quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Consulta Online?

Há um tempinho, fiquei doente. De um dia para o outro, minha garganta inflamou e eu quase não conseguia engolir ou falar de tão inchada que a amigdalite ficou. Fui ao Pronto-Socorro de um Hospital bacana de São Paulo e o médico olhou e medicou. Normal. Normal se eu não fosse filha de médicos. E pior, filha de pai otorrinolaringologista. Além de, quando criança, ser a única que conseguia falar a palavra sem enrolar a língua, o fato de ele ser um especialista em ouvido, nariz e garganta sempre me rendeu benefícios (além de muito orgulho), mas também me deixou mais exigente nas raras vezes em que preciso visitar um médico.

Antes de ir a qualquer especialista, sigo uma maratona de medidas que começou a ser construída com meu avô, que também era médico. Depois meus pais; depois meu Trabalho de Conclusão de Curso na faculdade para um Hospital; depois meu estágio em outro Hospital e meu encontro com o setor da saúde no trabalho, depois de formada. E que continua até hoje. E que eu adoro. O contato com médicos e variados assuntos de medicina e saúde me interessam cada dia mais. Então, antes de marcar uma consulta com um médico, procuro o nome dele no Google, depois no CRM, depois no CNPQ, depois em publicações na imprensa. Isso claro, quando não consigo indicação de alguém conhecido. Prefiro, sempre.

Antes de sair de casa e de morar tão longe dos meus pais, eles eram meus médicos fixos. Eles me examinavam e quando o problema lhes escapava às especialidades e ao conhecimento geral que têm do corpo humano, indicavam para algum amigo completamente confiável. Muito confortável isso, né? Pois agora eu moro há mais de mil quilômetros de distância. E me vejo com febre de 39ºC e com a amigdalite ardendo de dor. Fora a carência que bate de estar sozinha, vem a insegurança de confiar em um médico de Pronto-Socorro. “Será que ele olhou com atenção?”, “Será que o remédio que ele receitou é a melhor opção?”, “Será que ele sabe quanto está doendo?”, “Será que ele sabe o que está falando?”, “Por que ele não me deu um abraço e disse que vai ficar tudo bem?”. Pensei: meu pai saberia tudo isso com certeza. E ainda me daria muitos beijinhos, me pegaria no colo e diria que vou sarar loguinho.

Eis que o melhor médico do mundo, mesmo lá de longe, teve uma ideia. “Filha, liga sua webcam, desliga as luzes do quarto, pega aquela caneta-lanterna que eu te dei e uma colher. Vou examiná-la”. Perguntei se isso era possível e ele disse que com a minha ajuda, tudo daria certo. Fiz como ele pediu e, seguindo as instruções, fui examinada à la web 2.0. “Mais pra baixo, filha, empurra mais a língua e foca a luz mais no fundo... Isso... Vixe! Tá feio mesmo, heim filhona!”. Pois é. “Mas vai sarar. Amanhã você vai acordar bem melhor. Você vai ver!” E acordei. Juro.

O que é o advento das ferramentas da internet na vida de uma pessoa? Diversas vezes trabalhei pautas sobre tele medicina, o uso de robô em cirurgias, compartilhamento de imagens em tempo real, mas nunca parei pra pensar em uma possível consulta online com meu pai. Acho que o mais impressionante e interessante da internet e todas suas vertentes é transformar o que parece complexo e distante em algo simples e próximo da sua realidade.

Ficou faltando o abraço e o colo. Será que um dia chegamos lá com a tecnologia?

Mayra Martins é relações-públicas e executiva de atendimento da LVBA Comunicação. Filha e neta de médicos, na agência, ela já atendeu o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e hoje atende a Unimed-BH. O relacionamento constante com médicos faz com que ela se sinta um pouco médica também.

6 comentários:

  1. Ahahahahahaha. Adorei esse post. Primeiro, não consigo pronunciar otorrinolaringologista. Segundo, achei sensacional a consulta à la web 2.0.
    Só falta consulta pelo twitter também!

    Terceiro, pai é pai :)

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  2. Um abraço virtual para você! Excelente o post.

    bjs

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  3. Pois eu sinto umas dores esquisitas no peito.
    Acredito que a senhorita poderia, se não curar, aliviá-la. Sendo RP ou quase médica. ;)
    Bastaria uma dose de sua cia.

    Saudades!
    Amei o texto. Tá excelente!

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  4. Isso me lembra um episódio de House, em que alguns médicos fazem uma consultório online e acabam rolando uns problemas que só assistindo pra saber! Mas isso é o que a era digital faz né? Dr. Google! Ótimo texto, May!

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