm sorte. Mas somente alguns são predestinados a brilhar.

Barrichello prova seu talento a cada corrida. A cada ano. Neste, em especial, mostrou uma maturidade ainda maior, mesclada com uma experiência que só a idade traz. “É um veterano com a vontade de um jovem de vinte e poucos anos”, me disse Nick Fry, o chefe de Rubens. De fato, o piloto da Brawn é elogiado às tampas por onde se passa no grid. Os mais jovens o invejam por ainda estar tão competitivo; os mais velhos não conseguem acompanhar o ritmo. O próprio Michael Schumacher declarou, após a corrida, que não deveria ter parado. Será que viu Barrichello disputando título e se arrependeu?

Tudo isso, no entanto, não adiantou para fazer com que Rubens Barrichello seja campeão. Ou, de forma mais humilde, para que apenas vença uma única vez a corrida de Interlagos. Vou ao GP do Brasil regularmente desde 1997. Na ocasião, Rubens estreava na Stewart e ainda era jovem. As críticas pós-corrida, no entanto, eram as mesmas de hoje. Em 1999, lembro-me quando ele ultrapassou Eddie Irvine, na Ferrari, na nossa frente. Comemoramos como se fosse gol.

A verdade é que amamos Rubinho. Amamos o que ele fez no sábado. E como conseguiu a pole nos segundos finais. Amamos sua caricata simpatia, suas bizarras declarações, sua sambadinha e até uma aparente teimosia em não aceitar a aposentadoria.

Mas também odiamos o Rubinho. Odiamos como ele freqüentemente chega atrás do companheiro de equipe. E como consegue encontrar erros que só ocorrem com ele. Odiamos suas bizarras declarações. Temos vergonha da sambadinha e imaginamos quando ele aceitará a aposentadoria e dará lugar a alguém mais jovem – incluindo o Bruno Senna.

Mas deixe estar. Em 2010, Barrichello estará conosco, novamente em Interlagos. Novamente vamos amá-lo no sábado. Odiá-lo no domingo. E criticá-lo na segunda.

Luis Joly é jornalista, escritor e assessor de imprensa da Nokia. Também é são-paulino, asmático e canhoto. Todo dia, ele está ao vivo no BrotherCast, ao lado de Fernando Thuler, no endereço www.qik.com/luisjoly. E o blog dele? jacksenna.blogspot.com

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Acaso ou predestinação?

Algumas pessoas torcem um pouco o nariz quando digo que sou professor universitário aos 24 anos – e olha que não é em qualquer lugar, mas sim em uma das melhores faculdades de Relações Públicas do Brasil, a Cásper Líbero. Mas, ainda assim, fiquei muito contente por ser convidado a escrever um post para o Dia dos Professores.

Não consegui encontrar nenhum artigo científico que dissesse que ser professor é hereditário, mas eu acho que já nasci com isso no meu DNA. Tenho pai, mãe, tio, tia, avô, avó, tias avó e bisavô professores. Cada em uma área diferente – primários, universitários e até diretor de escola. E mesmo com toda essa herança genética, só depois de dar minha primeira aula é que ficou claro para mim o que meus pais e avós tentaram me contar sempre, mas que eu nunca tinha efetivamente entendido sobre o “ser professor”. É, como eles já haviam me dito, inexplicável.

É claro que tem um lado oneroso, que fica bem claro em final de bimestre, quando tenho que corrigir centenas de provas e trabalhos, e também ao longo do ano, ao ter que despender muitas horas do fim de semana para preparação da aula. Mas – definitivamente – não é sobre o ônus de ser professor que eu quero tratar. Menos ainda nesse dia.

Eu assumi a disciplina de Gestão da Comunicação Interna na Faculdade Cásper Líbero no começo deste segundo semestre, depois de integrar por um ano e meio um projeto chamado "Professor do Futuro", desenvolvido na Faculdade para os egressos do curso de Relações Públicas. Não faz parte do Programa que o participante vire professor da instituição, mas, além dos meus estímulos genéticos, tive uma força do acaso.

