quinta-feira, 18 de junho de 2009

A decisão do STF e suas consequências para a sociedade

A discussão sobre a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo no Brasil divide opiniões e acirra ânimos. Na verdade, o cerne da questão não é ou não deveria ser a exigência do diploma, mas a qualidade do ensino. No entanto, nós, jornalistas profissionais, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), acabamos de perder o mínimo da regulamentação, ou seja, a garantia de que é necessário ter formação/graduação para a produção de conteúdo jornalístico, conquista brasileira que chega a quatro décadas. Por enquanto, vou me ater ao mínimo.

Com a decisão, perdem os profissionais, perdem os meios de comunicação de massa e, principalmente, perde a sociedade. A informação de qualidade, de interesse público, se tornará bem cada vez mais escasso. Democratização e ética no jornalismo então, nem se fala. Se, com a presença de jornalistas formados nas redações já era difícil garantir a produção e divulgação de informações com ética e voltadas ao interesse coletivo, após a decisão do STF, a tendência é que esse contexto piore sensivelmente.

Como diz o ditado popular “as porteiras estão completamente abertas”. Sem a menor resistência e “os entraves” da lei, os donos dos meios de comunicação de massa – pequenos, médios ou grandes – poderão contratar qualquer pessoa que se arvore a produzir conteúdo jornalístico, com ou sem formação específica. Afinal, isso parece não importar! A mídia tem um grande poder nas mãos e agora com total liberdade para usá-lo, sem a presença de profissionais que avaliem com propriedade e ética sua importância para a sociedade.

Bom, a decisão é muito recente e minhas avaliações podem não se concretizar. Mas o cenário, realmente, não é bom. O debate agora deve partir para algo mais complexo: a qualidade do ensino dos cursos de jornalismo que restarem. Qualidade esta que, com a decisão do STF, também tende a cair.

Leia mais: Somos iluminados?

Benedito Teixeira terminou o curso de Jornalismo há quase 11 anos. Ex-sindicalista, há pelo menos uns três anos brigou com a profissão. É muito pouca grana e satisfação pra muito trabalho. Pensa em terminar seus dias dando aula numa academia de ginástica.

2 comentários:

  1. Benê, você já sabe a minha opinião, mas vamos lá.

    Primiero: a Lei de Imprensa está longe de ser uma conquista brasileira já que foi criada pela ditadura militar não para beneficiar os jornalistas, mas sim para controlá-los.

    Segundo: a idéia de que "qualquer um" poderá virar jornalista me parece um receio um tanto infantil dos colegas aqui, no twitter, nos blogs etc já que vivemos em um tempo bem revolucionário em termos de mídia e comunicação. As relações mudaram e temos que repensar tudo. O diploma é mais uma peça nessa engrenagem e deveria ser uma das preocupações e não A preocupação. O mercado está mudando e há questões bem mais sérias envolvidas. (outra coisa, do jeito que todo mundo fala parece que o mundo inteiro vai sair correndo para "virar jornalista")

    Terceiro: essa formação específica, aqui no Brasil, é bem rasa e pelo que eu vejo não diferencia muito os profisssionais especializados em jornalismo de outros formados em comunicação social como publicidade, relações públicas, rádio e TV. Tenho amigos que trabalham como jornalistas e que não possuem formação específica em jornalismo. Nem por isso deixaram de cumprir os requisitos básicos da profissão, muito menos deixaram de ser éticos. Isso, aliás, não é exclusividade de jornalista.

    Quarto: o fato do diploma não ser mais obrigatório não é sinônimo de queda de qualidade. Aliás, me apresenta teu MTB, ninguém me mostrou teu diploma, não tenho certeza se vc é jornalista =P (só pra descontrair). Qualidade não é sinônimo de diploma. Podemos sentar e colocar na mesa um dezena de veículos desenvolvidos por profissionais formados. Entre eles encontraremos exemplos de má qualidade certamente. Também podemos escolher entre veículos alternativos feitos por pessoas não especializadas e com formações diferenciadas, mas que apresentam um excelente conteúdo e técnica jornalística. Isso já existe hoje. Esse medinho que escutos dos "blogueiros que vão se chamar de jornalistas"... pelo amor de Deus. Já existe uma penca deles que se chama de jornalista e outra penca que odeia ser chamado de jornalista. A queda do diploma não vai mudar nada.

    Quinto: o poder dos donos dos jornais...Eles têm poder e ponto. O diploma protege os profissionais? Eles impedem que os donos da mídia façam o que querem? Você realmente acha que em Xique-Xique o jornalista com diploma faz matéria isenta porque tem formação específica? Ou porque aprendeu "ética" na faculdade? Que o dono do jornal o respeita pq ele tem diploma?

    Sexto: Ou as pessoas querem ser jornalistas ou não. Se as pessoas acham que o diploma é garantia de emprego... so sorry. Não é. Eu, por exemplo, preferia que o curso fosse de Comunicação Social - só, sem ter que escolher uma especialização. Eu queria ter feito aulas de rádio e TV também, mas eu tinha que escolher. Acabei fazendo RP porque senão não poderia exercer a profissão. Se RP não fosse regulamentada e o diploma não fosse obrigatório eu teria feito antropologia ou ciências sociais. Ainda assim seria uma profissional competente. Te garanto isso. Eu valorizo o meu tempo de faculdade nos meus primeiros 2 anos do básico. Os outros 2 de especialização foram pior que tortura chinesa.

    Sétimo: Acho que vários argumentos são válidos na defesa da faculdade de jornalismo, mas não na obrigatoriedade do diploma.

    Ufa, falei demais. Não se desespere. O mundo está mudando. É só a gente mudar com ele.

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  2. *profissionais*uma dezena*escuto*piores*

    Ai que saco não poder revisar depois de postado...

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