quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um balanço da temporada de F-1


Muitos de vocês não sabem, mas nas horas vagas sou um apaixonado por F-1. Portanto, aproveito o espaço para falar um pouco sobre o tema. Com a temporada 2010 da Fórmula 1 encerrada, é hora de fazer um balanço geral. E nada melhor do que fazer isso dividido em tópicos – os mais quentes do ano, para o mundo e para os brasileiros:

1. A queda de rendimento de Felipe Massa
Muito se falou no ano sobre Felipe Massa. Infelizmente, pouco foi bom. Massa chegou a liderar o campeonato, de forma breve, na terceira corrida do ano. Mas, de lá pra cá, foi uma queda sem fim. Terminou apenas dois pontos a frente de Nico Rosberg, da Mercedes. Foi o último das três maiores equipes do ano. Protagonizou o pior momento da temporada, quando cedeu a liderança para Fernando Alonso, no GP da Alemanha. Passou boa parte do ano apagado, sem brilho e claramente frustrado.

Alguns chegaram a questionar se o desempenho de Massa não teria sido afetado após o acidente que ele sofreu no ano passado. Eu duvido. O piloto diz que o principal problema foi o aquecimento nos pneus, algo que ele teve dificuldades de adaptação. Acredito, mas não é este o principal motivo de sua performance limitada. A verdade, como já falei no ano, é que Fernando Alonso é mais piloto que Felipe Massa. Puro e simples. O asturiano tem mais braço, na média geral. E o resultado foi um resultado na tabela muito melhor de Alonso. Talvez Massa tenha sofrido um pouco mais devido aos problemas com os pneus e à falta de sorte. Mas, mesmo sem isso, ainda acredito que ele teria terminado atrás do espanhol no fim do ano. E, provavelmente, Massa percebeu ao longo da temporada que não estava conseguindo acompanhar o rival. E, claro, isso atrapalha ainda mais.

2. O jogo de equipe da Ferrari (e a suposta falta dele na Red Bull)
Alguns andam colocando a Red Bull no altar pelo fato de ter privilegiado o esporte e não ter criado jogo de equipe. Ok, concordo que a equipe austríaca é incrivelmente mais ética que a Ferrari, que fez aquele papelão mencionado acima. Porém, ela também fez um jogo de equipe, muito menos acintoso, mas com bastante força psicológica. A equipe, desde o começo do ano, deixou clara sua predileção por Sebastian Vettel. Mark Webber sempre lutou contra muitos por lá para conseguir seu espaço. Não houve um jogo de equipe claro – Webber sempre teve as mesmas condições de Vettel. Mas, ainda assim, acho que ele foi prejudicado, no fim das contas.
Em 1987, Nelson Piquet teve que brigar na Williams para superar Nigel Mansell e toda a equipe, que preferia o Leão vencedor. Webber pode não ter passado pelo mesmo sufoco, mas certamente não era o preferido do time. E, agora, com Vettel convenientemente campeão, a Red Bull levanta a bandeira de esportividade. Menos, né?

3. Michael Schumacher, a decepção
De todas as expectativas que existiam antes da temporada 2010 começar, talvez a maior de todas fosse o retorno mais esperados dos últimos anos. Michael Schumacher, o gênio, de volta à F-1, pela equipe campeã, a Mercedes. Tinha tudo para ser incrível. Passada o ano, Schumacher não só decepcionou a todos os fãs como não conseguiu sequer um lugar no pódio. Pior, muito pior. Foi derrotado pelo companheiro de equipe na maioria das corridas. Seria o peso da idade, ou o multicampeão sentiu a diferença da tecnologia dos carros 4 anos depois de parar? Não sabemos ao certo. Mas, de qualquer forma, uma coisa ficou clara: Schumacher é supervalorizado. O alemão é um dos melhores pilotos que já existiu, mas foi campeão, na maioria das vezes, com um carro bastante superior aos demais. Demérito nisso? Claro que não. Ayrton Senna fez o mesmo. Desde 1991, quando correu ao lado de Nelson Piquet, Schumacher só teve companheiros de equipe medíocres – ou que corriam por contrato. Nico Rosberg não é o melhor piloto do grid, mas é muito bom. Há muitas especulações, mas o que fica é que, para Schumacher, dar uma de gênio pede também um bom carro.

4. Bruno Senna e as equipes nanicas
A Hispania é possivelmente um dos piores carros de F-1 já construído. Proporcionalmente, claro, é mais moderno e tecnológico. Mas seus resultados são sofríveis. Qualquer um que passe pelo cockpit desse carro terá seu currículo manchado. Qualquer um, menos Bruno Senna. A imprensa, como no ano passado, caiu matando em cima do sobrinho de Ayrton. Da mesma forma foi no ano retrasado, quando ele quase parou na Brawn.
Senna pode parar na Lotus. Mas a Lotus pode parar na Renault. E a Renault é uma equipe limitada hoje.