Enquanto integrante do projeto, eu acompanhava a professora Viviane Mansi (e aqui faço questão de abrir esses parênteses para reforçar minha admiração pessoal e profissional por ela!) e, como seu assistente, auxiliava na correção de provas e trabalhos, na preparação de aulas e outras coisas. Acontece que ela ficou grávida e tirou licença-maternidade. Fui, então, convidado a assumir as turmas de terceiro ano na matéria até o final de 2009. Uma experiência – garanto – inenarrável.

Enfrentar três turmas de cerca de 50 alunos durante cem minutos cada não é fácil e em nada se assemelha aos seminários que eu tinha que apresentar na minha época de faculdade. A questão do “ser professor” passa pelo gerenciamento de 150 expectativas diferentes em relação ao que você tem para falar, pela dúvida constante se você está se fazendo entender e pela satisfação indescritível do brilho no olhar de um aluno ao te ouvir.

A questão do “ser professor” é conhecer e sentir todo o desgaste e estresse da profissão e ainda assim sentir-se bem depois de uma aula, com uma sensação de missão cumprida. E voltar na semana seguinte com a mesma disposição e fazer isso por um, dez, vinte anos. Ok, sei que só estou no meu primeiro ano, mas com minha experiência na Cásper a um bimestre do fim, não posso negar que gostei.

Bruno Carramenha é executivo de atendimento da LVBA Comunicação e não demorou muito para, depois de formado, voltar à Faculdade. No dia do Professor, comemora mais que a data; uma conquista pessoal.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Consulta Online?

Há um tempinho, fiquei doente. De um dia para o outro, minha garganta inflamou e eu quase não conseguia engolir ou falar de tão inchada que a amigdalite ficou. Fui ao Pronto-Socorro de um Hospital bacana de São Paulo e o médico olhou e medicou. Normal. Normal se eu não fosse filha de médicos. E pior, filha de pai otorrinolaringologista. Além de, quando criança, ser a única que conseguia falar a palavra sem enrolar a língua, o fato de ele ser um especialista em ouvido, nariz e garganta sempre me rendeu benefícios (além de muito orgulho), mas também me deixou mais exigente nas raras vezes em que preciso visitar um médico.

Antes de ir a qualquer especialista, sigo uma maratona de medidas que começou a ser construída com meu avô, que também era médico. Depois meus pais; depois meu Trabalho de Conclusão de Curso na faculdade para um Hospital; depois meu estágio em outro Hospital e meu encontro com o setor da saúde no trabalho, depois de formada. E que continua até hoje. E que eu adoro. O contato com médicos e variados assuntos de medicina e saúde me interessam cada dia mais. Então, antes de marcar uma consulta com um médico, procuro o nome dele no Google, depois no CRM, depois no CNPQ, depois em publicações na imprensa. Isso claro, quando não consigo indicação de alguém conhecido. Prefiro, sempre.

Antes de sair de casa e de morar tão longe dos meus pais, eles eram meus médicos fixos. Eles me examinavam e quando o problema lhes escapava às especialidades e ao conhecimento geral que têm do corpo humano, indicavam para algum amigo completamente confiável. Muito confortável isso, né? Pois agora eu moro há mais de mil quilômetros de distância. E me vejo com febre de 39ºC e com a amigdalite ardendo de dor. Fora a carência que bate de estar sozinha, vem a insegurança de confiar em um médico de Pronto-Socorro. “Será que ele olhou com atenção?”, “Será que o remédio que ele receitou é a melhor opção?”, “Será que ele sabe quanto está doendo?”, “Será que ele sabe o que está falando?”, “Por que ele não me deu um abraço e disse que vai ficar tudo bem?”. Pensei: meu pai saberia tudo isso com certeza. E ainda me daria muitos beijinhos, me pegaria no colo e diria que vou sarar loguinho.

Eis que o melhor médico do mundo, mesmo lá de longe, teve uma ideia. “Filha, liga sua webcam, desliga as luzes do quarto, pega aquela caneta-lanterna que eu te dei e uma colher. Vou examiná-la”. Perguntei se isso era possível e ele disse que com a minha ajuda, tudo daria certo. Fiz como ele pediu e, seguindo as instruções, fui examinada à la web 2.0. “Mais pra baixo, filha, empurra mais a língua e foca a luz mais no fundo... Isso... Vixe! Tá feio mesmo, heim filhona!”. Pois é. “Mas vai sarar. Amanhã você vai acordar bem melhor. Você vai ver!” E acordei. Juro.

