quinta-feira, 21 de junho de 2012

Fazendo algo com paixão

Fui convidado pela LVBA para escrever um post no 806 sobre o livro do Chaves, que recentemente foi publicado em uma nova edição. O texto abaixo é resultado de um pensamento vivo, de frases soltas e ideias que quis escrever. Espero que curtam – e leiam até o fim. J

Foi na faculdade, no início dos anos 2000, a partir da amizade com Fernando Thuler, que surgiu a primeira ideia de fazer algo sobre o Chaves. Sim, o Chaves, do SBT. Vítima de eternas piadas e preconceitos, Chaves, àquela altura, já era exibido há quase vinte anos. Menos do que os quase trinta a serem completados em 2014, mas ainda muito.

Hoje, falar de Chaves é bacana, é engraçado. Os dois maiores seriados de Roberto Gómez Bolaños, criador dos programas e intérprete do menino Chaves, nasceram no início dos anos 1970. Em 1970, surgiu o seriado “El Chapulín Colorado”, enquanto “El Chavo” veio no ano seguinte, em 1971. Ambos foram resultados de esquetes que Bolaños havia criado anteriormente, em passagens por uma agência de publicidade e um programa de variedades na TV.

Fernando Thuler e eu – mais tarde o amigo Paulo Franco juntaria-se ao projeto – não tivemos vida fácil. Afinal, como seria possível fazer um TCC – o temido Trabalho de Conclusão de Curso – abordando um tema tão “chulo”? Sim, na visão de muitos alunos, falar sobre Chaves no TCC era apenas uma forma de levar o projeto “nas coxas”.

Mas o que eles não perceberam foi a paixão em nossos olhos. Com a palavra, nosso orientador do TCC, Marcelo Rollemberg:

“Quando Luís Joly me procurou, no começo de 2003, para me convidar a orientar o Trabalho de Conclusão de Curso – o sempre temido e instigante TCC – de seu grupo, confesso que fiquei em dúvida quanto ao tema escolhido. Ele e Fernando Thuler – mais tarde também entraria Paulo Franco – queriam fazer um livro-reportagem sobre o Chaves. Quem? O Chaves. O do SBT? O próprio. Em um primeiro momento, tomado talvez de uma arrogância intelectual que pouco ou nada tem a ver comigo, mas que vez por outra nos pega desprevenidos, não achei a ideia tão boa assim. Ainda mais para um livro-reportagem. Mas essa sensação deve ter durado um minuto. No minuto seguinte, já começava a me convencer de que, sim, a ideia era boa e de que aqueles rapazes tinham condições de fazer um belo trabalho a respeito.”

Sim, escolhemos um tema que nos despertasse a paixão. Assim deve ser na vida. A mesma paixão que levou Bolaños a criar suas séries, ou a que faz um arquiteto concluir um projeto, um piloto vencer uma corrida. Nada feito sem paixão é bem feito. Aos olhos externos, pode até parecer bom. Mas, internamente, você sentirá um vazio imenso ao concluir um projeto feito sem paixão.

Quando Fernando Thuler e eu decidimos fazer um livro-reportagem sobre o Chaves – o primeiro publicado no Brasil -, tínhamos paixão em cada frase. Deu trabalho, claro. Pesquisar sobre Chaves é complicado. Estamos falando de um assunto antigo, cheio de incertezas, boatos, lendas e mistérios. Decifrar o que é verdade ou o que é história é difícil. Mas a apuração é a essência do jornalismo. E, claro, somos apaixonados por jornalismo.

Eu me lembro quando o livro foi impresso. Trabalhava em outra agência quando a caixa chegou. Vinte livros, exemplares do autor. A agência parou para ver. Todos, menos eu. Queria ver a capa apenas quando estivesse com o Fernando. Tiramos a foto abaixo. Os funcionários segurando o livro. Quem tirou a foto fui eu. Mas, quase de olhos fechados.

Apenas fui focar na capa do livro quando encontrei com o Thuler, mais tarde naquele dia. E tive um prazer que jamais havia sentido. O resultado de tanto trabalho, e insistência para conseguir uma editora, dois anos e meio de portas na cara, professores rindo, entrevistas, suor, estava tudo ali, nas minhas mãos. As lágrimas vieram, a alegria de fazer alguma diferença no mundo. Pequena, ínfima, irrisória. Mas uma diferença.

Dizem que um homem deve plantar um filho, escrever uma árvore e ler um livro – não necessariamente nessa mesma ordem. J De qualquer forma, dois já foram.

Meses depois do lançamento, conferindo um fórum de internet para fãs de Chaves, me deparei com a seguinte declaração de um fã de 12 anos: “este foi o primeiro livro que li com muito prazer. Foi a primeira vez que li algo que realmente queria”. Poxa, eu estava lá, estimulando a leitura de jovens brasileiros? Quem sou eu pra isso?

Não sou ninguém. Sou só um apaixonado.

4 comentários:

  1. Muito bom hein! Me emocionei ao ler o post! Que orgulho do meu chefe! Parabéns! Que você continue fazendo as coisas com essa paixão!
    bjs

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  2. Que lindo, jojo! o mundo precisa de mais apaixonados como vc!

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