5. A nova Fórmula 1
A F-1 vai cada vez caminhando para o oriente, para terras até então inconcebíveis para se ter uma corrida de Fórmula 1. Coreia, Malásia, Turquia, Emirados Árabes Unidos...A lista não para de crescer. A F-1 está migrando para novos rumos. As pistas, erguidas em tempo recorde com bilhões de dólares, trazem todo o conceito de modernidade. Abu Dabi era um exemplo. Sair da pista não mudava em nada, afinal todas as áreas de escape eram de cimento. O mesmo não acontece em pistas mais tradicionais, onde a famosa caixa de brita impede qualquer carro de continuar na prova.
Nesse cenário, o alemão Herrmann Tilke é a nova vedete. Ele desenhou todas – todas – as pistas modernas da categoria. Coincidência ou não, a maioria delas não possui bons pontos de ultrapassagem. Quando será que Bernie Ecclestone vai mudar de engenheiro?

6. Expectativas para 2011
Parece que a temporada este ano passou mais rápida que as demais. No ano que vem, não há muitas novidades no grid, além da mudança de pneus de volta para a Pirelli. A maioria dos pilotos será a mesma. Nos últimos cinco anos, cinco campeões diferentes: Fernando Alonso (06), Kimi Raikkonen (07), Lewis Hamilton (08), Jenson Button (09) e Sebastian Vettel (10). Quem será o campeão de 2011? Eu acho difícil termos um novo nome.

E você?

Luís Joly acompanha F-1 desde quando era pequenino, e viu Ayrton Senna na Lotus preta. De lá pra cá, torceu pelo tri de Piquet, vibrou e chorou com Senna, odiou e protegeu Barrichello, quase morreu quando Massa perdeu na última curva e adora pastel de feira. Seu blog? http://jacksenna.blogspot.com/

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O prazer da simplicidade. Verdade óbvia?

Inicio minha reflexão sem contestar a qualidade de vida dos grandes centros urbanos, o desafio da competitividade, as inúmeras informações, o estresse gerado pela corrida diária e desenfreada a que a grande maioria de nós está exposta. Afirmar que os ideais de prazer estão sempre ligados a uma vida pacata e simples, no campo e perto da natureza, não faz parte da minha crença. Esses ideais estão ao meu alcance neste exato momento, basta tentar.


Nasci em São Paulo, sou paulistana da gema e, mais do que isso, vivo em um ritmo acelerado, em constante transformação e inovação por pura opção! Só estou aprendendo, e sem vergonha de fazer tal afirmação, a ter mais equilíbrio em tudo o que faço, gerando uma mudança comportamental importante em meu estilo de vida. Cada dia mais compartilho da opinião do filósofo grego Epicuro, que acreditava no prazer como estado de espírito baseado na harmonia e simplicidade.


São pequenas poções diárias de magia – como assim chamo - como sentar no terraço ao fim do dia, sentir a brisa fresca da noite batendo no rosto, olhando as estrelas (sim ainda consigo enxergá-las em diversas noites de São Paulo) e dar um imenso suspiro! Um pensar diferente de como o dia foi maravilhoso e o que parecia impossível não foi, porque sempre encontramos a melhor solução e quanto maior o desafio, maior a motivação.


Ou vivenciar, a partir dos diferentes sentidos, novas fontes de prazer. Lembro-me bem quando li “O Perfume”, de Patrick Süskind, na década de 80 e já reli outras vezes. A cada parágrafo do romance, respiro e sinto os diferentes odores, mergulhando – é claro – nos cheiros que mais me agradam.


Os aromas nos remetem a diversos momentos de nossas vidas: o verde com cheiro de mato da infância, férias, fazenda, plantações de eucaliptos. Ou uma degustação de vinhos na qual podemos desfrutar de uma explosão de sensações tão significativas. Amadeirado, frutal, canela, café, chocolate...Recentemente tive uma experiência inesquecível em uma vinícola. Durante uma hora percorri as videiras, entre muitas lembranças, culminando nas reuniões típicas de domingo, com as avós cozinhando e toda a família reunida. Puro prazer!


Mas reaprender a simplificar dá trabalho. E como dá! Colocar de lado uma série de atitudes que antes pareciam ter tanto valor e de fato não têm. Tudo o que gera sabedoria, e envolve processo de mudança, exige tempo e vontade. E quem vai querer esperar a vida passar distraidamente, desperdiçando oportunidades que poderiam gerar momentos tão prazerosos?


Termino, compartilhando algumas reflexões sobre a simplicidade que li nestes últimos tempos.