O que é o advento das ferramentas da internet na vida de uma pessoa? Diversas vezes trabalhei pautas sobre tele medicina, o uso de robô em cirurgias, compartilhamento de imagens em tempo real, mas nunca parei pra pensar em uma possível consulta online com meu pai. Acho que o mais impressionante e interessante da internet e todas suas vertentes é transformar o que parece complexo e distante em algo simples e próximo da sua realidade.

Ficou faltando o abraço e o colo. Será que um dia chegamos lá com a tecnologia?

Mayra Martins é relações-públicas e executiva de atendimento da LVBA Comunicação. Filha e neta de médicos, na agência, ela já atendeu o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e hoje atende a Unimed-BH. O relacionamento constante com médicos faz com que ela se sinta um pouco médica também.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A mulher biônica trabalha e é mãe

Há o risco de que este artigo desperte interesse em apenas uma parcela de leitores: mulheres, executivas e com filhos, já que o assunto é a complexa conciliação entre trabalho e maternidade. Como ainda tem muita água para rolar, afinal meu filho, Eduardo, tem um ano de vida apenas, sei que preciso reservar muita habilidade para continuar a equilibrar os pratos. Com este oceano pela frente, resta então falar da minha experiência e percepções vividas até aqui.

O retorno ao trabalho é, sem dúvida, o mais complicado. O temido fim da licença-maternidade, assunto que frequentemente marca presença nas revistas femininas com dicas de especialistas e depoimentos de mães, tem mesmo razão de ser. A explicação está na lógica feminina, me acompanhem: os bebês nascem, mas não acompanham manual de instrução, fato que por si só é suficiente para desesperar qualquer mulher (sim, somos obcecadas por termos sempre o controle da situação). Com o tempo a mãe começa a sentir um pouco mais de segurança, descobre que a rotina é sua melhor aliada e que os bebês precisam dela. Até que, justamente quando ela acredita que está se adaptando àquele pequeno ser, precisa voltar a uma realidade difícil e competitiva que é o mercado de trabalho.

Foi uma fase em que equilibrei um turbilhão de sentimentos, sendo o principal deles a culpa por delegar a outra pessoa a tarefa de cuidar do meu filho. Mas houve também um receio de que a minha imagem profissional fosse prejudicada, que achassem que eu não seria mais tão dedicada quanto antes ou que não daria conta das responsabilidades por dispersão de foco. Segui duas estratégias, a primeira foi retomar conversas com a equipe para uma reintegração gradual dos processos de trabalho, e a segunda era a de evitar boletins diários sobre o meu filho. Confesso que é difícil não compartilhar deliberadamente sobre a evolução dele, não contar propositadamente sobre o que a “coisa mais linda da mamãe” tem feito de novo, mas segurei a onda e só enchia os ouvidos de quem pedisse notícias dele, juro!

O cansaço físico também é outro agravante desta fase de volta ao trabalho pós maternidade. No meu caso, que ainda amamentava, tive que ouvir do meu médico que eu tivesse consciência que havia virado mãe, apenas, e não a mulher biônica. “O corpo não aguenta a dupla jornada intensa e você precisa ir com calma, cobrar menos de si e pedir ajuda”. Este conselho foi fundamental para que as coisas se acalmassem. Do lado pessoal, contei com o apoio imprescindível do marido e de uma estrutura doméstica mais organizada, e do lado profissional com a compreensão e ajuda da equipe, que respeitou a minha retomada gradual ao ritmo de trabalho e logo souberam que podiam contar novamente comigo.

Caso tenha ficado alguma percepção que a experiência desta conciliação de tarefas e de papeis é ruim ou que eu a desaconselharia, sinto desapontar. É desafiador e difícil, mas o que não tem sido exatamente assim para a grande parcela de mulheres no mercado de trabalho? E como qualquer outro desafio pede equilíbrio como canta Leila Pinheiro na Serra do Luar: “...tudo é uma questão de manter, a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo...”.

Edna Lira, também conhecida por Dinha, é formada em Relações Públicas e gerente de atendimento na LVBA. Com 1,57m de altura, está conformada que não tem porte para ser mulher biônica.