"No caráter, na conduta, no estilo, em todas as coisas, a simplicidade é a suprema virtude." (Henry Wadsworth Longfellow)

"A simplicidade não nasce espontaneamente, mas é alcançada através de um processo de desenvolvimento extenso e complicado." (Lohse)

“A simplicidade é o último degrau da sabedoria” (Khalil Gibran)


"Simplicidade, simplicidade, simplicidade! Tenha dois ou três afazeres e não cem ou mil; em vez de um milhão, conte meia dúzia... No meio desse mar agitado da vida civilizada há tantas nuvens, tempestades, areias movediças e mil e um itens a considerar, que o ser humano tem que se orientar - se ele não afundar e definitivamente acabar não fazendo sua parte - por uma técnica simples de previsão, além de ser um grande calculista para ter sucesso. Simplifique, simplifique." (Henry Thoreau)

"Simplicidade é a realização máxima." (Chopin)

Valéria Allegrini, diretora de Atendimento, em processo constante de mudança e descobrindo, a cada dia, o prazer da simplicidade.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Nas Asas do Medo

Desde que me entendo por gente sempre tive pavor de altura, o que muitas vezes me causou sérios problemas e constrangimentos. Não me sai da lembrança uma cena de infância: para agradar os amiguinhos da rua em que morava em Ribeirão Preto, decidi subir com meus companheiros de aventura no telhado do caramanchão* da casa onde vivia para fazer uma guerra de limões.

A batalha foi árdua. Não a dos limões - que me custou um nariz ensanguentado -, mas para me convencerem a descer de uma altura de não mais de três metros. Foi minha primeira experiência de pânico verdadeiro, aquela sensação de terror que petrifica. E assim eu fiquei em cima do caramanchão, palavra em desuso que já soava estranha naquela época e hoje me traz recordações constrangedoras. Não desci. Após inúmeras tentativas, fui “salva” por um vizinho que assumiu o papel de herói e me retirou em seus braços daquele lugar aterrorizante.

Naquele momento, prometi a mim mesma que jamais voltaria a ficar nas alturas. Por isso, nunca tive o sonho de qualquer menina dos anos 70 de ser aeromoça – sim, gente, estas profissionais ainda não era chamadas de comissárias, palavra que, por sinal, parece ter muito menos glamour.

Assim, meus sonhos profissionais sempre foram muito “pé no chão, falando literalmente. Optei pelo curso de Comunicação – Relações Públicas sem imaginar o quanto teria que desafiar com maestria o meu medo na minha rotina de trabalho.

Aliás, comecei a pensar neste tema em uma viagem recente. De avião, é claro. Até para que o pavor se diluísse durante aquelas duas horas de voo, comecei a relembrar e dar boas risadas de todas as aventuras e desventuras que passei desde que comecei a trabalhar na LVBA, há 20 anos.

São tantas histórias no ar que sinto até orgulho de nunca, jamais, ter perdido a classe e a compostura como fiz na época do caramanchão. Ao longo dos anos, passei por verdadeiros tratamentos de choque pelos céus desse mundo. No início de carreira, sempre fui escalada para cobrir eventos dentro e fora do país. E lá ia eu, orando – apesar de pouco crente –, para as mais diversas paradas.

A grande questão, em alguns momentos, não é voar, mas em que tipo de aeronave, se algumas podem ser chamadas assim. Conheço inúmeras e não há psicanalista que me convença de que meu medo não é real ao estar sentada numa micropoltrona de um Bandeirantes num dia de chuva, que mais sacudia do que voava. E a sensação – compartilhada por um grupo de jornalistas – não é melhor em um Brasília.

Mas a pior viagem da minha vida foi a bordo de um Fokker 50, rumo ao interior de Minas Gerais. O que seria um voo de duas horas transformou-se num inferno de quatro horas e meia. O pânico e o mal-estar não tomaram conta apenas de mim, mas de todo o grupo de executivos que eu acompanhava. Só que esta confissão foi feita apenas em solo, quando muitos precisaram de uma ajuda extra para se recompor, inclusive eu.

Esses “causos” aconteceram há uns quinze anos, pelo menos. E atualmente sou muito grata à evolução do mercado de aviação, principalmente no Brasil. Hoje, mesmo para os lugares mais longínquos, o máximo que terei que encarar é a nova geração de aviões turbo-hélices, que, segundo informações do setor, são extremamente seguros. Dados que não me tranquilizam totalmente ao passar por uma turbulência ou por problemas mecânicos.

Escrevo estas linhas já com as malas prontas para as próximas viagens profissionais e pessoais que acontecem até o fim do ano. Claro que o medo de altura e o desconforto com aviões persistem, sejam eles ultramodernos ou não. Também tenho certeza que é um problema que me acompanhará por toda a vida. No entanto, essas “andanças” pelos ares têm um sabor especial para mim: cada voo é um desafio bem-sucedido. Jamais deixei que o pânico de altura paralisasse minha vida e meu crescimento profissional, a exemplo do que ocorreu naquele dia em um caramanchão do interior de São Paulo.

Adriane Fregonesi Froldi é diretora de atendimento da LVBA e participa de vários programas de milhagem, apesar do medo de avião.

*Segundo o dicionário Michaelis, caramanchão é: “Construção ligeira, para que nela se enrosquem trepadeiras, nos jardins ou pomares ou obra exterior avançada. Variação: caramancheio, caramanchel e carramanchão”.